QUANDO PATOS DE MINAS FOI INDICADA PARA SER A CAPITAL DO BRASIL

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Ainda que tenhamos de acatar a opinião do ilustre professor Benedito Quintino dos Santos, que se expressou, no tocante à questão da mudança da Capital Federal para o planalto Central, baseado no decreto 1.803, de 5 de janeiro do corrente ano [1953], achamos interessante e patriótica a continuação do debate sôbre o assunto, de vez que isso traga imenso subsídio ao estudo das várias regiões do país que se prestam à localização para a metrópole brasileira.

São Pontos de vista que servem para avivar a necessidade premente da mudança da Capital da República, para o interior do país, de vez que as condições atuais do Rio de Janeiro estão a exigir a execução da medida a fim de assegurar-se ao governo ambiente de trabalho, com facilidade de ação para a solução dos complexos problemas da administração pública.

A CAPITAL

Tirá-la do Rio de Janeiro é uma necessidade imperiosa, mas jogá-la no planalto goiano é não ter visão das dificuldades decorrentes da imensa distância em que se acha aquela zona, sem falar do clima, que não é nada recomendável. Conhecemos grande parte do Brasil, notadamente os sertões mineiro, goiano e nordestino e achamos que a comissão que localizou a mesma região no chamado retângulo Cruls¹, não fez senão a “amiga da onça”, pois para ali nunca se mudará a Capital da República, devido a vários fatores, sendo o principal deles, a distância de um porto de mar e a dificuldade de meios de comunicação, condição que nunca se poderá desprezar. A região escolhida pela comissão nas cercanias do Retângulo Cruls, além de muito remota é completamente deserta, isolada de todos os centros comerciais.

REGIÃO MAIS INDICADA

A região mais indicada é, ao nosso ver, consoante estudos da segunda expedição geográfica ao Planalto Central, a do Alto Paranaíba. Patos de Minas, localizada nessa região, tem tôdas as possibilidades para tornar-se a Capital Federal. Aliás, dentre as oito estudadas e préviamente indicadas, figura Patos de Minas com a denominação de zona D. Quais são as condições para se instalar a capital de um grande país, cujas perspectivas de futuro são incalculáveis?

Partamos do princípio de que a Capital da República deve atender a um problema político e geográfico. No que tange à situação política, dela deve estar em condições de comunicação, para controle do governo central com todo o país. Patos de Minas está ligada a todos os quadrantes do país para leste, para o sul, oeste e centro. Basta apenas melhorar o que foi feito sem preocupação do futuro que lhe reserva a sua boa posição geográfica. No que tange à parte geográfica, temos que considerar os seguintes fatores: a) topografia; b) clima; c) abastecimento; d) proximidades de florestas; e) fertilidade do solo; f) henergia hidráulica; g) materiais de construção.

Patos de Minas possui em abundância todos êsses requisitos. Senão, vejamos: Clima excelente, com 800 metros de altitude; topografia plana, com pequenas inclinações; abastecimento de água abundante, visto como é servida pelo rio Paranaíba, que passa dentro da cidade. Êsse é perene e tem um volume de água que dá para abastecer milhões de habitantes. Além dêsse, há na periferia do município outros rios também volumosos, como o Espírito Santo, quase do mesmo volume do Paranaíba, florestas próximas que não só higienizam o ambiente, como emolduram a paisagem, solo de uma fertilidade espantosa, estando entre as duas matas afamadas pela feracidade das terras, a “Mata da Corda” e a “Mata dos Fernandes”.

Patos de Minas acha-se entre duas grandes bacias hidrográficas, a do rio Paranaíba e a do São Francisco. O Governo mineiro está construindo a rodovia Patos de Minas – Pirapora, atravessando uma região já florescente. A estrada de ferro R.M.V. já tem os trilhos quase na cidade, pondo o município em fácil comunicação com os portos de Rio de Janeiro e de Angra dos Reis. A Rêde Mineira penetra em Goiás e entra em correspondência com a E. F. Goiás, até o hinterland goiano. Em Uberaba alcança a Mogiana, que percorre o sudoeste mineiro e o Estado de São Paulo, entrosando-se com outras estradas no território paulista, de onde partem ferrovías para o sul sudoeste do país.

Nenhum lugar, pois, oferece tantas vantagens para a interiorização da Capital da República. Jogá-la no retângulo Cruls é coisa inexequível. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

* 1: A constituição republicana de 1891 contém, expressamente, no seu artigo 3.º: “Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.000 km², que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal”. Floriano Peixoto (segundo presidente da república) deu objetividade ao texto, constituiu a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil (1892), sob a chefia do geógrafo Luís Cruls, que apresentou substancioso relatório, delimitando, na mesma zona indicada por Varnhagen, uma área retangular que ficou conhecida como Retângulo Cruls. [bibliot3ca.com]

* Fonte: Texto de Mário Rebelo (O Diário) publicado com o título “Mudança da Capital da República Para Patos de Minas” e subtítulo “Inexequível a transferência para o ‘retângulo Cruls’ – Excepcionais as condições oferecidas pela cidade mineira do rio Paranaíba” na edição de 30 de maio de 1953 do jornal Tribuna de Patos, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Do livro Patrimônio de Santo Antônio: Do Sítio ao Templo, de Sebastião Cordeiro de Queiroz, publicada em 10/02/2017 com o título “Panorâmica na Década de 1950 – 1”.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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