JORNAL “O COMMERCIO” (ALFREDO BORGES) IRONIZA A CÂMARA MUNICIPAL

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TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1913)

− Tlim, tlim, tlim…

− Quem fala?

− De Patos.

− E’ a futura estação da Lagôa Formosa que està falando?

− Sim, senhor…

− Faz o obsequio de chamar o sr. Pandego ao apparelho!

− Como…? Não comprehendi!

− Faz, por favor, de chamar, ao telephone, o sr. Pandego, aquelle que me mandou d’essa estação um recado, domingo passado…

− Não sei mais de quem se trata, pois, neste arraial, ninguem è conhecido por esse nome.

− Pois bem, então, faz o favor de guardar ahi a seguinte resposta que elle, naturalmente, voltará para procural-a.

− Sim, com o maior prazer.

Olhe, Sr. Pandego, si o Sr. como, ao que parece, doído (com í agúdo) pela commissão constructora do telephone¹ e pela Camara, não se houvesse baptisado com um pseudonymo que tão bem o qualifica (ou caracteriza) póde crer que ou o tomavamos por bobo ou por coió sem sórte.

V.S. tendo tomado o pião na unha e querendo então tomar as dores pela Camara, diz que antes d’ella entrar com o auxilio votado − nada tem com a creança e sò como abelhuda, então digna de critica (!), se poderia entrometter-se em serviços de outrem.

Então a Camara não tem nada que ver com serviços mal feitos na cidade, com serviços que prejudicam o seu embellezamento?

De duas uma: ou a Camara (si assim procede, o que não posso crer) é inepta, desmazelada, ou V.S. está dizendo a trouxe e mouxe… por pandega.

− Isso não é calourismo, maledicencia e nem bobagens, isso è sabença.

− Saiba que nunca neguei, para qualquer melhoramento, o pouco de que posso dispor, dou e pago logo para poder gritar sem acanhamento, e justamente reclamar (apezar de não poder dar muito) quando os pandegos pandegam com a gente.

Pelo que vejo VS paga muito!

Si não paga parece que é pago.

A sua pandega e coiósismo vai a ponto de pensar que pessôas que não sabem falar, não pódem conhecer modos e meios de administração…

Isso não será ingenuidade de sua parte também?

De facto, eu, como mais lettrado, sob meu nome e responsabilidade não sou ingenuamente, capaz de vir de publico censurar a demora da actual administração, na canalização d’agua, pois, sei que serviços d’esta ordem não se effectuam com pressa, ás carreiras e sem criterio.

Sei que se effectuam com dinheiro, havendo primeiro bôa vontade.

Sei tambem que o Dr. Marcolino² diz estar empenhado na realização d’esse melhoramento; mas, o povo que está gemendo sob o peso de pótes e latas, no caminho dos corregos, á procura d’agua, só enxerga o saldo dos balancetes, o numero de apolices que estão no banco, e a demora do serviço, finalmente, a secca, a falta d’agua.

Eis toda a razão do barulho; e não sou eu quem ha de dizer que elle não tem razão!

E com certeza o povo (na abalizada opinião de VS) tambem paga pouco, pois, è o que mais grita!…

Perguntando ao Alfredo, como eram estas coisas, elle me disse que a demora na compra do relogio³ foi a difficuldade no recebimento das quantias subscriptas por alguns pandegos (sem alusão); mas, obtido o dinheiro, foi elle logo comprado, estando já na cidade, embóra ainda não esteja regulando.

− Bom, Sr. Agente, transmitta ao Pandego.

− Quem manda?

− Diga a ele que é o

K. LOURO.

− Até á volta.

Tlim, tlim, tlim.

* 1: Leia “Anunciados Grupo Escholar, Telephone e Agua Canalizada”, “Instalado o Telefone”, “Telefonia: Da Manivela à CTBC”.

* 2: Na época, o Dr. Marcolino Ferreira de Barros era o Agente do Executivo da Câmara Municipal, o correspondente ao atual Prefeito.

* 3: Leia “Sobre a Compra de um Relógio Para a Torre da Antiga Matriz − 1 a 3”.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Pedidos − Resposta pelo telephone sem fio” na edição de 02 de novembro de 1913 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Início do texto original.

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