O Gumercindo e a Marinalva são pais do Carlos, um adolescente viciado em videogame. Apesar de bom aluno no Marcolino de Barros e executar com garbo todas as tarefas escolares, nada mais faz do que ficar agarrado no videogame. Quando, rarissimamente, visita um amigo, é para jogar videogame. E vice-versa. Namorar não lhe preocupa nem um cadiquinho. Ademais, arrumar namorada como, se é dificílimo encontrar no reino feminino algum exemplar que goste de videogame? Num casamento de um parente em Major Porto, quando foi na marra e assim mesmo queria levar o videogame, uma moçoila lhe disse:
– Oi, prazer, sou a Maria do Carmo.
Depois de alguns seculares segundos, ele respondeu:
– Prazer, sou o Carlos de Patos.
E o diálogo ficou nisso e nunca mais se viram. Era mais ou menos assim e um pouquinho mais a vidinha do rapaz. Enquanto muita gente estava nas praças dando farelo de milho às rolinhas, Astrogildo e Sinvalda são pais da Pâmela, uma adolescente viciada em celular, com as mesmas psiques do Carlos. Numa conversa, os casais de pais decidiram dar uma mãozinha aos filhos, arquitetando uma peixada na casa de um deles. Enquanto os adultos trabalhavam os ingredientes, tomando uns drinques e colocando os assuntos em dia, o casalzinho fincou barraca na sala tentando se entender. Supreendentemente, estavam se dando bem, risadinhas para todo lado. De vez em quando os olhares eram mais profundos e não mais que de repente uma mão começou a tatear aqui, a outra ali, até que estavam tateando qualquer aérea disponível.
Na cozinha o peixe já estava quase pronto. Na sala, a coisa já estava beirando os 40 graus à sombra, e foi esquentando, esquentando, até que, no momento de uma pegada mais ardente, a garota sentiu uma cosquinha na perna esquerda. Olhou de soslaio e se deparou com uma barata daquelas vermelhas praticando alpinismo em sua coxa. Foi um grito horroroso que ecoou pela casa toda. Enquanto ela saia em disparada aos berros pela sala, os da cozinha tomavam o mesmo rumo. Foi um choque inevitável numa dobra de corredor. Juntados os cacos, a menina não parava de berrar. As visitas foram embora e durante muito tempo os amigos não se falaram. Demorou muito para que a verdade se estabelecesse.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.