Morreu a “Tita”. Seu nôme era Isaura Elisa dos Santos. Não sei com que idade veio a falecer. Devia ter mais de sessenta anos. De seus familiares, me lembro bem de seu irmão Lasaro Santos. Entre os seus sobrinhos, conheço o Professor Laumar Santos. Gente boa, ambos, sem dúvida alguma.
Sei, ainda, que a “Tita” era natural de Lagoa Formosa. Mas, quem, em Patos de Minas não conheceu a “Tita”? Quem não se lembra de sua figura sempre alegre, presente nas festas maiores da cidade? Quem não se recorda da “Tita” presente nos velórios dos principais mortos da cidade? Quem não se lembra de sua presença nos comícios políticos? E tinha que ser do lado do saudoso “Binga”. Falar mal perto dela, do “Binga”, da UDN e da URT, dava briga na certa. Era uma figura humana extraordinária que se tornou popularíssima entre todas as camadas sociais da cidade.
Ultimamente a “Tita”, acometida de moléstia irrecuperável, desapareceria da circulação. Conseguiu aposentadoria, pelo INPS, e se retirou até os seus últimos dias de vida, à pequena casa que lhe deram para morar, na “Vila Dona Inhá”. Morreu a “Tita”. A cidade inteira sentiu o seu desaparecimento. Sua figura, de quando percorria as ruas patenses, com um carrinho de mão, levando suas latas de lavagem, para tratar de seus porcos, haverá de ser sempre lembrada por todos nós.
A “Tita”, por onde passava, deixava seu rastro de alegria, com o seu semblante sempre sorridente. Era, acima de tudo, uma pessoa boa, cristã, que gostava de seus semelhantes. Não fazia mal a ninguém. A nossa homenagem, pois, a ela, por ter deixado este mundo, em busca da Casa Celestial.
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Tita de guarda sol, balaio no braço, vendendo amêndoas, correndo a cidade de norte a sul, de leste a oeste. Tita imprudente, entrando nas prosas, nas rodinhas de homem. Tita sendo o tutú das crianças: “Menino não faz isto que eu chamo a Tita”. E a Tita magoada, porque gosta das crianças.
Tita nos casamentos de vestido novo, bolsa na mão e pé no chão. Seu convite é sempre o primeiro a ser entregue, pois um esquecimento é ofensa para o resto da vida. Tita nos velórios com os olhos tristes e molhados de lágrimas, porque todo morto é seu amigo. Tita cursilhista, sempre presente às Ultreyas enteando com entusiasmo o Decolores. Tita diariamente nas missas vespertinas recebendo a sagrada Eucaristia.
Mas… de repente você sumiu, Tita. Fui encontrá-la lá na “Vila D. Inhá”, na sua casinha de dois cômodos, com suas pernas inertes. Você Tita, que corria a cidade de norte a sul, leste a oeste. Seus olhos estavam úmidos, seu sorriso triste. Agora você partiu. Partiu com flôres e o hino Decolores. Terminou a sua caminhada. Chegou na casa do Senhor. Foi recebida com alegria, porque, você, Tita, era uma criança grande, de vestido novo, bolsa na mão e pé no chão!
* Fonte: Textos publicados na edição de 17 de fevereiro de 1979 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam. O primeiro de autoria de Wulfrano Patrício, com o título “Morreu a Tita”; o segundo de J.B.M., com o título “Tita” e datado de 14/02/1979.
* Foto: Tita, em 1960, ladeada por Wulfrano Patrício à esquerda e Sebastião Alves do Nascimento (Binga) à direita, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam, publicada em 13/06/2014 com o título “Tita e Seus Amigos”.