Em junho de 1950, quando o Brasil disputava a Copa do Mundo de Futebol, vinha eu para Patos de Minas, meio roceiro, tímido e com apenas o primário. Vim para trabalhar na Casa Almeida, estabelecida na Rua Major Gote, 715 e, posteriormente, na mesma Rua, esquina com Olegário Maciel, onde funciona hoje a Drogaria Canaan.
Sendo um pouco tímido, sem prática suficiente para o comércio local, mal sabendo distinguir uma camisa ou um par de sapatos esporte de um social, não atendia a qualquer cliente, dando assim preferência para aqueles que julgava mais humildes. Assim, minha produção como vendedor não era satisfatória e, no terceiro mês, fui dispensado.
Morava com a família do patrão, Sr. Almeida e sua sogra Dona Santa. A decepção e desespero foram angustiantes. Decorridos apenas três meses daquela fuga espetacular do Sr. Monteiro e tendo que voltar cabisbaixo, dando explicações, humilhações, e talvez tendo que retornar para aquele garimpo da beira do Rio Abaeté, o principal responsável daquela fuga!… Foram três dias difíceis à procura de novo emprego, e, como galinha na manguara não tem preço, nada encontrei para fazer.
Fim daqueles três dias de expectativa e suplício, estando já para arrumar as malas, o senhor Genésio Ribeiro, irmão da Dona Santa e que trabalhava também naquele estabelecimento como caixa e conselheiro do Sr. Almeida, manda me chamar lá na loja. Meio desconfiado e lá chegando, o Sr. Ribeiro colocou-me a par de tudo. Havia aconselhado ao Sr. Almeida fazer uma troca na sua atitude, readmitindo-me e demitindo outro funcionário mais velho, mais experiente, entretanto, mais caro para a empresa.
Aquele colega, apesar de ter mais prática, não atendia também a todos os clientes, só que ele dava preferência à classe mais abastada e, se possível, às senhoras e senhoritas. Com as observações do Sr. Ribeiro, senhor maduro, vivido e experiente, com seus conselhos, foi revertida aquela situação e lá fiquei dois anos, só não ficando mais tempo porque aquela firma veio a ter sua falência decretada. Ao meu caro amigo, Sr. Genésio Ribeiro, fiquei devendo um grande favor.
Quando ali trabalhava, ainda em 1950, fiz conhecimento e amizade com um jovem de nome Elmiro, cujo apelido era Birito. Era filho do senhor Sebastião Felicíssimo, um pequeno comprador de diamantes da região. Através do Birito, que era técnico de som na Rádio Clube, lá também fiz meu bico no período da noite, durante três meses na mesa de som com dois toca-discos, aqueles famosos setenta e seis rotações em vinil. Na época eram radialistas, também chamados de locutores, os senhores Patrício Filho, Edson Nunes, Fausto Santana e Paulo Gonçalves.
Foi ali também que, pela primeira vez, via e usava um aparelho telefônico. Era daqueles do tempo do império, tocado à manivela e era usado dos estúdios para os transmissores, situados próximo do Rio Paranaíba.
* Fonte: Texto publicado no livro Memórias de um Rebelde, de José Rafael Monteiro.
* Foto: Patos de Minas numa panorâmica no final da década de 1950, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.