DEMODICOSE FELINA

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A Demodicose é uma importante dermatopatia parasitária que acomete diversos mamíferos. Nos gatos, apresenta prevalência aproximada de quatro casos a cada 10.000 animais, e é considerada rara. Pode ser causada por três espécies de ácaros: Demodex cati (D. cati), Demodex gatoi (D. gatoi) e uma terceira espécie ainda não nomeada. Existem relatos de coinfecção entre elas. O D. cati é considerado comensal da pele felina e habita o folículo piloso. Presume-se que a transmissão fisiológica do ácaro aconteça da mãe para a ninhada, durante a amamentação, semelhante ao que ocorre com o Demodex canis. A proliferação do ácaro na unidade pilossebácea leva ao desenvolvimento dos sinais clínicos e, embora a patogênese da demodicose pelo D. cati não esteja esclarecida, esta pode estar associada a uma doença sistêmica primária, a um quadro de imunodepressão ou imunossupressão medicamentosa. Enfermidades de base que podem resultar em Demodicose secundária são o diabetes mellitus, infecções pelos vírus da leucemia e imunodeficiência felinas e pelo Mycoplasma haemofelis, hiperadrenocorticismo, lúpus eritematoso sistêmico, infecção crônica do trato respiratório superior, carcinoma espinocelular in situ e toxoplasmose. Entretanto, em alguns casos, nenhuma causa primária é encontrada.

Diferentemente do D. cati, o D. gatoi não é comensal da pele, permanece no estrato córneo e está relacionado com o desenvolvimento de uma dermatopatia pruriginosa. É comum poucos ácaros serem encontrados durante a infecção, e muitos deles são identificados em gatos assintomáticos, o que sugere que os sinais clínicos relacionam-se a uma reação de hipersensibilidade a antígenos dos ácaros e não à carga parasitária. A infecção por D. gatoi não está associada a uma doença sistêmica ou à imunodepressão, e acomete animais saudáveis.

A terceira espécie do gênero Demodex spp., embora relatada em alguns trabalhos, ainda não foi nomeada, e não é conhecido o seu potencial patogênico. É semelhante ao D. gatoi, porém mais alongado e delgado que este, e mais curto em relação ao D. cati, além de outras alterações morfológicas específicas.

A Demodicose felina não possui predileção por gênero sexual ou faixa etária, mas quadros generalizados secundários ao D. cati são mais comumente observados em animais das raças siamês e burmese e, por ser comensal, pode ser eventualmente encontrado nos folículos pilosos de gatos saudáveis. O D. gatoi, por sua vez, é comumente encontrado no sul dos EUA e na Europa. A transmissão do ácaro ocorre pelo contato direto com portadores sintomáticos ou assintomáticos e, devido a esta característica, animais em ambientes com múltiplos gatos e aqueles com livre acesso à rua, são mais suscetíveis. Não há predisposição secundária a gênero sexual, faixa etária e raça, embora gatos de raças puras tenham sido descritos como mais suscetíveis à manifestação clínica . O estrato córneo como habitat e o caráter primário, pruriginoso e contagioso do D. gatoi o tornam com características semelhantes à acaríase sarcóptica em cães e atípicas para um ácaro do gênero Demodex spp.

Os sinais clínicos dependerão do ácaro envolvido. O D. cati causa sinais similares aos ocasionados pelo D. canis, e incluem alopecia, descamação, pápulas, comedões espontâneos, assim como crostas, eritema, hiperpigmentação e liquenificação. Em relação a topografia lesional, pode apresentar um caráter focal, com lesões localizadas principalmente na cabeça, pavilhão auricular, pálpebra e região cervical ou um caráter generalizado. Nesse caso, não costuma ter prurido, excluindo casos em que ocorram infecções bacterianas secundárias. Quando são encontrados ácaros nos condutos auditivos, estes geralmente resultam em otite, com secreção ceruminosa de coloração amarronzada. A infecção por D. gatoi resulta em prurido moderado a intenso, associado a lesões alopécicas autoinduzidas, descamativas e encimadas por crostas, principalmente na face, região cervical e articulação rádio-úmero-cultiniana. Outras apresentações clínicas podem estar presentes, como eritema ou hiperpigmentação, pelos fraturados em membros pélvicos, flancos e abdômen, ou alopecia simétrica, com ou sem descamação. Por ser geralmente de caráter autoinduzido, a alopecia por D. gatoi parece ser mais grave em regiões nas quais o animal alcança, e não necessariamente onde a infecção é maior, e é mais evidente nas regiões torácica lateral, abdominal e porção medial dos membros.

O diagnóstico é realizado por meio da anamnese, do exame clínico e confirmado pelo exame parasitológico de raspado cutâneo, tricograma e exame histopatológico. O diagnóstico diferencial deve incluir todas as dermatopatias que causem alopecia com ou sem prurido como a dermatofitose; enfermidades parasitárias como a escabiose, sarna otodécica, linxacariose e queiletielose; dermatopatias alérgicas como a dermatite alérgica à saliva da pulga, hipersensibilidade alimentar e dermatite atópica (não à saliva de ectoparasitos e não alimentar); e dermatopatias psicogênicas.

Apesar de existirem medicamentos com efetividade comprovada para o tratamento dessa enfermidade, ainda não há um consenso para um protocolo oficial. Porém, independente do tratamento de escolha, deve-se identificar e tratar a causa de base e, nos casos de infecção por D. gatoi, tratar os gatos contactantes.

O prognóstico irá variar de acordo com a espécie de ácaro que originou as lesões, da causa primária da infecção e da terapia utilizada. Dessa forma, gatos com Demodicose por D. gatoi apresentam bom prognóstico, por não ser uma doença dependente de enfermidades de base, apesar da literatura apresentar dados contrastantes sobre a eficácia da terapia. O prognóstico da Demodicose por D. cati é variável e pode ser reservado, na presença de enfermidades imunodepressoras concomitantes.

* Fonte: “Demodiciose felina – revisão de literatura”, de Fabio Gonzaga Ribeiro – Médico Veterinário Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais Nível 2 – Universidade Tuiuti do Paraná; Lucas Cavalli Kluthcovsky – Médico Veterinário Residente em Clínica Médica de Pequenos Animais Nível 1 – Universidade Tuiuti do Paraná; Fabiana Monti – Professora da Disciplina de Clínica Médica de Pequenos Animais – Universidade Tuiuti do Paraná; Carolina Trochmann Cordeiro – Médica Veterinária Autônoma.

* Foto: Slideplayer.com.

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