JORNAL FOLHA DE PATOS SE DESENTENDE COM O JORNAL CORREIO CATOLICO DE UBERABA POR CAUSA DOS CAPUCHINHOS

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1942)

O “Correio Católico” edita-se, em Uberaba, como órgão do bispado que se sedia naquela cidade mineira. Dadas as suas responsabilidades, era de esperar que este jornal normasse os seus editoriais dentro de linhas mais justas. Mas, nem sempre assim acontece.

Haja vista o que escreveu, em seu número de 29 do mês passado, com o título “Inimigos que se definem”. Neste artigo o nosso jornal vem citado nominalmente, e é até ameaçado com os duendes que aterrorizavam os nossos maiores. Aos nossos leitores, muitos dos quais lêm o citado orgam da imprensa do sertão mineiro, devemos, sobre o assunto, pequena nota elucidativa.

Há tempos, noticiando as festividades que se realizaram, no bairro do Brasil, em honra a São Benedito, reclamamos contra o desejo que certos estranjeiros ali residentes, tinha de mudar o nome do bairro. Estes estranjeiros eram e são padres. Nunca cogitamos de saber como ali aportaram, porque não era de nossa competencia, nem de nosso programa, e acreditamos mesmo que ali estão de acordo com os regulamentos da Igreja. Nunca cogitamos tambem de apurar a vida dos citados religiosos, no que diz respeito aos seus afazeres de sacerdotes e de homens, pelo motivo muito simples de não ser de nossa competência, nem interessar ao nosso programa. O que reclamamos, por estar dentro das normas que traçamos, isto é, a defesa dos interesses materiais e sociais do Município e do Brasil, o que reclamamos é a falta de consideração pelas nossas cousas, e pelas nossas tradições que adventicios manifestam, abusando da ignorancia da gente humilde e sem o necessario discernimento para ver o mal que este desprezo pode ocasionar, quando procura corroer os fundamentos da nacionalidade em seus alicerces. O fato apontado pelo nosso jornal é de pequena monta, mas é de grão em grão que a galinha enche o papo. Destruindo na alma de nossa gente humilde o elo que pode ligá-la ao passado, vinculo que estrutura as sociedades e aglutina os povos, o estranjeiro, seja ele padre ou não, faz obra de quinta coluna. Contra isso protestamos e protestaremos.

Agora o que causou estranheza é que o órgão do bispado queira confundir as nossas intenções, dizendo que procuramos estabelecer diferenças entre clero nacional e clero estrangeiro, etc, etc. Isso não nos passou pela mente, porque não é de nossa competencia, nem nos interessam estas questiunculas de nonada.

O “Correio Catolico” investiu contra nós, afirmando que temos duas orientações, ora elogiando, ora atacando o clero. Sobre o assunto, convem que se esclareça, em definitivo, a nossa orientação.

Nunca elogiamos, nem nunca atacamos o clero catolico. Este assunto não é de nosso programa, e compete a jornais partidarios, isto é, jornais que se editam a serviço de determinada confissão religiosa. O nosso jornal é independente em materia religiosa, como o é em materia politica. Quando elogiamos algum membro do clero catolico, fazemo-lo em carater de homenagem pessoal a um homem digno dentro de sua profissão e acima de tudo digno como cidadão e elemento moral de peso no meio da sociedade. Neste sentido marcam-se os elogios que tributamos ao vigario da paroquia de Patos¹. E’ humano que o “Correio Catolico” defenda a tese de que tudo que o padre fala vem de Deus, e procure incutir nas massas pouco avisadas esta teoria. O que, porem, não é justo, nem humano é atribuir-nos outras intensões e propositos outros que não os por nós defendidos.

Os padres Capuchinhos que aportaram ao bairro do Brasil, de nossa cidade, são estrangeiros, que aqui estão, há muito, e que amam tanto as nossas cousas, que nem siquer falam a nossa lingua, pregando em linguagem grosseira e indigna, de nossos foros de povo civilizado. Nós não podemos aceitar a teoria de que eles, porque vestiram batina, deixaram de ser italianos, e mudaram de sentimentos. Ainda somos bastante justos para lhes reconhecer esta qualidade − o amor à terra e à gente a que pertencem.

Com estas palavras não queremos tambem dizer que os padres citados sejam maus elementos no seio de nossa sociedade. Fizemos e reclamamos contra a sua maneira de agir naquele particular. Bem ou mal intencionados, o que fizeram ou pretendem fazer é obra de quinta coluna, e foi isto que denunciamos.

O “Correio Catolico” devia prestar mais atenção no que escreve. Ele dentro de sua esfera e nós dentro da nossa. Tudo acabado e tudo bem.

* 1: Monsenhor Manoel Fleury Curado.

* Fonte: Texto publicado com o título “Nota Religiosa − Inimigos Que Se Definem” na edição de 06 de setembro de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Parte do texto original.

Compartilhe