Na década de 1970 tinha uns garotos tão atentados que foram apelidados de Irmãos Metralha, alusão àqueles desastrados personagens de Walt Disney. Mas nada a ver com a criminalidade dos ditos menores de hoje, que matam bestamente por um par de tênis. O negócio dos Metralha patenses – que não queriam nada com escola – era fazer arruaças e levar vantagem nos pequenos serviços de engraxate, poda de jardim, lavagem de carro e por aí vai. Ô saudade dos menores delinquentes de antigamente!
Um dia um amigo resolveu se casar. Quando ficamos sabendo da notícia pela boca do próprio, hoje odontólogo, os olhares da turma – que hoje já não mais é turma e sim galera – se cruzaram e logo uma nuvenzinha cinzenta se armou sobre nossas cabeças: – Temos que aprontar uma pra cima dele! Mas o que? Deveria, óbvio, ser alguma pegadinha sociável, nada constrangedor. No meio das confabulações surgiu uma ideia, aprovada instantaneamente. Mas quem executaria o plano? Mais confabulações e os Irmãos Metralha venceram por unanimidade.
A cerimônia religiosa foi na Igreja dos Capuchinhos. Muito bonita, templo lotado, com nosso amigo se emocionando no momento do sim. Na porta da Igreja, quando voa grão de arroz pra todo lado, três irmãos Metralha se agarraram às calças do noivo gritando:
– Não, pai, não abandone a nossa mãe… por favor, pai, não nos deixe…
Foi um auê danado, uma confusão tremenda, e quando já estávamos longe dos olhares esbugalhados ainda percebemos os Metralha agarrados nas pernas do amigo que tentava de todas as formas se livrar deles. Ficamos sabendo no outro dia que após o caso esclarecido e muita risada dos convidados os noivos partiram para a sonhada lua-de-mel. Mas o nosso amigo ficou meses sem falar com a gente.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.