SOBRE A RÁDIO CLUBE DE PATOS A CINCO MESES DA INAUGURAÇÃO − 1

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TEXTO: ZAMA MACIEL (1941)

Há dias, escrevendo eu sôbre o desastre da jardineira¹, disse que a nossa terra era feliz por contar com uma mocidade vigorosa, cuja fortaleza de ânimo era a garantia de seu futuro.,

Agora, tive, ao visitar os futuros estúdios da Rádio Clube de Patos, percorrendo e examinando aquela organização planejada e executada por cinco moços plena e cabal prova do que afirmára no meu último artigo para êste jornal.

Antes de transmitir as impressões, ou melhor, de fornecer aos leitores da “Folha de Patos” os dados de carater técnicos que me forneceu Nhonhô Corrêa, o diretor técnico da casa que tem paciência de alemão e energia de inglês, quero tecer alguns rápidos comentários sobre o alcance social e artístico que terá para nossa terra o empreendimento do quinteto atacante do futuro time de homens que, indubitavelmente, farão de Patos dos maiores núcleos de população do Brasil central.

Quando entrei naquela casa de brinquedos², tão artisticamente organizada (contaram-me que foi gôsto de Rui Amorim que dispoz aquilo tudo tão harmoniosamente) encontrei, de palitó azul, todo elegante, Alceu Amorim, a boemia temperada por uma sensibilidade artística que fazem dêste provecto professor das mais lídimas expressões do nosso meio intelectual.

Alceu, não querendo desmentir a sua fama, foi ao piano, colocado na sala de transmissões, e, evocando as serenatas e as cantilenas de seus bons tempos de estudante, tocou “Saudades de Ouro Preto”. A música, aumentada pelo microfone, não tinha dolência que lhe transmitem os vencidos da vida tão conhecidos na lendária cidade do centro de Minas. As notas ecoaram como símbolos representativos do espírito de uma terra moça que ainda não pôde fazer vibrar as cordas sensíveis de sua alma. E’ que, faltando meios para que essa alma pudesse manifestar-se, nunca pôde ela expandir-se, dar largas aos anceios de que, às vêzes, se vê possuida. A Rádio Clube de Patos será êste veículo. Será mesmo sempre, um centro educacional, revelador de vocações adormecidas. Daí a razão de minha afirmativa ao considerar o empreendimento daqueles cinco moços como um grande passo, ou melhor como um grande movimento de natureza social, fadado a exercer influência ponderável.

O arrojo da iniciativa, faz com que as aves agoureiras, na sua incapacidade de voar à luz do dia, profetizem o seu insucesso. Sou dos que pensam o contrário, porque tenho fé no porvir de nossa terra, crendo nos seus homens, maximé na fôrça propulsora de sua juventude.

A chama de entusiasmo que perpassa entre os organizadores da Rádio Clube de Patos é contagiante. Nhonhô Corrêa percorreu comigo, dando-me explicações minuciosas, todos os compartimentos da casa. – “Aqui, a mesa de controle provida de dois motores para reprodução de discos, dispositivo êste destinado a retransmitir o que falem outras estações. Êste outro botão permite ao operador visualizar o modo como está sendo feita a transmissão”.

“Há, continuava dizendo o conhecido eletricista, dois estúdios de transmissão, cuja montagem obedece a uma rigorosa técnica. O dispositivo de signalação é tão perfeito como o das melhores emissoras do país.

Na margem do córrego do Monjolo, na fazenda dos Limoeiros, está montado o nosso transmissor, desenhado pelo Dr. Bruno Corsino conhecido técnico nos meios radiofônicos do Brasil. A sua potência é de 100 Watts, podendo ser aumentada, caso o permitam os poderes competentes para 250 Watts de saída, na antena. A onda da estação é de 196 metros e 7 centímetros (1530 quilociclos) e será levada ao éter atravez de uma potente antena instalada em torre de 35 metros de altura.

Penso que a nossa estação far-se-á ouvir por todo o Brasil central”.

Nhonhô queria dar-me explicações, e como fossem muito complicadas desisti de aprende-las e transmiti-las aos leitores da “Folha de Patos”. Olavo Amorim será o locutor da estação e me contou que já organizou uma discotéca com um mil e muitos discos, selecionados para todos os paladares.

O Alceu Amorim e o Zico Campos serão os diretores artísticos. Para tanto envidam esforços no sentido de conseguir a colaboração de varios artistas amadores, e têm em mente ESCAVAR NOVAS revelações. Dependendo de certas formalidades burocráticas, a licença para o funcionamento da estação, não sabem os seus diretores quando poderão inaugura-la. Esperam, no entretanto, obter a licença definitiva dentro de pouco tempo³.

Quando saí do estudio à Rua Benedito Valadares vinha procurando um titulo para epigrafar estas palavras. Recordei-me da voz cheia e redonda de Olavo Amorim dizendo, ao Brasil do sertão: alô, alô, é Patos quem fala!… Nessas palavras achei o titulo, preso de emoção ao imaginar que de longe, poderei ouvir a voz de minha terra, proclamando, ufana, a sua grandeza, e a sua fé no futuro.

* 1: Leia “O Dia em Que a Jardineira da URT Tombou no Quebra Rabo – 1”.

* 2: Leia “1.º Endereço da Rádio Clube de Patos”.

* 3: Leia “Rádio Clube de Patos”, “Inauguração da Rádio Clube de Patos – Revisão da Data” e “Baile de Inauguração da Rádio Clube de Patos”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Alô, é Patos quem fala!…” na edição de 15 de junho de 1941 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Do livro “Rádio Clube – Setenta Anos e Suas Histórias”, de Adamar Gomes.

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