MULHER NA SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO ATÉ 2000, A

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Após a realização do Concílio do Vaticano II, aberto pelo Papa João XXIII a 11 de outubro de 1962 e concluído já no Pontificado do Santo Padre Paulo VI, a 8 de dezembro de 1965, o qual propôs à Igreja algumas reformulações ditadas pelas exigências do mundo moderno, o Conselho Geral da SSVP houve por bem seguir a linha renovadora da Igreja, propondo também “analisar com um exame leal, a sua própria vida”. Assim, o Preâmbulo da Nova Regra expressa categoricamente: “A SSVP deseja permanecer fiel a um Regulamento e a uma Tradição ao mesmo tempo veneráveis e bem vivos e, conjuntamente, explicar sua adaptação ao mundo moderno”. Dentre as modificações propostas, são de destacar-se: Duração de mandato para Presidente, idade limite para o exercício desse cargo e criação de Comissões de Jovens em todos os escalões. Mas uma das medidas de maior dimensão nas reformulações propostas foi, inegavelmente, a criação das Conferências Femininas ou Mistas, além da unificação dos dois ramos: masculino e feminino. Desde a fundação da primeira Conferência em Paris, no ano de 1833, “por moços e para moços”, a Sociedade de São Vicente de Paulo admitiu em seu seio apenas o elemento masculino. Todavia, com o correr do tempo, surgiu também uma organização feminina, dotada de Regulamento análogo, com sede em Bolonha, na Itália, mas sem nenhuma vinculação com o Conselho Geral da SSVP. Com a nova medida do Conselho Geral estabelecendo a criação das Conferências Femininas e Mistas, houve também e com muito acerto, a unificação dos dois ramos, caracterizando por isso, o princípio da unidade da SSVP, em caráter universal.

Aqui em Patos de Minas coube ao confrade Joaquim Antônio de Lima, sucessor do Dr. Benedito Corrêa da Silva Loureiro na presidência do Conselho Central, cargo assumido a 3 de agosto de 1969, a responsabilidade da implantação da Nova Regra na jurisdição de seu Conselho, na época com abrangência em toda a Diocese de Patos de Minas. A questão da implantação das Conferências Femininas ou mistas tornou-se uma medida de aplicação fácil, uma vez que foi recebida com o beneplácito de maior e mais pronta acolhida. Primeiramente, a medida renovadora partiu para a admissão da mulher nas Conferências já existentes. Dentro, pois, desta perspectiva renovadora e num curto espaço de tempo, todas as nossas Conferências passaram a contar com a participação do elemento feminino. Esta tornou-se uma medida de grande proveito para as Conferências do mundo inteiro, uma vez que esta enxertia não só veio fortalecer numericamente a Sociedade, mas trazer também um contributo de larga valia na esfera da sistemática operacional das Conferências. Com essa medida, todo o trabalho operacional das Conferências ficou robustecido com a participação das consócias (nome dado ao elemento feminino), notadamente em determinados casos especiais quando o trabalho das consócias se adapta mais convenientemente às necessidades da assistência.

Segundo depoimento do confrade Baltazar Guimarães Silva, zeloso e tradicional vicentino, integrante da Conferência São Luiz Gonzaga, a primeira mulher a ingressar nas fileiras vicentinas de Patos de Minas foi a sua esposa Maria de Lourdes Alves Tibúrcio Silva, por volta do ano de 1970, a qual se tornou companheira do esposo, no serviço dos pobres. No momento da lavratura destes relatos, Dona Maria de Lourdes Alves Tibúrcio Silva já foi chamada para o mistério da eternidade. Gostaríamos, todavia, de registrar um de seus últimos gestos de abnegação e renúncia cristã. Padecendo uma enfermidade denunciadora irremediável de seus últimos dias, chamou o esposo, e num gesto como que de uma recomendação testamentária, passou ao marido o seguinte pedido: “Após a minha morte, quero que todas as minhas jóias sejam doadas ao Dispensário São Vicente de Paulo, para serem convertidas na assistência dos pobres”. Coisa que o esposo cumpriu, fielmente.

Para a maior alegria dos vicentinos de Patos de Minas, foi criada na data de 20 de outubro de 1992, a primeira Conferência Feminina da cidade, tendo sido colocada sob a proteção de Santa Luísa de Marilac, santa oriunda da Congregação das Servas dos Pobres, uma das criações de São Vicente de Paulo. Sua primeira presidência coube à consócia Valdemira Gomes da Silva Lima, hoje Coordenadora da Escola de Caridade Antônio Frederico Ozanam (ECAFO). Dentre as consócias fundadoras, lembramos as seguintes: Valdemira Gomes da Silva Lima, Iraci José de Castro, Magda Marília Rocha Faria, Maria Rosa Cunha Nunes, Valdeti Canedo de Lima Pereira, Vânia Aparecida Silva, Maria das Dores Silva, Dalva Gonçalves Siqueira, Luísa Vieira de Oliveira, Marlene das Graças Gomes Silva, Terezinha Caixeta Barbosa. Uma vez fundada esta Conferência e vivendo a espiritualidade da SSVP, abraçou decididamente uma sistemática assistencial voltada para o fornecimento de roupas de cama aos pobres, conseguindo assim uma grande revolução nesse campo assistencial. O fornecimento de camas, colchões, lençóis, fronhas, toalhas e enxovais para bebês, destacam os seus trabalhos assistenciais. É de se registrar, e com a mais preocupante angústia, a terrível situação encontrada no meio dos pobres carentes: os dormitórios da maioria deles não passam de um amontoado de lixo, insalubre e mal cheiroso, tomados tantas vezes por insetos repelentes, infernizadores portanto, das vidas desses infelizes.

Aí está o trabalho da Conferência Santa Luísa de Marilac. Um Grupo constituído dentro da espiritualidade vicentina para, no serviço e no amor, viver a experiência evangélica no trato dos irmãos necessitados. Embora tenha acontecido no curso de seus já completados setes anos existência, a saída ou o afastamento justificado de alguns de seus membros fundadores, a Conferência Santa Luísa de Marilac conta hoje com vinte e um membros atuantes.

* Fonte: Livro “100 Anos de Sociedade de São Vicente de Paulo em Patos de Minas” (2000), de Nêgo Moreira, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Institucional.

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