JOÃO BERNARDINO VAZ DA ROCHA (TARZAN)

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DSC02734Há determinados indivíduos que se destacam num ambiente social não pelas posses materiais e nem por algum tipo de poder político, mas pela simplicidade. Dizem comumente que por volta dos 30 anos as pessoas começam a se perguntar onde foram parar os amigos. E ainda que os amigos há muito ausentes não são substituídos ao longo da caminhada. São verdades que afetam a maioria da população em qualquer lugar do mundo. Mas estas verdades passam longe do cidadão João Bernardino Vaz da Rocha, o popular Tarzan, que aos 77 anos de idade esbanja simplicidade, simpatia e uma trupe de amigos de causar inveja a qualquer um.

Tarzan veio ao mundo no Hospital Regional Antônio Dias em 27 de maio de 1938. É um dos 9 filhos do casal João da Rocha Filho (Joãozinho Rocha¹, construtor do Edifício Ponto Chic) e Maria Vaz da Rocha. A infância foi típica, “pura molecagem mesmo”, como faz questão de afirmar, com carrinho de rolimã, bolinha de gude e muita pelada no Larguinho do Joãozinho Andrade (Praça Antônio Dias). “A gente jogava bola lá e tinha até o time da garotada de lá. E ainda tinha o time da Praça da Distribuidora (Desembargador Frederico). Juntava um monte de gente em volta do campo de terra para ver a gente jogar. O Joãozinho e o Júlio Bruno colaboravam muito nos presenteando com camisas, bolas e até chuteiras. O que a gente não gostava era quando se instalava um circo na praça, muito comum na época. Atrapalhava nossas peladas, né. Em compensação, era a oportunidade pra ganhar um dinheirinho, pois eu e alguns amigos trabalhávamos nos circos vendendo balas”. O circo foi uma grande paixão na infância de João Bernardino. “Eu me encantei tanto com o circo que montava o meu cirquinho no quintal de casa (no quarteirão da Major Gote entre José de Santana e Farnese Maciel). Tinha picadeiro e até uma mini arquibancada de tábuas, só não tinha lona, que aí já era demais, né. Eu e uns amigos fazíamos umas graças para a plateia de garotos e sabe qual era o preço da entrada? Dez palitos de fósforo! Era a inocência mesmo de uma infância feliz”.

No Grupo Escolar Marcolino de Barros completou o primário. Em 1953 foi estudar em Araguari como interno. De 1954 a 1955 estudou no Ginásio Diocesano de Uberaba. Em 1956 voltou para Patos de Minas e foi fazer o Tiro de Guerra. Enquanto complementava os estudos na Escola Normal, trabalhava no armazém do irmão no prédio onde funcionou o Hospital São Lucas, na Praça Antônio Dias. Foi nesse período que começou a jogar futebol no Mamoré e fez o nome como um dos craques do time até 1961. Ainda sobrou tempo para uma breve temporada em Belo Horizonte onde trabalhou na Cervejaria Antarctica Paulista e depois na Mesbla. Em 1959, de volta a Patos de Minas, foi trabalhar no Banco Hipotecário (depois BEMGE), sendo transferido em 1963 para a cidade do Rio de Janeiro, permanecendo no banco até 1969, quando foi trabalhar para uma indústria de móveis de luxo pertencente a Giulite Coutinho, ex-presidente da CBF. “O escritório da firma do Giulite ficava no Bairro Ipanema, perto do famoso Bar Jangadeiros. Tive então a oportunidade de conhecer uma turma boa de música que se reunia frequentemente lá, os caras da Bossa Nova e a turma do Pasquim”.

João Bernardino permaneceu no Rio de Janeiro até 1969, tendo tempo ainda de trabalhar por três meses numa empresa (Melatom) como técnico de contabilidade, localizada no Bairro São Cristóvão. Foi quando voltou definitivamente para Patos de Minas para trabalhar com o pai num bar e sinuca localizado na Rua Major Gote entre José de Santana e Olegário Maciel. “O bar ficava ao lado do prédio onde hoje é uma sorveteria e tinha 18 mesas de sinuca. De lá nos instalamos no Cine Tupã e depois fomos para a Rua Tenente Bino, onde ficamos até 1991. Quando o papai morreu em 1973, ficamos eu e meu cunhado Durango”.

João Bernardino Vaz da Rocha faz questão de salientar que o fato mais importante de sua vida foi ter conhecido Maria Helena Martins. “A Maria Helena foi um anjo enviado a mim por Deus. Eu a conheci no início de 1970 e fui um pouco irresponsável com o namoro, eu não pensava em me casar. Mas aos poucos sua importância em minha vida foi se evidenciando até que a responsabilidade me uniu definitivamente a ela em 17 de janeiro de 1976, quando nos casamos. De lá para cá já se foram 40 anos de companheirismo, uma mulher forte, briosa e que vem sendo o meu esteio, o meu sentido de viver feliz com o próximo, com os amigos e com meus dois filhos, Jober Frederico e Henrique Antônio, este que já me deu duas lindas netinhas”.

Pouco tempo depois do encerramento do bar, Tarzan foi convidado por Júlio Macedo para trabalhar no Mamoré, atividade que lhe deu muito prazer durante dois anos. Entre 1995 a 2001 foi gerente do Patos Social Clube, quando a sociedade reunia-se aos sábados e domingos no restaurante, os casais, enquanto os filhos se divertiam na boate, com uma excelente música, comandada pelo DJ Anderson, mais conhecido por Andyc.  Em 2006, na tentativa de ofertar aos sócios da terceira idade da Sociedade Recreativa Patense uma alternativa de divertimento, criou o Forró da Recreativa, que acontecia todas as noites de quarta-feira. Não durou muito, mas foi sucesso, tanto que o Patos Social Clube o convidou para levar a atividade para lá, agora com o nome de Forró do Tarzan. Outra interrupção ocorreu em 2013, quando o tradicional clube da Rua Olegário Maciel encerrou suas atividades.

Nesta altura do campeonato, o Forró do Tarzan já era praticamente uma “instituição” das noites de domingo. Por isso a Recreativa, que vinha de uma reforma geral em suas dependências, o convidou para levar o seu famoso forró para lá. É Maria Helena quem comenta sobre esta mudança: “Desde o início, criamos uma atividade social para o pessoal da terceira idade, que sabemos não ter muitas opções de divertimento na cidade. Fixamos então a idade acima de 30 anos, mas quase todo mundo era acima de 60, tinha gente até de 90. Como o sucesso despertou o público mais jovem, estabelecemos a entrada para acima de 25 anos. Temos uma enorme preocupação com a segurança e, principalmente, de não excedermos o limite de capacidade estabelecido pelo Corpo de Bombeiros, que é de 313 pessoas. Graças a Deus todo domingo à noite os forrós transcorrem em paz e há muita diversão”.

Atualmente, entre a companhia sadia de Maria Helena, os dois filhos, as duas netas, os incontáveis amigos e o trabalho com seu Forró, Tarzan desfila sua simpatia pelas ruas da cidade sabedor que é um patense de mão cheia e que já legou o seu lugar no torrão em que nasceu.

NOTA: João Bernardino Vaz da Rocha faleceu em 04 de dezembro de 2022.

* 1: Leia “João da Rocha Filho”.

* Texto e foto (26/01/2016): Eitel Teixeira Dannemann.

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