AELUROSTRONGYLUS ABSTRUSUS

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O Aelurostrongylus abstrusus é um nematoide de forma capilar e pequenas dimensões que tem como hospedeiro definitivo o gato e como hospedeiros intermediários moluscos gastrópodes. Este parasita aloja-se no parênquima pulmonar do hospedeiro definitivo desencadeando uma doença subclínica que pode agravar-se em animais imunodeprimidos. No ciclo evolutivo as fêmeas realizam a ovispostura nas ramificações da artéria pulmonar. Através dos capilares os ovos são arrastados até os pulmões, onde eclodem e evoluem as L1. As larvas do primeiro estágio atravessam a parede que separa os capilares do espaço alveolar, alcançam os bronquíolos, são arrastadas com a secreção da mucosa aos brônquios e levadas a traqueia, laringe e chegando a faringe, quando são expectoradas ou deglutidas e eliminadas com as fezes.

Para continuar seu ciclo evolutivo, as larvas do Aelurostrongylus precisam ser ingeridas por caracóis (Helix sp.) ou lesmas (Deroceras sp., Agriolimax sp., Arion sp.). Neste hospedeiro intermediário, essas larvas realizam duas mudas e as L3 constituem pequeninos cistos amarelados, onde vivem até três meses. Neste ciclo pode existir hospedeiros paratênicos¹ como aves, répteis, rãs, mamíferos insetívoros ou roedores silvestres, que ingerem os hospedeiros intermediários. O gato infecta-se ao caçar os hospedeiros paratênicos infectados com as larvas do parasita. Esta parasitose é mais frequente em gatos jovens, devido aos hábitos de jogo, e gatos machos rurais, por causa dos hábitos noturnos.

Após a ingestão do hospedeiro paratênico as larvas emergem dos cistos no trato digestivo do gato, atravessam a parede do esôfago, estômago ou intestino, atingem a circulação sanguínea e através dela vão até os pulmões, onde mudam para L4, depois de cinco a seis dias da infecção, e o estagio adulto surge depois de oito a nove dias da ingestão do molusco contaminado. As infecções em indivíduos saudáveis manifestam-se de forma subclínica devido a sua evolução auto limitante. Em animais imuno suprimidos os sintomas são principalmente do tipo respiratório, como tosse seca causada por traqueíte, bronquite ou até pneumonia podendo ser acompanhada de febre caso haja infecção bacteriana secundária. Existem relatos de animais que apresentaram polipneia (aumento da respiração) ou dispneia (dificuldade de respirar), sendo a tosse pouco frequente ou ausente.

Os sintomas respiratórios são devidos aos ovos e larvas localizados nos alvéolos pulmonares e à irritação mecânica produzida pelas larvas nos aparelhos respiratório e digestivo. Pode-se observar, também, uma eosinofilia acentuada que persiste por até 24 semanas. Além disso, o animal pode apresentar mal-estar, emagrecimento, crises epileptiformes, perturbações vestibulares, hemorragias gengivais. Apesar destes sintomas, aparentemente não estarem relacionados com a parasitose, costumam desaparecer quando é instaurado o tratamento antiparasitário.

O diagnóstico é feito pela comprovação e identificação microscópica de larvas em exame parasitológico de fezes ou de adultos na artéria pulmonar ou no pulmão por ocasião da necropsia. O lavado traqueobrônquico, após concentração, pode também ser utilizado no diagnóstico. O exame radiológico permite, como prova complementar, a observação dos pulmões e pleura. O tratamento é feito com fenbendazol, albendazol, levamisol, mebendazol, praziquantel e ivermectina, podendo-se associar glicocorticoide e broncodilatadores.

De acordo com o que foi exposto, pode-se concluir que a Aelurostrongilose é uma doença pouco lembrada na clínica frente a um quadro de gatos com pneumonia. Assim, cabe ao clínico fazer uma boa anamnese sobre os hábitos do animal, pois mesmo felinos de vida semi-livre podem, esporadicamente, alimentar-se de hospedeiros paratênicos infectados.

* 1: É o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimento ou reprodução, mas permanece viável até atingir novo hospedeiro definitivo.

* Fonte: Aelurostrongilose em Gatos: Revisão de Literatura, de Ataliba Bueno, Danilo Tadeu Bertozzo, José Luiz Camilotti Nardo, Maria Francisca Neves e Rogério Ernandes Freitas, publicado no número 11 (julho 2008) da Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353.

* Foto: Studyblue.com.

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