Pode parecer inocente e sem consequências, mas aquele pássaro na feira-livre, na beira da estrada ou no pet shop talvez seja um dos milhões retirados da natureza, transportados em caixas minúsculas, sem alimento, água ou ventilação e, se estiverem entre os poucos que sobrevivem a todo esse sofrimento, correm o risco de ter pedaços da asa cortados, receber bebida alcoólica ou serem cegos para parecerem mansos. Depois de comprados, ainda podem ficar atrofiados e deformados por viverem em gaiolas pequenas demais, ou doentes por receberem a comida errada. A estimativa é que o comércio ilegal de animais movimenta pelo menos US$ 10 bilhões por ano, US$ 1 bilhão só com espécies brasileiras. De cada 10 aves, 8 morrem na captura ou transporte.
Na internet há diversos anúncios de venda e pedidos de compra, especialmente de papagaios e araras: muita gente querendo um casal de araras para ter no sítio. Nesses anúncios o vendedor sempre diz que tem autorização do IBAMA, ou seja, que essas aves que ele está vendendo foram criadas em cativeiro, e não caçadas na natureza. Mas é preciso tomar cuidado porque criadores não idôneos falsificam esses documentos, pegam filhotes na mata e colocam a anilha, às vezes pegam até adultos e alargam a anilha ou quebram os dedos da pata para colocar a anilha. Filhote de Papagaio, R$ 1.800; casal de Araras Canindé mansas, R$ 2.300. Casal de Ararajubas, R$ 3.500.
Com frequência o IBAMA apreende carregamentos com centenas de Canários-da-Terra ou filhotes de Papagaios. O mais triste é que, mesmo recebendo a denúncia, nem sempre a história tem final feliz. É comum o IBAMA não ter recursos financeiros e a estrutura necessária para executar os procedimentos que precisam ser feitos antes de devolver as aves à natureza, e o destino pode ser a morte ou o cativeiro mesmo. Pesquise na internet: você verá dezenas de notícias sobre apreensões, as condições degradantes em que as aves estavam e, infelizmente, também relatos de aves que morreram no pátio do IBAMA.
Enquanto houver quem compra, sempre haverá quem vende. Se você gosta das aves brasileiras, comprar sem ter certeza da origem é uma das piores ações que você pode fazer. Você corre o risco de estar contribuindo para esse processo em que as aves são caçadas, torturadas, mortas, e ainda dão lucro a traficantes. É importante deixar claro que o tráfico de animais silvestres não tem nenhuma relação com criação de Canários Belgas ou Calopsitas, que são espécies que não fazem parte da fauna brasileira e só sobrevivem como animais de estimação.
Há uma lista de aves silvestres brasileiras cuja criação amadora e comercial é permitida com autorização do IBAMA. Entre os amadores, as mais famosas são os Curiós, Canários-da-Terra, Azulões, Trinca-Ferros, Bicudos, Coleirinhos. Araras, Tucanos e Papagaios só podem ser criados comercialmente. Segundo a Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros há 500 mil criadores de aves silvestres cadastrados.
Os criadores e associações sérias fazem campanha contra o tráfico e orientam claramente aos novatos que é proibido ter uma ave que não tenha vindo de um criador certificado. Se você caça uma ave e coloca na gaiola, mesmo que não seja para vender, está cometendo um crime cuja pena é de 6 meses a 1 ano de prisão, mais multa que pode chegar a R$ 5.000 por ave, dependendo da espécie.
* Fonte: Virtude-ag.com.
* Foto: 4pjitapevi.wordpress.com.