LOAS AO DR. LAUDELINO GOMES DE ALMEIDA

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TEXTO: ALYRIO CARNEIRO (1907)

Ha poucos dias, retirou-se desta cidade para a de Patos, o illustrado e estudioso medico dr. Laudelino Gomes de Almeida¹, que veiu da Capital de Goyaz, onde deixou os seus velhos Pais, espalhando pelo sertão os beneficios do seu sacerdocio, a honrosa profissão que elle abraçou pelo pendor natural do seu espirito.

Formára-se o seu bello caracter em uma escola edificante de abnegação e civismo, e considerando o facto de sua viagem pelo interior do paiz, com estadios aqui e além, aonde não podia visar interesses pecuniarios, poderemos exclamar como Payot²: “Ah! se cada anno, meia duzia de estudiosos entrassem nas aldeias, nas cidades, como medicos, advogados, professores, decididos a não perder occasião de fallar, de operar em favor do bem, dispostos a testemunhar aos grandes e pequenos o maior respeito, a não deixar passar uma injustiça sem protesto activo e perseverante, a introduzir nas relações sociaes um pouco mais de bondade, de verdadeira equidade, de tolerancia, − em vinte annos consagrados a’ felicidade da patria − reconstituir-se-ia uma aristocracia nova, absolutamente respeitada, que seria poderosissima para o bem geral!…”

Em cerca de oito mezes de permanencia nesta cidade, o dr. Laudelino Gomes não conseguiu fazer-se comprehender.

Por outro lado, porém, conquistou a estima publica e se impoz ao respeito de todos pelo seu saber, acompanhando os progressos da medicina, em seus modernos methodos therapeuticos.

Tenho o dever de testemunhar-lhe a minha gratidão, pois, martyrisado ha doze annos por um estreitamento da urethra, submetti-me confiantemente ao tratamento de dilatação gradual que me diagnosticou, e ao fim de trez meses fiquei radicalmente curado.

Mas não foi somente o allivio de antigos padecimentos e o restabelecimento de minha saude, que me proporcionou o meu caro amigo, como hoje o é aquelle distincto profissional. Poupou-me tambem uma grande e forçada despeza, porque os serviços de um especialista como elle, revestidos com todas as etiquetas e apparatos do Rio de Janeiro, custam contos de reis, razão para que eu continuasse a soffrer até me preparar para o tratamento na Capital Federal, o que consegui aqui, com o mesmo exito.

Confesso publicamente ao dr. Laudelino Gomes o meu eterno agradecimento, por que, além de seu valioso trabalho, teve a gentileza de deixar ao meu arbitrio o preço do mesmo que lhe paguei como pude.

É por isso que eu o considero portador do bem atravez do sertão.

E, como diz o mesmo Payot, “quando um moço adquire o importante e fecundo habito de decidir resolutamente, de proceder sincera, bôa e simplesmente, não ha alto destino intellectual a que não possa pretender”.

Pois bem, sr. dr. Laudelino, sigais triunphante a vossa estrella, e do convivio com as summidades medicas que procurais, ha de resultar para o vosso nome constantes e brilhantes victorias, qual a dos maiores bemfeitores da humanidade: taes são os votos do seu cliente, amigo certo e admirador.

Alyrio Carneiro³.

(D’ O Operario, de Paracatú).

* 1: Dr. Laudelino Gomes de Almeida é goiano. Chegou a Patos sem ainda o “de Minas” em 1907, vindo de Paracatu.  Aqui casou-se com Zamita Magalhães, filha do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, proprietário do Cine Magalhães. Seu consultório foi montado na Farmácia de Agenor Dias Maciel, e dava consultas grátis aos pobres de 8 às 9 da manhã. Morou inicialmente nesse endereço, e depois de casado mudou-se para o antigo Largo do Rosário próximo onde se localiza hoje a Rádio Clube. Em 1916 mudou-se com a família para Franca, no Estado de São Paulo, deixando a população carente de Patos bastante sentida. Seus últimos anos passou-os em Belo Horizonte na Policlínica instalada em 1926. Durante sua permanência em Patos, exerceu ainda a profissão de jornalista, sendo redator do primeiro jornal impresso na cidade, O Trabalho. Leia: “Arthur Thomas de Magalhães & Família”.

* 2: Jules Payot (10/04/1859 − 30/01/1940) foi um educador e pedagogo francês, tido como um grande expoente da educação laica.

* 3: No portal Paracatu.com, a matéria “Principais fatos ocorridos em Paracatu entre o ano de 1919 até 1947” refere-se a Alyrio Carneiro: Em 2 de novembro de 1919 agressão e empastelamento da Folha do Povo que era redigida pelo Coletor Federal Capm. Alyrio Carneiro, sendo autores Santos Roquette, Romero Lepesqueur Zico, Carlos Tunes, Waldomiro e Delduque Pinheiro etc. E ainda: A 4 de dezembro agressão ao capm. Alyrio Carneiro, que foi atacado pelo grupo referido acima.

* Fonte: Texto publicado com o título “A Pedido/Agradecimento” na edição de 05 de maio de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

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