Acredito que todos vocês já tenham ouvido falar do Meteopé e Cevaitê, os dois times de futebol que agitam o dia-a-dia esportivo de Periquitinho Verde. De passado brilhante, mas ofuscado presente, essas duas agremiações continuam alimentando desvairadas paixões futebolísticas em todas as camadas sociais da cidade, fazendo nascer dessa extremada bem-querença, uma rivalidade esportiva que vai muito além das porventura existentes em outras localidades mais importantes de nossas terras, ou mesmo das estranjas.
Melhor dizendo: os cruzeirenses e atleticanos, os flamenguistas e vascaínos, os gremistas e colorados, ou quaisquer outros desses aficionados de carteirinha, são “fichinha” diante dos meteopenses e cevaitenses, que de tanto torcer chegam, às vezes, até mesmo à beira da irracionalidade.
Esse antagonismo clubista vem proporcionando, há anos, o surgimento de inúmeras histórias ligadas ao apaixonante “esporte bretão”. Elas são aparentemente inverossímeis, mas apesar disso, logo se incorporam ao rico acervo folclórico da cidade, passando a ser aceitas como narrativas honestas de situações incomuns não menos verdadeiras, vividas por periquitinhoverdenses de outros tempos. Dentre as tantas existentes, merece ser lembrada a dos dois atletas que há algumas décadas defenderam galhardamente o pavilhão cevaitense: eles já se foram para outra dimensão, e por isso mesmo não adianta perguntar como se ficou sabendo dessa passagem, pois a resposta está além e acima da nossa capacidade de compreensão.
O fato é que os dois rapazes eram muito amigos, porque além de suas famílias serem vizinhas, cresceram juntos, estudaram juntos, e jogaram juntos, na mesma época, no time principal do Cevaitê. Vai daí que eles resolveram fazer um acordo entre si: aquele que morresse primeiro daria um jeito de voltar logo depois, para contar ao outro como eram as coisas lá em cima.
O tempo passou, a dupla trocou o gramado dos estádios pelo campinho de futebol soçaite do clube campestre local, até que chegou o dia em que um deles faleceu. Então, certa noite, uma semana após o passamento, o sobrevivente saboreava a sua cervejinha de fim de expediente na maior tranqüilidade, quando sentiu uma súbita gelidez em volta de si. Intrigado, ele olhou para trás e percebeu que era o falecido que estava ali, com a mão em seu ombro, explicando que descera do além para cumprir o compromisso. E foi logo anunciando que tinha duas boas notícias.
– A primeira – disse o fantasma – é que continuo jogando a minha bolinha lá onde estou. Nosso campo é uma beleza, o gramado fofinho e certinho, e além disso faz sempre tempo bom. São Pedro é quem apita os jogos, e por isso não há roubo nem violência, tudo funciona dentro dos conformes.
– Coisa boa – comentou o amigo vivo. – E qual é a outra notícia que você tem para me dar?
– Ah, meu amigo, o negócio é que no próximo domingo vai haver um jogão de bola lá em cima, o maior clássico celeste, pode ter certeza disso, e você já foi escalado para jogar na ponta-direita do meu time.