A pessoa deficiente é alguém muito especial que precisa não de piedade, mas de compreensão e ajuda. De um modo especial, precisam ser compreendidos e ajudados aqueles cuja deficiência é caracterizada por qualquer coisa de diferente lá no centro mais vital do seu ser − os excepcionais. Foi para estes, para efetivamente ajudá-los, para oferecer-lhes uma mão forte, solidária e amiga é que surgiu a APAE − Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais¹.
A primeira escola APAE em nosso país nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1954. A árvore boa, plantada em solo generoso, regada pela dedicação e pelo carinho dos seus fundadores, logo produziria os mais abundantes frutos e as suas sementes fecundas se espalhariam por todo esse nosso Brasil grande. Hoje, menos de trinta anos depois do surgimento daquela escola da APAE, já algumas centenas delas se espalham através de nosso país, e pelo menos umas oitenta somente em nosso Estado.
As escolas da APAE nascem sobretudo sob o signo do amor e da solidariedade humana. Nascem quase sempre do comprometimento de pais, de familiares e de amigos de criaturas assim marcadas por esse tipo de deficiência, e que através da experiência dura de conviver com os seus problemas e as suas limitações, de partilhar continuadamente com o seu penoso ajustamento à realidade da vida, se compenetram da irrecusável obrigação de fazer realmente tudo o que possam em favor delas. Quase sempre é assim que nascem as APAEs, e foi assim que nasceu a APAE de Patos de Minas.
Temperados pela mesma experiência vivida, movidos pelos mesmos problemas e com disposições iguais, reuniram-se alguns pais, familiares e amigos de crianças excepcionais da nossa comunidade, com o propósito de criarem uma escola especializada para as referidas crianças.
Em abril de 1972 era criada a APAE de Patos de Minas, e já em setembro instalava-se a sua escola: o CRI-Centro de Recuperação Infantil.
O seu começo foi dos mais modestos: funcionamento em casa alugada, apenas 4 professoras e um atendimento a 17 alunos. Mas não parou nunca, tendo sempre a impulsioná-la o esforço exaustivo de alguns e a ampará-la a comunidade patense, que nunca lhe negou o seu apoio e o seu auxílio.
Hoje, quando já se passaram 10 anos, é bom voltar o pensamento atrás; rever o caminho percorrido; avaliar o que foi realizado. Para nós, que bem de perto temos caminhado com a APAE, que temos dado a ela muito do nosso esforço, da nossa dedicação e do nosso amor, é deveras gratificante sentir que, pelo trabalho sério e válido que vem realizando, a nossa escola tem feito jus ao bom conceito, ao reconhecimento e à simpatia de toda a comunidade.
Revendo o histórico da APAE, voltando aos anos passados, é realmente muito bom reviver os momentos felizes das realizações maiores ou ainda tantos instantes de emoção experimentados no dia a dia ante as pequenas-grandes conquistas dos nossos alunos: um deficiente de fala que pronuncia uma nova palavra; um outro que pela primeira vez se equilibra sobre as próprias pernas, ou ainda outro que, depois de tantos insucessos em escolas não apropriadas à sua deficiência, descobre a rara alegria de aprender…
Partindo daquele começo modesto de 10 anos atrás, a nossa escola caminhou muito e depressa. Hoje, com a sua sede própria, embora ainda lhe falte um pavilhão central para a complementação do projeto global das edificações; com um corpo técnico responsável e eficiente, composto de médico, dentista, orientadora educacional, psicóloga, fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta educacional, assistente social e técnicos auxiliares; com um corpo de professoras especializadas e funcionários dedicados, e ainda com a instalação agora de oficinas pedagógicas para o desenvolvimento de trabalhos artesanais, a nossa escola tem podido realmente oferecer muito aos 120 alunos que lá atualmente são atendidos. Patos de Minas pode se orgulhar da sua escola, que sem favor se situa entre as melhores do nosso Estado. E tanto que agora, estando para ser renovado o convênio que mantemos com a L.B.A. (Legião Brasileira de Assistência) pudemos alcançar o nível de “Excelência”.
Revendo o caminho percorrido nestes 10 anos, quantos motivos para o mais fervoroso agradecimento a Deus!..
Naturalmente que sempre também houve problemas, dificuldades, na caminhada da APAE, já que o nosso caminho sempre se misturam as flores e os espinhos. Agora mesmo, em meio às alegrias das comemorações dos seus 10 anos de vida e realizações, a APAE tem a incomodá-la um doloroso espinho representado por uma insólita ação trabalhista, baseada em questões meramente técnicas quanto às condições em que o trabalho fora exercido se em regime de autônomo ou se com vínculo empregatício, movido por alguém que, pela sua posição social e profissional na nossa comunidade, teria muito melhores condições de prestar-lhe serviços voluntários do que dela reivindicar direitos trabalhistas. E o mencionamos aqui sem nenhum outro propósito do que, quem sabe, provocar uma melhor reflexão sobre este assunto tão sobremaneira desagradável. Muitas vezes há muito mais nobreza em voltar atrás de uma decisão do que continuar em frente!… Quem sabe ainda é tempo de remover esse espinho?
Glayde Lima Verde Pereira.
* 1: Leia “Glayde Lima Verde e os Bastidores da APAE”
* Fonte: Texto publicado com o título “Centro de Recuperação Infantil CRI – APAE de Patos de Minas − Setor: Diretoria do CRI − 10 anos de APAE de Patos de Minas” na edição n.º 48 de 31 de maio de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Institucional.