VICENTE PEREIRA GUIMARÃES (VICENTE MANDU)

Postado por e arquivado em PESSOAS.

VICENTESegundo dos cinco filhos que escaparam do Cap. José Pereira Guimarães (Juca Mandu) e sua esposa, D. Ana Silvéria do Carmo, Vicente Pereira Guimarães (Vicente Mandu) nasceu no Distrito de Santana de Patos em 08 de abril de 1909, vindo a falecer em 21 de outubro de 1978 em Brasília-DF.

Depois do curso primário em escolas particulares em Santana e oficiais em Patos ou Carmo (não se tem dados precisos), cursou o ginasial no Colégio Mineiro (antigo Colégio Militar de Barbacena), famoso, na época, pelo rigor com que ministrava as disciplinas curriculares de então. Naquele tempo não havia o curso científico e o ginasial constava de cinco anos de estudos apertados, dando condições e direito de ingresso em curso superior. Isto foi de 1922 a 1926.

Naquela época o serviço militar não atingia a quase totalidade dos jovens como hoje. As convocações para as forças armadas eram feitas por sorteio. Aqueles que não gostassem da ideia de serem sorteados, tendo que passar algum tempo de caserna, poderiam optar por fazer o curso em algumas escolas poucas existentes no interior (hoje equivalentes aos Tiros de Guerra). É por isso que Vicente Mandu interrompeu os estudos e se matriculou na Escola de Formação Militar, em Carmo do Paranaíba, onde permaneceu nos anos de 1927 e 1928, já que a duração do referido curso era de dois anos.

É bem possível que esta interrupção nos estudos tenha provocado sua paralisação definitiva. Após o serviço militar, o jovem Vicente não voltou a estudar, como era desejo de seu pai, mas dedicou-se às atividades na fazenda. Quando digo que ele não voltou a estudar, refiro-me ao estudo metódico mediante matrícula em alguma escola e frequência às aulas. Porque, parar de estudar ele não parou, através de leituras de assuntos variados, especialmente sobre agropecuária, e mais tarde sobre política. O Vicente Mandu que conheci tinha uma boa erudição e era capaz de participar ativamente de conversas sobre os mais variados temas.

Fazendeiro por tradição e vocação, administrou simultaneamente cinco fazendas de difícil comunicação entre si e a residência em Patos de Minas, a não ser de avião, quando o tempo estivesse favorável. Foi dos primeiros a implantar mecanização na lavoura, e também dos primeiros a utilizar tratamento do gado em cocheira, nesta região. Participava, quando estava na cidade, das reuniões informais da Associação Rural, onde assuntos de interesse da classe eram abordados de modo informal. Merecem ser postas em destaque as informações e orientações técnicas ali ministradas, especialmente através do Dr. Moacir Vianna de Novais, um dos maiores Engenheiros Agrônomos do Estado na época, e um dos maiores idealistas que nossa terra já conheceu.

Com o problema da queda do zebu na década de 1940, Vicente Mandu também foi atingido pelo evento que desestabilizou um grande número de fazendeiros. Juntamente com outros colegas foi à Capital Federal, Rio de Janeiro, conversar pessoalmente com o Presidente Getúlio Vargas. Esta caravana recebeu o apelido de Comissão dos Casca-Grossa. Possivelmente terá influído na decisão governamental de instituir a moratória que salvou a situação dos fazendeiros e a agropecuária nacional.

EDUCAÇÃONão descurou de atuações em benefício da comunidade: sócio fundador da Cooperativa Mista Agropecuária; da Associação Rural (hoje Sindicato Rural); sócio do Aero Clube de Patos de Minas, sendo ele próprio piloto civil e possuidor de avião. Para evitar o fechamento da Rádio Clube de Patos em 1945¹, uniu-se com outros idealistas (Sebastião de Castro Amorim, Ilídio Pereira da Fonseca e Abner Afonso de Castro), adquirindo a emissora e a mantendo não raro à custa de suprimentos pessoais dos novos proprietários.

Com a queda de Getúlio Vargas, foram convocadas eleições para Presidente da República no final de 1945, e para Prefeito um ano depois. As posses e inícios das respectivas gestões, ocorreram no início de cada ano subsequente. E os mandatos foram, respectivamente, de 5, 4, 3 anos, terminando a um tempo, no início de 1951, tendo havido eleições gerais no final de 1950.

A passagem de diversos intendentes pelo governo municipal, da queda de Getúlio, até o início do mandato de Vicente Mandu, criou uma descontinuidade administrativa que só pode ter sido prejudicial. A primeira preocupação do novo prefeito foi criar um clima de paz e confiança e estabelecer metas e planos de governo. Conhecedor da zona rural e suas carências, atacou de imediato o problema da educação e de estradas.

O número das escolas rurais municipais foi elevado de 18 para 120, funcionando em varandas, salas de residência, em casinhas rústicas feitas especialmente para este fim e, pouco a pouco, em prédios escolares modestos, mas funcionais. Além do problema de local, muitos outros tiveram que ir sendo superados aos poucos; e nem sempre era possível o funcionamento da escola. Das diversas professoras, umas poucas (três ou quatro), tinham o curso normal e a grande maioria tinha somente o curso primário.

A rede escolar rural era visitada periodicamente, com o que iam sendo feitas avaliações das condições físicas de sala, carteiras, etc.; sociais de boa aceitação da comunidade e boa convivência entre esta e o professor; e ainda de aproveitamento, mediante conversa com os alunos. Com isto foi-se fazendo uma triagem no quadro do magistério, conservando-se aquelas professoras que melhor correspondiam. Cursos de férias eram ministrados visando também a melhoria na capacitação das professoras. Aos poucos a alfabetização até o terceiro ano primário estava bem estruturada em nossa zona rural. E creio que muitos dos que hoje sabem ler, escrever e contar razoavelmente, entre nossos homens do campo, não dispõem de outro estudo, além daquele.

Outro setor rural que praticamente estava na estaca zero, era o de estradas. Antes não havia maiores necessidades, porque também não eram muitos os veículos. Vicente Mandu percebeu o aumento destes e uma perspectiva de aumento ainda maior, com os planos de implantação da indústria automobilística no país. E tratou de abrir estradas. Como a Prefeitura não dispunha de máquinas adequadas, adquiriu uma niveladora de tração (a ser rebocada por trator) e usava trator de sua propriedade particular na abertura de estradas onde fosse possível e mais necessário. Eram precárias, quase nunca funcionando no tempo de chuva, mas mesmo assim prestaram seus serviços e foram sendo melhoradas aos poucos.

Pouco a pouco a municipalidade foi adquirido alguns equipamentos e máquinas e foi sendo montado e estruturado um serviço de estradas que passou a funcionar de modo permanente, quer na construção, quer na conservação e melhoria das existentes.

ESTRADANo setor urbano só houve serviços concretos no final de seu mandato, por dois motivos especiais: 1.º – a maior carência da zona rural; 2.º – a falta de planejamento urbanístico. Enquanto a zona rural estava sendo atendida com estradas e escolas, a administração municipal conseguiu por empréstimo, junto à Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado, o Dr. José Marins Freire. Este, com uma dedicação e capacidade dignas de louvor, preparou mapas da cidade, das sedes de distritos e até mesmo dos povoados existentes no município, traçando um plano urbanístico para cada núcleo.

Vicente Mandu tinha o sonho de ver nossa Patos de Minas devidamente asfaltada. Para isso era necessário refazer toda a rede de água e de esgoto. Obedecendo ao plano do Dr. Marins Freire, isto foi sendo cuidadosamente e, o que foi inevitável, demoradamente, provocando críticas acirradas.

Concluído este serviço de infraestrutura, teve início o serviço de asfaltamento, sendo contratada a firma Menezes & Muniz Ltda., que desempenhou este trabalho com eficiência e critério, sob fiscalização permanente da Prefeitura. A primeira rua a ser asfaltada foi a Tenente Bino, começando na esquina com a praça Dom Eduardo , ali perto do Colégio das Irmãs, com discurso do Pe. Alaor Porfírio de Azevedo, brilhante, por sinal. Depois foi a Major Gote e suas transversais. Ao final de seu mandato, pouca coisa tinha sido feita neste sentido, mas o passo inicial tinha sido dado e a infraestrutura devidamente preparada.  E o asfaltamento continuou na gestão seguinte, sem problemas.

Vicente Mandu, ao término de seu mandato, não se afastou ainda da vida pública, já que organizou a Prefeitura de Guimarãnia, como seu intendente e foi ainda Vice-Prefeito na gestão Sebastião Alves do Nascimento, chegando a ocupar a Prefeitura por alguns dias no impedimento do Prefeito que se candidatara a Deputado. Mas, em ambos os casos, não houve condições de um trabalho de maior envergadura: simples organização de um município novo e despacho de papéis e continuidade de uma gestão em andamento.

Afastou-se, finalmente, da vida pública, com a consciência do dever cumprido. E nós completamos: do exemplo deixado.

* 1: A Rádio Clube de Patos foi fundada em 29 de novembro de 1941 por Bernardino Corrêa Júnior (Nhonhô Corrêa), Modesto de Melo Ribeiro, Ruy Gualberto de Amorim, Olavo Gualberto de Amorim e João Gualberto de Amorim Júnior (Zico Amorim).

* Fonte: Baseado nos textos “Praça Vicente Mandu – 2” e “Praça Vicente Mandu – 3”, de Baltazar Guimarães Silva, publicados em sua coluna “Encontros e Desencontros” nas edições de 06 e 13 de fevereiro de 1988 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto 1: Do livro Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.

* Foto 2: Institutosocrates.com.br.

* Foto 3: Juliocesarsilvalino.blogspot. com.

Compartilhe