Adolescentes, vizinhos no Bairro Vila Garcia, mais especificamente na Rua Ponto Chic, José Ambrósio e Maria das Dores começaram a namorar. Foi uma paixão fulminante à primeira vista quando se conheceram na E.E. Dona Guiomar de Melo. Jovens considerados normais, sem vícios comprometedores, filhos de famílias simples, mas honradas, namoraram durante oito anos, quando, com as setas de Eros ou Cupido entranhadas em seus corações, resolveram oficializar o noivado.
O que o José mais gostava era curtir com a sua Maria a fase de Lua cheia, principalmente quando ameaçava chuva. Isso porque, sempre, a amada exclamava:
– Olha, amado José, aquela nuvem escura vai encobrir a Lua.
E o amado, meloso, respondia:
– É ao contrário, amada Maria, é a Lua que está se escondendo por detrás daquela nuvem escura, por inveja do nosso amor.
Muitas vezes tiveram que largar as melosidades para correrem aos lares fugindo da chuva. Assim, foram inúmeras as vezes em que tal fato se repetiu, mesmo depois dos dois primeiros anos de casamento:
– Amado José, olha a nuvem escura encobrindo o lindo clarão do Luar.
– Amada Maria, você já sabe que é inveja da Lua, que está se escondendo de vergonha por causa do nosso amor.
No transcorrer do tempo, surgiram três filhos, mas o José e a Maria mantinham numa labuta danada ocupações que lhe rendiam o suficiente para a família ter uma vida saudável. Por causa disso, das atribulações da vida, a fase da Lua se escondendo na nuvem escura por inveja do amor dos dois foi ficando para trás até que acabou por definitivo. Nenhum dos dois mais se preocupava com nenhum luar e muito menos com nuvem escura encobrindo a Lua.
Anos e anos depois, quem sabe uns quinze, eis que numa noite a Maria estava lavando umas roupas quando se deparou com uma linda Lua cheia. Num súbito ataque de saudosismo, ela chamou o marido e assim ocorreu o seguinte diálogo:
– Zé, vem cá.
– Pô, Maria, tô assistindo o futebol.
– Vem cá, Zé. − E o Zé, contrariado, foi.
– Olha lá, Zé, aquela nuvem escura está encobrindo a Lua cheia.
– Ora, Maria, tem dó, eu lá assistindo o futebol e você me chama pra isso. Pelamordedeus, não está vendo que vai chover.
É, o amor é lindo, mas vareia!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.