TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1913)
− Tlim, tlim, tlim…
− Quem fala?
− De Patos.
− E’ a futura estação da Lagôa Formosa que està falando?
− Sim, senhor…
− Faz o obsequio de chamar o sr. Pandego ao apparelho!
− Como…? Não comprehendi!
− Faz, por favor, de chamar, ao telephone, o sr. Pandego, aquelle que me mandou d’essa estação um recado, domingo passado…
− Não sei mais de quem se trata, pois, neste arraial, ninguem è conhecido por esse nome.
− Pois bem, então, faz o favor de guardar ahi a seguinte resposta que elle, naturalmente, voltará para procural-a.
− Sim, com o maior prazer.
− Olhe, Sr. Pandego, si o Sr. como, ao que parece, doído (com í agúdo) pela commissão constructora do telephone¹ e pela Camara, não se houvesse baptisado com um pseudonymo que tão bem o qualifica (ou caracteriza) póde crer que ou o tomavamos por bobo ou por coió sem sórte.
V.S. tendo tomado o pião na unha e querendo então tomar as dores pela Camara, diz que antes d’ella entrar com o auxilio votado − nada tem com a creança e sò como abelhuda, então digna de critica (!), se poderia entrometter-se em serviços de outrem.
Então a Camara não tem nada que ver com serviços mal feitos na cidade, com serviços que prejudicam o seu embellezamento?
De duas uma: ou a Camara (si assim procede, o que não posso crer) é inepta, desmazelada, ou V.S. está dizendo a trouxe e mouxe… por pandega.
− Isso não é calourismo, maledicencia e nem bobagens, isso è sabença.
− Saiba que nunca neguei, para qualquer melhoramento, o pouco de que posso dispor, dou e pago logo para poder gritar sem acanhamento, e justamente reclamar (apezar de não poder dar muito) quando os pandegos pandegam com a gente.
Pelo que vejo VS paga muito!
Si não paga parece que é pago.
A sua pandega e coiósismo vai a ponto de pensar que pessôas que não sabem falar, não pódem conhecer modos e meios de administração…
Isso não será ingenuidade de sua parte também?
De facto, eu, como mais lettrado, sob meu nome e responsabilidade não sou ingenuamente, capaz de vir de publico censurar a demora da actual administração, na canalização d’agua, pois, sei que serviços d’esta ordem não se effectuam com pressa, ás carreiras e sem criterio.
Sei que se effectuam com dinheiro, havendo primeiro bôa vontade.
Sei tambem que o Dr. Marcolino² diz estar empenhado na realização d’esse melhoramento; mas, o povo que está gemendo sob o peso de pótes e latas, no caminho dos corregos, á procura d’agua, só enxerga o saldo dos balancetes, o numero de apolices que estão no banco, e a demora do serviço, finalmente, a secca, a falta d’agua.
Eis toda a razão do barulho; e não sou eu quem ha de dizer que elle não tem razão!
E com certeza o povo (na abalizada opinião de VS) tambem paga pouco, pois, è o que mais grita!…
Perguntando ao Alfredo, como eram estas coisas, elle me disse que a demora na compra do relogio³ foi a difficuldade no recebimento das quantias subscriptas por alguns pandegos (sem alusão); mas, obtido o dinheiro, foi elle logo comprado, estando já na cidade, embóra ainda não esteja regulando.
− Bom, Sr. Agente, transmitta ao Pandego.
− Quem manda?
− Diga a ele que é o
K. LOURO.
− Até á volta.
Tlim, tlim, tlim.
* 1: Leia “Anunciados Grupo Escholar, Telephone e Agua Canalizada”, “Instalado o Telefone”, “Telefonia: Da Manivela à CTBC”.
* 2: Na época, o Dr. Marcolino Ferreira de Barros era o Agente do Executivo da Câmara Municipal, o correspondente ao atual Prefeito.
* 3: Leia “Sobre a Compra de um Relógio Para a Torre da Antiga Matriz − 1 a 3”.
* Fonte: Texto publicado com o título “A Pedidos − Resposta pelo telephone sem fio” na edição de 02 de novembro de 1913 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do texto original.