CATINGA NO MARCOLINO DE BARROS

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Bons tempos no Marcolino de Barros. Cursei lá os quatro anos do antigo Primário. Lembro que gostava de uma coleguinha, tinha lá umas querências especiais por ela. Eu tinha apenas 8 anos, e naquele tempo aos 8 anos a gente era muito inocente. Por isso nem sabia exatamente porque gostava dela. Hoje, com 8 anos, meninos e meninas… bem, deixa para lá. Num belo dia um cheiro desagradável tomou conta da sala de aula. Como tinha um coleguinha famoso pelo ardoroso chulé, logo começamos a implicar com ele. Pois é assim mesmo, o cara quando pega a fama tudo gira para cima dele. E o chulé deste colega era pra lá de bravo. Então, se tinha surgido uma catinga na sala, só podia ser o chulé do colega.

A professora já estava incomodada com o fuxico da meninada e também muito curiosa para descobrir de onde vinha o malfadado fedor. Foi até o garoto e gentilmente solicitou que ele retirasse a alpargata branca. O que? Você não sabe o que é alpargata? Alpargata é um calçado do tipo sapatilha, feita em brim ou lona, com solado de corda ou borracha, tipo um tênis aberto e sem cadarço. Muito antigamente tinha modelo que podia ser preso ao pé por meio de tiras de couro, corda ou pano. Teve origem entre os trabalhadores das docas, na França (espadrille) e na Espanha (alpargata). Então, como eu estava dizendo, o garoto tirou uma das alpargatas, entregou à professora que imediatamente deu o veredito: não era ela, a alpargata, a culpada pela catinga que já dominava todo o ambiente.

Foi aí que eu reparei com atenção a garotinha por quem eu tinha certa querência. Ela era a única da sala que não estava participando da barafunda do mau cheiro atribuída ao coleguinha chulezento. E pior, ela estava choramingando. E pior ainda, ela abriu um barreiro daqueles de ser confundido com o dilúvio. E muito pior ainda, quanto mais o berreiro aumentava, mais a catinga crescia. A professora chegou até a menina para verificar o porquê do choro. Foi ela chegar e matar a charada de toda aquela inhaca. Ó Santo Protetor dos Intestinos, por que desamparastes a pobre menina? Pois é, o primeiro amor da minha vida estava toda “borrada” na cadeira. Imediatamente foi-se a querência!

Lembro-me que a coleguinha nunca mais compareceu às aulas no Marcolino de Barros, pois fora transferida para a Escola das Irmãs. Motivo mais do que justo.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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