MARIA APARECIDA CRUZEIRO DA COSTA − FALECIMENTO

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Há décadas criei a coluna Tributo de Arte no Jornal Folha Patense para homenagear artistas, gente do bem e pessoas importantes que fazem a diferença na sociedade. Memória, história, lembrança e esperança, na retrospectiva da vida, vivida e sonhada. Mas, nunca imaginei fazer tal menção um dia para a minha mãe querida, Maria Aparecida, pessoa amada. Como diz na literatura ilustrada: “A vida prega peças e o destino é cheio de surpresas”. Nos caprichos e capítulos de cada palavra escrita e falada.

Eu fui o último a vê-la em vida, respirando forças para o último suspiro. Despediu-se do trem na última estação do tempo. Pelos encontros e despedidas, fica a simples mensagem de coração partido: Em nome de todos os amigos, filhos e familiares, registramos com pesar e dor o falecimento de Maria Aparecida Cruzeiro da Costa (simplesmente Dona Maria), aos 80 anos, ocorrido na madrugada do último dia 30 de março. Toda mãe é assim: deixa de se alimentar para dar de comer aos filhos. Deve ser por isso que Dona Maria contraiu uma anemia profunda em profundo silêncio que só os enfermos educados e inocentes, frágeis sábios sob as bênçãos de Deus, sabem esconder atrás das sombras. Sem saber a hora de dizer adeus.

Natural de Vazante – MG, foi casada com Antônio Pereira da Costa (nosso pai nosso), nascido em Tiros – MG, se conheceram, se encontraram e se encantaram em Patos de Minas. Dona Maria Cruzeiro é mãe de cinco filhos: Eugênio, Ângelo, Sônia, Carmen e Paulo, avó de oito netos e bisavó de um bisneto. Pessoa simples e bondosa, mulher guerreira e verdadeira, dona de casa e dona de carisma. De coração gigante e alma iluminada. Mulher de fé e luz até no fim do túnel.

Olha só como são as boas coincidências da vida. Dona Maria Cruzeiro nasceu no dia 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. “Maria, Maria, uma certa magia, uma força que nos alerta”. Uma mulher que merece viver em paz, alegria e felicidade, em qualquer dimensão do espaço, em qualquer estação do tempo.

Mãe, amiga, protetora, trabalhadora e sonhadora. Cozinheira e costureira de mão cheia. Criou os filhos com amor, carinho e ternura, cosendo as linhas tortas para os desvios das pedras do caminho. Seguindo a procissão e cumprindo a missão. No meio do carinho, surgiram cantores, músicos, professores, escritores, poetas e trovadores, apaixonados pela vida. Cada um com a sua lida e sua luta. Eis a lição deixada. Dona Maria até entrou nas aulas de violão e pintura para agradar o sereno da madrugada. Alma de artista e corpo de cristal. Branquinha e brilhante.

E não para por aí. Dona Maria era uma mulher fina e de bom gosto. Senhorinha chique. Gostava de castanhas, frutas e um bom vinho. Café torrado, rapadura pura, milho cozido, paçoca no pilão e batata doce assada na brasa. Adorava bandas marciais, das serenatas e serestas, do badalo do sino da igreja, de música clássica instrumental e os raios do sol. Estrela maior. Cruzeiro, constelação, em todas as fases da lua. Mulher de face limpa e feridas cicatrizadas.

Colecionava cheiro e tempero, folhas e raízes, receitas de chás e medicina natural, leitura e curiosidades (dos mistérios e segredos da cura). A procura do pote de ouro para tentar salvar o mundo da miséria espiritual. Dona Maria, espirituosa como sempre, nunca se esqueceu de cobrir um filho em noite de frio, com o manto sagrado do amor. Deixava um ramo na porta em dia de visita. De gosto requintado, sua música predileta na trilha sonora da novela “O Clone”: A Miragem – Somente por Amor.

Maria Aparecida Cruzeiro, mulher de fé e luz. Deixa seu exemplo, deixa seu legado, deixa o seu perfume e o atestado de bondade. Pela estrela da vida inteira. Parafraseando Guimarães Rosa: “As mães não morrem, ficam encantadas”. Dona Maria, mulher encantada e por todos, amada. O que mais dói é a ausência e o vazio. São as belas lembranças que ficam e as que partem sem olhar pra trás.

Aqui, jaz. Do observatório celestial, ela não estará chorando. Ela estará olhando e orando por nós. Mãe abençoada. Não precisa dizer mais nada. Durma em paz em algum lugar com o cântico dos pássaros, a harpa de anjos e as flores do jardim, pois a cada passo: “pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”. Somente por amor, a vida se refaz. E a morte não é mais pra nós. Diz a canção.

Em uma só voz herdamos a música e a poesia. Quem planta colhe. Não escolhe onde nascer e viver. Seremos dignos para entrar em sua morada. Seremos salvos pela sua mão que acalma. Mãe, jamais deixaremos de regar as suas samambaias. Suspensas nas varandas da alma.

Epitáfio: Oração como tributo. Coração, bendito é o fruto. Ora pro nobis, Amém.

Do filho: Eugênio Pacelli Civuca Costa − Patos de Minas-MG − Março/2019

* Fonte e foto: Texto publicado na coluna Tributo de Arte na edição de 06 de abril de 2019 do jornal Folha Patense.

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