PAPO DE DOIS SOLTEIRÕES

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Já cinquentões, solteiros inveterados, amigos de infância, Juvêncio e Amarildo tinham um hábito salutar para eles: toda dia, de segunda a sexta, após a labuta, encontravam-se no Bar do Cochila¹ quando ainda funcionava ao lado do Posto Ipiranga na Rua José de Santana. Lá, como os dois tinham inúmeras ideias repetidas, o que eles faziam de preferência era justamente trocarem as ideias. Cada um contava ao outro suas experiências namorísticas. O Juvêncio confessou:

– A Lurdinha, achei meio burrinha, aí resolvi testar. Perguntei a ela qual lugar era mais perto de Patos de Minas, se a Lua ou Patrocínio. E não é que ela me respondeu que era a Lua porque de Patos de Minas a gente enxerga a Lua e não enxerga Patrocínio. Desisti!

– Pois é, a Saula ficou brava comigo por causa de besteirinha de dar dó − falou o Amarildo. Cara, ela tem uma preocupação danada com o corpo, vive tomando esses tais de produtos emagrecedores, frequenta academia, o escambau, e nem assim está satisfeita com o corpo. Anteontem, lamentou que mesmo com tudo o que vem fazendo para não engordar se considerava engordando. E me perguntou o que eu achava. No que eu respondi que ela estava redondamente enganada, ficou brava, se mandou e até agora bate o telefone na minha cara. Trem esquisito, sô. E a Maristela, como é que ficou?

– A do Edifício Alvorada? Melou, Amarildo, logo na primeira saída. Convidei ela pra gente assistir Guerra nas Estrelas no Cine Riviera. Passei lá e fomos de mãos dadas até o cinema. Ela estava linda, com uma saia que ia até a canela. Quando sentamos, fiz um comentário que ela não gostou nadinha. Por causa disso ela nem esperou o filme começar, se levantou e foi embora. E como a sua Saula, até agora ela bate o telefone na minha cara.

– Mas Juvêncio, o que você falou que a deixou tão irritada?

– Eu confundi as coisas e disse que a meia calça dela estava enrugada.

– Gente do céu, e só por isso a Maristela se enfezou?

– Pois é, Amarildo, eu confundi as coisas porque ela não estava usando meia calça, sacou? Nossa, como as mulheres estão sensíveis ultimamente, né?

* 1: Leia “Leoclides Araújo de Menezes (Cochila)”, “Panorâmica na Década de 1960 − 4” e “Bar do Cochila − 1991”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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