TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1907)
Cheia de novidades, esta santa terrinha¹!.
Umas animadoras e alegres, outras tristonhas, cheias de queixas e choros, para obedecer ao decrepito adagio: Não ha rosas sem espinhos!
Os leitores do Trabalho estão já scientes, pelo dito do zelozo correspondente, de que dois illudidos pretendem fundar aqui uma eschola particular com o pomposo titulo: “Atheneu D. Joaquim”.
Pelo titulo, e pela pessôa que estará na suprema direcção do Instituto, se vê logo que a instrucção religiosa será nelle ministrada, embora pese aos innumeros corifeus do moderno systhema de ensino leigo. E não desapprovamos a idéa; eschola sem Deus, é eschola sem moral; a sciencia, a nosso ver, não é, nunca foi antagonica da Religião, e desde que nesse estabelecimento, aberto sob o patronato do pleclaro Bispo de Diamantina, do qual traz o nome, se ministre instrucção observando a risca o novo programma de ensino, felicitamos ao seu director por querer conciliar a sciencia e Fé, irmãs unidas, para cuja separação tanto trabalho tem empregado e empregam os impios de todos os tempos.
Demais, numa terra infeliz, onde os poderes públicos ainda não julgaram conveniente collocar mestre idoneo, é bem preciso que a iniciativa particular suppra as faltas, e trate de si.
Verdade é que o povo diz á boca cheia que paga impostos, e quer escholas; mas o povo não sabe o que diz; pague e não bufe, eis a ordem.
E por fallar em impostos, grande celeuma levanta-se entre os negociantes á aqui, sobre o imposto de 100$000 para a venda do sal; não se queixam do imposto, e sim do facto de ser o sal vendido aos saccos e a retalho por uns vinte e tantos particulares, que zombam das leis e lezam os cofres públicos.
Para compensar a tristeza natural oriunda do pagamento de impostos, os preparativos de festas dão ao Arraial aspecto animador e alegre. Novenas, experiencias de fogos, alfaiates e costureiras em acção, e os negociantes á encherem as respectivas gavetas, a venderem chitas, fitas, e uma infinidade de insignificancias bonitas, que servirão para dar realce aos ingenuos e symphaticos rostos das Santa Ritenses.
Estamos anciosos por essas festas, que nos devem fornecer assumpto para os futuros echos.
Catão Netto.
Santa Rita, 30-VIII-07.
* 1: O distrito de Santa Rita pertenceu a Patos sem ainda o “de Minas” até 17 de dezembro de 1938, quando, através do Decreto-Lei Estadual n.º 148, desmembrou-se para constituir o novo município de Presidente Olegário.
* Fonte: Texto publicado com o título “Echos de S. Rita” na edição de 08 de setembro de 1907 do jornal O Trabalho, da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Original do primeiro parágrafo do citado texto.