PARTIDA DOS CASCAS-GROSSAS, A

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TEXTO: FOLHA DE PATOS (1943)

Com destino às capitais do Estado e da República, partiu, desta cidade, no dia primeiro do corrente, a caravana constituida dos nossos mais abastados fazendeiros, que a si mesmos se batizou com nome de comitiva dos “Cascas-Grossas”.

E’ um movimento de caráter genuinamente sertanejo que tocou as fibras mais sensíveis dos nossos homens “de engenho”. Vale pela nítida compreensão que estão tendo os sertanejos das diretrizes do Estado Novo, marco de uma era vitalizada em que os anseios de um povo e de uma classe só se pronunciam e encontram repercussão, quando articulados pelo próprio povo e pela própria classe.

O sertão, desde tempos imemoriais, viveu sempre no ostracismo dos governos, considerado que foi sempre como o mar morto, sepultado no amago da nação, incapaz de um movimento, indigno de uma aspiração.

A figura empolgante do eminente Getúlio Vargas compreendeu o valor dos “cascas grossas”, auscultou de perto a parcela enorme de seus sacrificios a bem da coletividade, nascendo de tudo a convicção invacilante que levou o Chefe do Poder a proclamar a direção de seu govêrno na memorável frase de “rumo ao oeste”.

Na simplicidade deste rebate, na insignificancia desta admoestação, o grande Presidente, como que repetindo o grito do Ipiranga, revelador de uma nova etapa de vida e de liberdade, fez com que a consciência nacional se voltasse para as coisas do sertão, forja incandescente da grandeza da Pátria comum.

Mau grado o grito imperioso do Chefe do Govêrno, o citadino, os homens das capitais continuam sentindo e revelando o seu menosprezo pelas iniciativas do interior e da província.

Incidem sempre os do interior no sarcasmo de sua critica, na mordacidade de suas anedotas e chacotas, como se o sertão não vivesse eternamente na abstinência de seus melhores produtos em proveito das cidades ricas e cosmopolitas.

Patos, nesse movimento brilhante e vibrante de seus sertanejos, vai dar a nota de nossa rebeldia contra êsses costumes, porque os seus homens do trabalho de roça e de fazendas vão subir as escadarias do Catete para mostrar ao digno e grande Presidente da República o nosso valor na vida econômica do Estado e do País, como expressão produtora do mais rico quilate.

Ao lado dessa demonstração tocante e viva, a voz dos “Cascas-Grossas” abonada por suas lutas ao sol e à chuva em prol da causa pública, convencerá ao ilustre homem público a respeito das vantagens e da necessidade da Estrada de Ferro até as nossas plagas.

Se o vale risonho do Paranaíba, se a exuberância de nossa Mata da Corda constituem celeiros capazes de autorizar o país a não temer o problema da produção, por mais demorada que seja a guerra em que nos empenhamos, a solução do eterno e intrincado problema de transporte será o marco inicial da nova fase que o municipio de Patos vai descrever, com rara felicidade, no seio da coletividade brasileira.

Lá se foram os nossos homens que sempre viveram na rudeza dos campos, inspirados na têmpera do eminente Governador Benedito Valadares e confiados na inesquecível expressão do Presidente Vargas.

Lá se foram os nossos fazendeiros, os nossos amigos dignos de acatamento e de respeito, encarnados na coragem vocabular de Chichico Campos, na risada cristalina de Olegário Tibúrcio, no espírito sempre atilado do cel. Osório Maciel, na sisudez de Afonso Queiroz e no entusiasmo resoluto de todos os homens do sertão que, depois de tudo fazer, de tudo fornecer e de tudo facilitar, reclamam a compensação do transporte que oportunará e facilitará a todos maior messe de beneficios e vantagens.

A cobertura de êxito e resultados imediatos é a única trajetória de justiça cabível no gesto destes sertanejos.

O sertão é assim; só se movimenta para beneficiar a própria coletividade.

Voltem os nossos amigos com a mesma alegria com que se foram.

* Fonte: Texto publicado com o título “O sertão movimenta-se” na edição de 03 de outubro de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Do livro “Domínios de Pecuários e Enxadachins”, de Geraldo Fonseca.

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