João da Rocha Filho, o Joãozinho Rocha, nasceu em 25 de maio de 1902 na residência dos pais no hoje denominado Bairro Cerrado, sendo o segundo filho do casal João da Rocha Filgueira Sobrinho e Ambrosina da Rocha Filgueira (Zina Rocha). Com 17 anos, em 1919, perdeu o pai, morto prematuramente de apendicite. A mãe reuniu os filhos, dez ao todo, e determinou que dali em diante o Joãozinho seria o HOMEM da casa e que todos os irmãos seguissem as suas determinações – José Rocha (conhecidíssimo no Bairro Rosário com seu comércio em frente a Igreja do Rosário); Ari, Antônio e Olinto, os irmãos homens e Otília, Lizoca, Fulô, Mariinha e Luzia, as mulheres.
Além de agricultor, Joãozinho Rocha aprendeu com o pai e os tios a profissão de carapina (carpintaria/marcenaria) e nela trabalhou por longos anos, sustentando a família e encaminhando alguns dos irmãos. Ainda se encontra na Lagoa – hoje bairro do Rosário – casas construídas por ele. Na ponte do Rio Paranaíba trabalhou no escoramento e assoalhamento.
Em 1926 casou-se com a sua prima Maria Vaz da Rocha, filha de Teobaldo José da Rocha e Maria Pereira Vaz da Rocha. O casal teve os seguintes filhos: José Vilácio, Áurea, Altino (Galego), Alina, João Bernardino (Tarzan), Maria dos Reis e Maria José (Zezé).
Em 1932 entrou no comércio montando um bar e confeitaria, onde o cafezinho e o chocolate quente eram servidos nas mesas, acompanhado das quitandas que sua mãe fazia. Tinha também os reservados onde eram servidas as bebidas e também refeições. O Bar do Ponto, nome do estabelecimento, ficava na Rua General Osório próximo ao Cine Glória, nos tempos do tradicional vai e vem. O local onde funcionou o cinema foi sede da empresa Móveis Carvalho por muitos anos.
Tendo prosperado o Bar do Ponto, comprou um automóvel tipo ramona¹ e com o seu amigo José de Brito (pai do fundador do Posto Água Limpa) foram a São Paulo a passeio e o destino quis que fossem premiados na Loteria Federal em 31 de março de 1935, ganhando no primeiro prêmio, com o bilhete número 14931, a quantia de DUZENTOS CONTOS DE RÉIS – uma fortuna na época. Existe um retrato dos dois ganhadores tirado quando recebiam a quantia em dinheiro vivo, que o montante do dinheiro ia até o queixo dos ganhadores e eles trouxeram o dinheiro para Patos na ramona.
De volta a Patos e com muito dinheiro no bolso, no início de abril comprou do Sr. Olívio Borges um casarão velho localizado na esquina da Rua General Osório com a Desembargador Frederico (hoje Major Gote) e ali seria construído o primeiro prédio de dois pavimentos na cidade, para fins comerciais. Com o projeto pronto, executado pelo Dr. Luiz Alemão e administração do mestre de obra Antônio Espanhol e dos pedreiros mais capacitados da época, como o seu cunhado Manoel Ramos, casado com sua irmã Luzia, e outros, foi dado o início a construção. Para tanto, foi necessário que montasse uma olaria própria para fornecimento dos tijolos. A obra ficou pronta no final de 1935. Como na época a energia da cidade era muito precária, o edifício foi dotado de um motor a diesel e um dínamo para manter sem interrupção a energia. O consumo energético do prédio seria muito grande, com as instalações da fábrica de gelo, de picolé, cafeteria e as próprias luminárias dos cômodos. Em cerimônia religiosa com a presença das autoridades civis, políticas e representativas da cidade foi bento e batizado com o pomposo nome de Edifício Ponto Chic. O bar foi instalado em estilo moderno, apresentando as garçonetes (mulheres no trabalho) para atenderem as mesinhas e reservados, sempre com um sorriso no rosto.
Na história da Sociedade Recreativa Patense está o nome de João da Rocha Filho como um de seus fundadores e acionista em 8.º lugar de adesão. E foi no segundo pavimento do Edifício Ponto Chic que se instalou o clube social, num amplo salão para festas, escritório da Diretoria e cômodos de lazeres, banheiros, etc., como consta no seu livro de atas.
Mesmo participando ativamente da política, nunca aceitou concorrer a cargos ou empregos para si ou seus familiares. Preferia estar ao lado dos seus parentes e amigos indicando a seu partido e seus correligionários, que corriqueiramente lhe pediam apoio.
Em 1943 torna-se fazendeiro no município de Paracatu e entra no comércio de criação de gado leiteiro. Faz financiamento pelo Banco do Brasil para recriar e logo vem a queda do zebu. Vendeu grande parte do gado que tinha e liquidou a dívida financiada pelo banco e como prêmio por não ter dado prejuízo à instituição financeira e ao País perdeu o crédito… A fazenda ficou vazia por uns dois anos, mas se reabilitou e o gado voltou a pastar nas largas da fazenda. Ainda hoje esta fazenda existe no Município de Paracatu, pertencente ao Senhor Altair Caixeta.
Em 1945, Patos de Minas, um Município notadamente agropecuário, pecava por não ter uma indústria de laticínio que incentivasse a maior produtividade do leite, Foi então que formou com o seu irmão Olinto a Empresa Irmãos Rocha, montando a fábrica de Manteiga Zina, com tecnologia moderna, aprovada pelos órgãos Municipais, Estadual e Federal. Em pouco tempo a fábrica estava com a sua capacidade de produção no limite, tendo sido necessário aumentar o maquinário. E, quem ganhou mais progresso foi o Município e o Estado com a arrecadação de impostos, empregos e a vinda de outras indústrias de laticínio para a cidade.
Em resumo esta foi a vida de um Patense que sempre amou e honrou a sua terra Natal, sendo um ótimo pai de família, um irmão amoroso e um cidadão do bem amado por todos que o conheceram. Os filhos são agradecidos pelo pai simples e responsável pela boa criação, sempre teve ao seu lado da esposa Nenê, que sabia ouvir, ver, e apoiar as coisas nas quais o seu marido comandava, dando o seu apoio nas horas fáceis e difíceis. Enfim um cidadão nascido no humilde bairro do Cerrado que faleceu em 15 de outubro de 1973, morador da Rua Major Gote, 59l, hoje Agência do Banco do Brasil.
* 1: Modelo da Chevrolet lançado em 1929 com o nome Chevrolet Series AC Internacional (Chevy) em resposta ao Ford Modelo A. De acordo com a Revista Quatro Rodas, no Brasil, o Chevy de 1929 a 1931 é chamado Ramona, “pois fundia o motor com frequência”, diz o colecionador Og Pozzoli. Ramona era a música que tocava no navio Principessa Mafalda quando este naufragou na Bahia, em 1927. “Houve ainda um incêndio num cinema do Rio quando a orquestra tocava a música”, diz. Viria daí o apelido, dado por fãs do concorrente Ford.
* Fonte: José Vilácio, filho mais velho.
* Fotos: Arquivo do filho João Bernardino (Tarzan). A foto 2 foi publicada na edição de fevereiro/2015 da revista Recreativa (Sociedade Recreativa Patense) no artigo Gente Nossa/João da Rocha Filho (Joãozinho Rocha).