ARRANCAMENTO DE PENAS EM PSITACÍDEOS

Postado por e arquivado em ANIMAIS DE COMPANHIA, PÁSSAROS.

Existem muitas causas documentadas ou fatores que contribuem para o arranchamento de penas (picacismo) na família dos papagaios e parentes. Deve ser descrito como uma síndrome e não como um diagnóstico, sendo descrito como um sinal clínico de um problema subjacente ou processo patológico. Define-se como uma condição em que a ave arranca ou danifica as suas penas ou pele, afeta o normal crescimento das penas, estando associado ao triturar ou arrancar das penas com ou sem comportamento de automutilação, em múltiplas áreas do corpo. Muitas vezes, um único fator não é suficiente para desencadear a síndrome por si só, mas pode contribuir para o estresse da ave, o que eventualmente resulta em um comportamento anormal ou estereotipado como arranchamento de penas.

Estima-se que um em cada dez psitacídeos de cativeiro apresentam a síndrome. As penas são arrancadas pincipalmente nas regiões de fácil acesso do pescoço, tórax, flanco, coxa e asa. A maioria dos autores refere que as aves têm preferência por arrancar penas de área do peito. Além disso, a área ventral da asa ou a parte interna das coxas são regiões predominantemente acometidas. As penas podem ser arrancadas ou mesmo bicadas e “mastigadas”, ficando neste último caso com um aspecto irregular e esfarrapado.

O arranchamento de penas de origem puramente comportamental ocorre induzido por um ou mais fatores. A atividade normal de cuidados com as penas se torna aumentada em duração, intensidade ou ambos em razão de fatores psicológicos. Geralmente o arranchamento é autoinfligido, mas, quando os animais são alojados em grupos, às vezes pode ser direcionado para companheiros de gaiola ou filhotes. Nesses casos, a área principal parece ser a cabeça e a face. Embora o arranchamento possa ser observado em todos os psitacídeos, é particularmente comum em papagaios cinzentos (Psittacus erithacus), cacatuas (Cacatua spp.) e papagaios de Eclectus (Eclectus roratus). É menos frequente em papagaios (Amazona spp.), caturras (Nymphicus hollandicus) e periquitos (Melopsittacus undulatos). Papagaios cinzentos aparecem como uma das espécies mais predispostas, embora isso possa ser devido ao fato deste papagaio ser uma das espécies mais comuns em cativeiro.

Quando as aves em cativeiro não são capazes de realizar os comportamentos específicos da espécie ou não lhes são proporcionados estímulos-alvos destes comportamentos, pode-se gerar uma situação propícia ao desenvolvimento do picacismo. Há, ainda, sugestões de que o picacismo seja um mero hábito comportamental, comparável ao roer as unhas nos humanos; um comportamento exagerado de cuidado das penas resultante de estímulos ambientais inadequados; ou, ainda, um comportamento disfuncional resultante de um desenvolvimento anormal do cérebro e de alterações neuroquímicas.

O picacismo é geralmente atribuído a uma variedade de causas sociais que podem incluir problemas de socialização e ausência dos pais durante o período da criação (posteriormente resultante em falha em aprender comportamentos naturais de rotina). Um destes comportamentos refere-se ao cuidar das penas, à capacidade e à intensidade com que é realizado e à rotina do animal. Por estarem isoladas de aves adultas da mesma espécie, o comportamento aprendido pode ser inadequado; pode ser excessivo ou pode mesmo haver incapacidade de cuidar das penas. Privação de um parceiro social ou sexual (especialmente em animais reprodutivamente ativos) pode levar a ansiedade de separação, solidão, tédio, frustração sexual e/ou comportamento de “busca de atenção”.

Além das etiologias comportamentais pode haver também causas genéticas. Em papagaios Amazonas foi estimada uma elevada herdabilidade, provando a existência de uma base genética, sem, contudo, ser descartada a possibilidade de aprendizagem deste comportamento a partir dos seus progenitores. Segundo diversos autores, podem ocorrer também causas orgânicas que incluem: alergias, endoparasitas, ectoparasitas, irritação e ressecamento da pele, hipotireoidismo, obesidade, dor, doença reprodutiva, doenças sistêmicas (especialmente fígado e rins), deficiência de cálcio, cólicas, psitacose, intoxicações, foliculite, anormalidades genéticas das penas, deficiências nutricionais (em particular vitamina A) e neoplasias.

Devido à sua complexidade e falta de trabalhos científicos a respeito, esta síndrome de arranchamento de penas em psitacídeos é um dos problemas comportamentais mais desafiadores para os Médicos Veterinários. A comparação com a síndrome obsessiva compulsiva em humanos e o arranchamento de penas em galinhas poedeiras permite uma visão mais ampla da doença e fomenta novas pesquisas. Ainda é necessário muito estudo na área. Pouco se sabe sobre os efeitos das drogas psicotrópicas nestes pacientes. A prevenção através de um manejo correto em cativeiro e aumento da complexidade do ambiente é um ideal a ser buscado.

* Fonte: Síndrome do Arrancamento de Penas em Psitacídeos – Revisão de Literatura, de Natália Fagundes (Porto Alegre/2013).

* Foto: Proparnaiba.com.

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