Em relação ao DDD, ou seja o sistema telefônico de discagem direta à distância, Patos lembra um sujeito faminto diante de um prato de comida, feito para ele, tentadoramente colocado à sua frente, mas do qual, por misteriosa razão, não o deixam servir-se.
O DDD foi feito para Patos, está pronto, mas continua inacessível à população, que tanto carece dele. Vale dizer, o banquete foi preparado para nós, a mesa está pronta, a comida é apetitosa, estamos morrendo de fome e, inexplicavelmente, não nos deixam comer.
Eis aí uma versão moderna do suplício de Tântalo. (Personagem da mitologia grega condenado a viver sedento e faminto entre água fresca e cristalina e frutos saborosos que não podia alcançar).
Tecnicamente, o DDD de Patos está pronto para funcionar desde o dia 7 de janeiro, quando foi inaugurada a nova Central da Embratel, em Uberlândia. Em Patos mesmo, está tudo pronto há meses.
De quem a culpa pelo atraso? A Telecomunicações Minas Gerais diz que é da Companhia de Telefones do Brasil Central. E a CTBC, por sua vez, diz que é da Telemig¹.
E nessa luta entre o mar e o rochedo, quem paga o pato é Patos.
Mas aos poucos o mistério começa a aclara-se. Agora já sabemos que o impasse está na briga pelo controle de todo o serviço interurbano manual que liga Patos a Presidente Olegário, Lagamar, Cruzeiro da Fortaleza, Lagoa Formosa e Carmo do Paranaíba (que, por sua vez está ligada a Luz e Pará de Minas). Ou seja: a Telemig está condicionando a atividade do DDD à encampação daquele serviço.
Até aí, tudo bem. Mas acontece que a Telemig quer receber as mesas interurbanas de Patos a leite de pato, com base numa portaria ministerial. O argumento é que a exploração do serviço interurbano de Patos foi concedido a título precário e terá de cessar com a entrada da Telemig. Contra isso se insurge veementemente a CTBC, que quer, a todo custo, ficar com o sistema manual.
A pretensão parece razoável. Sobretudo levando-se em conta que um arranjo desse tipo já funciona em Uberlândia e Uberaba, onde a Telemig opera o DDD e a CTBC o interurbano manual.
E se o procedimento foi sacramentado nos dois maiores centros servidos pela CTBC, incluindo a cidade-sede, por que não adotá-lo também em Patos de Minas?
Depois, mesmo que a Telemig não abra mão do seu alegado direito sobre o interurbano manual, não precisa condicionar seu recebimento à inauguração do DDD. Pode, perfeitamente, ativar o DDD e continuar discutindo o outro problema. Ou mesmo pressionando a CTBC naquele sentido. O que não pode é privar Patos de um serviço pelo qual tanta anseia e que tanta falta lhe faz. E cuja ativação, tecnicamente, independe do recebimento do interurbano manual.
No mais, a Telemig que foi recebida com euforia em Patos, por representar nossa libertação do péssimo serviço de interurbano da CTBC e um grande salto no campo da telecomunicação, está devendo uma boa explicação ao nosso povo sobre a inauguração do DDD². Se ela não pode já ativar o DDD, não só pode como deve vir imediatamente a público dar uma explicação. Mais que isso, a Telemig tem o indeclinável dever de vir a público dar uma satisfação. Sobretudo quando cresce o clamor do povo patense pela ativação do DDD.
Nossas esperanças agora se voltam para o Governador Aureliano Chaves, cuja interferência para a solução do problema foi formalmente solicitada pelo povo patense, através de uma caravana chefiada pelo prefeito Dácio Pereira da Fonseca e integrada pela Câmara dos Vereadores, Associação Comercial, Sindicato Rural e várias entidades e personalidades, entre elas nosso querido Bispo Diocesano, Dom Jorge Scarso.
* 1: Leia “CTBC x TELEMIG em 1978”.
* 2: Leia “Chegou o DDD”.
* Fonte: Texto publicado na Coluna do Oswaldo da edição de 16 de fevereiro de 1978 do jornal Folha Diocesana, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
* Foto: Quatro primeiros parágrafos do texto original.