DR. LAUDELINO GOMES DE ALMEIDA, EM 1907, PEDE AO GOVERNO UM GRUPO ESCOLAR

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6Exmo. Sr. Dr. Secretário do Interior, dr. Carvalho Brito.

Consoante com o princípio pelo qual pautou V. Excia., a direção dada ao ensino no Estado de Minas, não me podia furtar ao desejo que tenho de concorrer, poucamente embora, com o meu subsídio em prol do grandioso tentame com que V. Excia. tem procurado corrigir o ensino, tão defeituosamente ministrado no Estado, se torna forçoso que nós que sabemos apreciar as verdadeiras cousas capazes de tornar o homem apto para enfrentar as peripécias na luta pela vida, concorrendo para o desenvolvimento do País, cuja única bitola se mede pela cultura intelectual, empreguemos os meios ao nosso alcance, em auxílio direto dos que distantes e indiretamente saibam agir em benefício comum.

Conhecedor de perto do processo adotado em São Paulo e no Rio de Janeiro, do modo por que se faz a educação da criança, vim de molde lembrar a V. Excia., alvitre que não deve ser desprezado em benefício da infância, que, mal cuidada perderá o precioso tempo, consumido em simulacros de instrução, crescendo verdadeiros analfabetos. Todo o rigor, o maior zelo, e encendrado amor ao cumprimento do dever garantem o resultado a que procura chegar V. Excia. Verdadeiramente bem impressionado pelo carinho e retidão com que V. Excia. vem curando dessa parte do departamento da Pasta que vem sabiamente dirigindo, sinto-me animado na presente hora em que, expontaneamente, levo ao seu conhecimento o resultado de minhas impressões, depois de ter penetrado na qualidade de examinador, convidado pelo ilustre inspetor escolar municipal, cidadão Capitão Aurélio Theodoro de Mendonça, nas três escolas aqui existentes, sendo duas do sexo masculino e uma do sexo feminino.

Na primeira cadeira a cargo do Professor Modesto de Mello Ribeiro, encontrei muita ordem e adiantamento por parte dos alunos, ensinados de acordo com o programa, sabiamente organizado por V. Excia., apresentando o Professor Modesto, o resultado dos seus esforços, tendo sido seguida à risca o programa, sendo apresentados desenhos e caligrafia com o tipo de letra americana.

Há a notar-se nessas escolas a diversidade de livros, e isso teve a sua irregularidade para o professor, e não uniformisa o ensino, que, como bem sabe V. Excia., exige métodos que estabeleçam um liame entre o todo, isto é, entre os alunos de modo a se gravar no cérebro dos menos inteligentes o que repitam e ouçam dos colegas, nas conversas, nos brinquedos e nas discussões, devendo-se a essa ginástica do espírito a gravação nítida das cousas aos poucos, de modo a ir enriquecendo o contingente de palavras, dos objetos, etc., o que não se dá com a multiplicidade de autores, trazendo, como consequência, via de regra confusão e ideia imperfeita pela balburdia que se estabelece no espírito.

Só é consentâneo com o ensino primário a uniformidade de livros. Infelizmente isso foi observado por mim nos exames dos alunos das três escolas.

Limito-me a referir de passagem às duas escolas, a 2.ª cadeira do sexo masculino e a 3.ª do sexo feminino, pois, nada tenho a dizer de modo a abonar o que me foi dado observar, com o exame de cada aluno: o método é primitivo e o aproveitamento nulo, aí o programa foi inteiramente posto à margem. Agir com o critério necessário e a independência que furtem às pobres crianças à ignorância e ao atraso que lhes reservam, é proceder em nome do futuro dessas crianças que têm o direito de saber, desde que se lhes forneça o professor e o ensino.

Não é bastante o professor. É necessário que saiba e saiba ensinar. Do contrário são despesas inúteis e os mais prejudicados não serão ainda nem os professores e nem os pais de famílias, mas sim essas crianças que consomem tempo preciosíssimo inutilmente.

O nosso meio comporta um grupo escolar. Autoriza-me a assim pensar o número avultado de crianças, número superior a 200 crianças de ambos os sexos.

V. Excia. encontrará em mim um campeão pronto a auxiliá-lo, na certeza em que deve ficar de que, independentemente, os meus serviços serão francos e leais e o único interesse que me move é lutar contra o analfabetismo, aproveitando-me do concurso tão extraordinário que o governo do intemerato mineiro, dr. João Pinheiro, vem oferecendo empenhadamente. Vem, a propósito, declinar a minha profissão, onde V. Excia. encontrar-me-á sempre pronto. Sou médico, formado pela Faculdade do Rio de Janeiro em 1903, e natural da capital de Goiás, com clínica regular nesta cidade, onde constituí a minha família.

A feitura de uma exposição que o habilite a tomar providências, faço esta, desde que ainda não tivemos uma visita do inspetor técnico.

Esta é uma cidade que se vai desenvolvendo a olhos vistos e para a qual devem voltar as vistas do governo.

É oportuno que se diga, em tempo, que de modo nenhum concordamos com o processo de carteiras (classes como chamam outros) pela posição forçada que obrigam as crianças a voltarem e ficarem com a coluna vertebral em excessiva curva, de modo a, nessa idade principalmente, dos 7 aos 12 anos, provocar o desvio e escoliose da espinha. Ademais, a luz se distribui imperfeitamente com a colocação, sem estudo prévio para um eclairage (iluminação) normal, trazendo como resultado muitas anomalias também para a visão de futuro, e mesmo nessa quadra, como tivemos ocasião de ver algumas crianças assim.

São cousas que não comportam numa resenha escrita para apanhar o correio, mas que V. Excia. dado a qualidade de emérito homem de ciência e de trabalho e que vai se dedicando com ardor a esse estudo especial. Condescender é um crime e por isso quem paga deseja ser servido nessas condições; é justo que sejam escrupulosos os serventuários do govêrno que recebem honorários para o fim único de ensinar.

Aí está porque só há motivos para ser vitoriado o Govêrno do Exmo. Snr. Dr. João Pinheiro, com tão distintos auxiliares principalmente. A professora se esforça para dar uma certa comodidade às sua alunas, e, para isso, com soma de sacrifícios, tem construída uma boa casa para esse fim. Mas, infelizmente, a boa vontade só não basta e para isso se tornar completo é necessário que possua qualidades que a tornem capaz de exercer o magistério; ora, faltando essas, desaparece tudo, e como conseqüência resultarão os prejuízos para as crianças que não se poderão manter até 15 e 16 anos na escola e retirarem-se, chamadas para outros misteres tão atrasados, lendo pessimamente mal.

Na certeza em que fico de que V. Excia. saberá desculpar o precioso tempo que lhe subtraio, aos seus enormes afazeres, aproveito a oportunidade para protestar-lhe a alta estima e consideração em que tenho a pessoa de V. Excia.

Patos, 30 de novembro de 1907.

(a) Dr. Laudelino Gomes de Almeida.

NOTA: Dr. Laudelino Gomes de Almeida é goiano. Chegou a Patos de Minas em 1906, vindo de Paracatu.  Aqui casou-se com Zamita Magalhães, filha do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, proprietário do Cine Magalhães. Seu consultório foi montado na Farmácia Agenor, de Agenor Dias Maciel, e dava consultas grátis aos pobres de 8 às 9 da manhã. Morava no antigo Largo do Rosário próximo onde se localiza hoje a Rádio Clube. Em 1916 mudou-se com a família para Franca, no Estado de São Paulo, deixando a população carente de Patos bastante sentida. Seus últimos anos passou-os em Belo Horizonte na Policlínica instalada em 1926. Leia “Médico Operador e Parteiro – 1907” , “Arthur Thomaz de Magalhães & Família” e “Dr. Laudelino x Câmara Municipal”.

* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

* Foto: Germinai.wordpress.com.

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