ANOSO SUPIMPA

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Certa vez a Vigilância Sanitária foi alertada de que foram encontrados três morcegos mortos na comunidade de Mata do Brejo, numa propriedade rural às margens do Córrego São Luiz. Sintonizados com a importância do comunicado, pois os mamíferos voadores poderiam estar contaminados por raiva, partiram para lá no intuito de recolher os bichos para os devidos exames de praxe. Coletados os três morcegos, estavam numa ronda em busca de indícios da presença de alguma colônia dos hematófagos alados quando presenciaram um senhor muito idoso roçando um pequeno pasto de mais de metro de altura e num baita dum calor. Um membro da equipe, espantado ao vê-lo naquela penosa atividade, perguntou-lhe a idade. Ele, coçando a cabeça, contou:

– Ora, sô, tenho 104.

Lógico que todos ficaram pasmos, mal conseguiam acreditar que seus olhos flagraram um homem de 104 anos capinando que nem um jovem naquelas árduas condições. Uma jovem do grupo, entusiasmada com a cena, puxou assunto:

– Impressionante o senhor com essa idade, no meio desse sol de rachar e com esse vigor de gente nova. Lembro do meu avô, que mal conseguiu chegar aos 85 anos e ainda por cima teve Alzheimer. O senhor mora naquela casa ali?

– Ara, moça, eu tô acostumado com isso desde minininho, me afeta não. Cê precisa ver a minha mãe…

– Sua mãe ainda está viva?

– Sim, moça, eu moro com ela ali naquela casa.

Olharam-se uns para os outros sem acreditarem no que tinham acabado de ouvir. E o senhorzinho sem entender bulhufas todo aquele espanto, resolve perguntar:

– Uai, sô, porque esse espanto, lá na Cidade ocês morre mais cedo?

Depois de se recuperarem do susto, mas ainda sem acreditarem nas palavras do ancião, outro membro da equipe, curiosíssimo, falou:

– Meu senhor, agora que te conhecemos aos 104 anos roçando um pasto, fazemos questão de conhecer a digníssima senhora sua mãe.

O roceiro centenário, naquela mansidão característica dos autênticos matutos, lascou essa:

– Ô, gente, vai dar não, ela não tá em casa, foi de charrete visitar minha avó que mora no Curraleiro.

Não restou alternativa à equipe da Vigilância Sanitária pegar o boné e dar no pé.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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