Estávamos tomando umas geladinhas num boteco ali perto do campo da URT. Conversa vai, conversa vem, reparamos num bêbado dormindo numa mesa próxima. Apesar da zoeira no local, o sujeito estava literalmente apagado, com a cabeça apoiada sobre a mesa e os dois braços pendentes. Mas logo percebemos que ainda havia nele uma réstia de lucidez, pois, quando o botequeiro o cutucou, o quase morto deu uma remexida, custou a firmar o pescoço na tentativa de segurar a cabeça, tremeu pra leste, oeste, sul e norte, acabando por voltar à sua posição preferida, que era dormitar sobre o tampo da mesa. Nosso papo foi rolando até que um amigo reparou numa singularidade.
– Uai, que negócio esquisito. De tempos em tempos o botequeiro acorda o cara, ele inicialmente se assusta e age como estivesse se afogando. Depois se recupera, volta à sua posição normal na mesa e o botequeiro o deixa lá. Assim já vi umas quatro vezes.
Por causa disso resolvemos perguntar por que raios aquilo estava acontecendo.
– Ei, não me leve a mal, mas por que você a todo momento acorda o bêbado, ele custa a lhe responder, você o deixa lá e não o manda embora?
Com a maior cara de pau o botequeiro nos disse:
– Eh, eh, eh, nada não gente. É que o cara, além de não incomodar ninguém, toda vez que eu o acordo ele paga a conta.
Foi a nossa vez de pagar a conta e nos mandar daquele boteco. Nunca mais voltamos lá!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.