TEXTO: MODESTO LACERDA DE ARAÚJO (1907)
Apesar de leis especiaes, criteriosamente elaboradas de modo a salvaguardar a segurança dos cidadãos, apesar das multas comminadas nessas leis aos seus infractores, e que seriam insultos em outro logar que não fosse a nossa cidade, ha comtudo individuos completamente faltos de senso, ou excessivamente brutaes e barbaros que, transformando as nossas ruas em invernadas ou circos onde possam patentear á sociedade sua pericia como toureadores, e a sua brutalidade como homens, põem em serio risco a vida de pacificos cidadãos tocando gado bravio pelas nossas ruas mais commerciaes, sem preocupações nem previo aviso.
A disposição legal é Lettra morta para esses, e contra a sua brutalidade se impõe outra infração á lei: o uso de armas de fogo, prontas a abater a rez perigosa, e em caso de precisão o proprio conductor.
Em o dia 6 do corrente mez passava eu pelo Largo do Rosario¹ em companhia de minha familia, ao escurecer, quando um desses desmiolados ou brutos tocava por esse Largo uma vacca bravia; minha senhora levou tamanho susto que cahiu ao chão e com custo pudemos livrar da furia do animal; accresce que achamdo-se ella em estado interessante mais funestas poderiam ter sido as consequencias.
Contra esses e outros desconhecedores ou desrespeitadores das nossas leis, não ha fiscaes; o desforço pessoal se impõe como medida de segurança individual.
Não sei quem seja essa entidade, nem desejo sabel-o; estimarei apenas que este meu justo protesto possa salvaguardar de perigos futuros, aos habitantes desta cidade.
12-8-907.
Modesto Lacerda de Araujo.
NOTA: Modesto Lacerda de Araújo foi Vereador (1916-1918) e em 1915 era ajudante de procurador da Republica. Leia “Alguns Dados de 1915” e “18.ª Câmara Municipal − 01/01/1916 A 31/12/1918”.
* 1: Além da antiga Matriz, existiu em Patos de Minas outra capela. Trata-se da capela de Nossa Senhora do Rosário que localizava-se quase em frente à Rádio Clube de Patos. Por isso aquele espaço era conhecido por Largo do Rosário. Leia “Capela do Rosário”.
* Fonte: Texto publicado sem título na edição de 15 de agosto de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Início do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.