Aconteceu numa faculdade localizada à Rua Major Gote. O Fulano chegou à última prova do 1.º período precisando tirar 8 em 10. Tão desesperado estava que pediu pelo amor de Deus ao Beltrano, o gênio da turma, que lhe ajudasse da seguinte maneira: ia sentar à frente dele; como ele era fera na matéria e certamente iria acertar todas as questões, o Beltrano fazia a prova e, despistadamente, trocavam as provas; aí o Beltrano terminava a prova do Fulano e entregava. Estava resolvido o problema. Aparentemente, naquele momento, o Beltrano deu a entender que estava tudo bem. Aí o Fulano ficou felicíssimo da vida já se imaginando livre da prova de recuperação, e, primordialmente, livre da bronca dos pais.
No dia da prova, como combinado, o Fulano se sentou na cadeira à frente do Beltrano. E como era esperado, o Beltrano completou a prova em poucos minutos. Se por esquecimento ou não, se por descaso com o colega ou não, ele foi logo se levantando, entregou a prova, assinou a lista de presença e se mandou pela porta que ficava nos fundos da sala, fato não reparado pelo Fulano.
Enquanto o Fulano estava desesperado só esperando o momento da troca das provas, a lista de presença chegou até o colega imediatamente atrás da cadeira onde esteve sentado o Beltrano. O colega assinou, se levantou um pouquinho, espichou o braço e cutucou as costas do Fulano com a lista. Quando o Fulano sentiu aquilo, olhou um pouquinho de banda e viu uma folha de papel. Então percebeu o professor lhe reparando. Acreditando que era o Beltrano lhe passando a prova, e nervosíssimo por perceber que o professor estava de olho nele, pegou sutilmente a folha e sentou em cima dela.
O Fulano tremia e suava imaginando como sair daquela situação. E o professor lá, curioso, esperando para ver o que ele ia fazer com a lista, até que resolveu assuntar. Quando o Fulano viu o professor ao lado encarando-o com jeito de poucos amigos, se descontrolou:
– Pelo amor de Deus, professor, não me tome a prova. Eu estava desesperado e…
– Que é isso, rapaz? Por que este desespero?
– Professor, me desculpa. Por tudo quanto é mais sagrado nesta vida, deixa eu terminar a prova.
– Mas rapaz, o que está acontecendo contigo?
– Eu tenho que tirar 8,0 e nunca ia conseguir se não fizesse isso. Por favor, me perdoa.
– Escute aqui, meu rapaz, acalme-se e continue a fazer a prova. Agora, quer fazer o favor de assinar a lista de presença e passar para seu colega à frente.
– Lista de presença?
– Sim, meu rapaz, lista de presença.
– Que lista de presença, professor?
– Exatamente esta que está toda amassada aí debaixo da sua bunda. Por um acaso o senhor pode me explicar por que fez isso?
– Isso aqui não é a prova? Cadê o Beltrano? Nossa Senhora, o que eu fiz?
– Justamente! Por que você fez isso?
– Gente do céu, o desgraçado do Beltrano se foi e não…
– Mas o que o Beltrano tem a ver com a lista de presença?
– Não é nada não, professor. Pronto, aqui está a lista assinada. Desculpe-me por isso. É que estou muito nervoso
– Tá bom, deixa pra lá. Agora vê se acaba de fazer a prova.
Resultado: o Fulano, como era de se esperar, não conseguiu fazer a prova, ficou em recuperação, não passou na recuperação e, enfim, teve de repetir a matéria, para tristeza dos pais que tanto esperavam dele. Mas, pois é, para felicidade de muitos, ele deu a volta por cima, formou-se e hoje é um dos bons odontologistas de Patos de Minas.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.