CHUVA: O LÍQUIDO CELESTE QUE INCRIMINA O PODER PÚBLICO

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TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2016)

Quando o líquido celeste essencial que domina a vida se precipita sobre tudo e todos, é glória ou destruição. Algumas vezes desce com a ira dos deuses, provocando tragédias fenomenais, seja na cidade ou no campo. Na maioria das vezes, vem com benesses para todas as atividades, especialmente as agropecuárias. Na área urbana, uma corriqueira chuva forte de poucos minutos daquelas que não destrambelham telhados de casas e derrubam árvores, é o suficiente para transformar as ruas em cachoeiras e/ou lagos.

Por que, em pleno século 21, uma chuva forte de poucos minutos transforma as ruas de Patos de Minas em verdadeiras cachoeiras e provoca inúmeros alagamentos? As cachoeiras e alagamentos nas ruas vislumbram as fraquezas de nossos governantes há décadas. As cachoeiras e alagamentos das ruas representam realmente o quanto os nossos governantes foram e são incapazes, senão ingratos, com os votos que receberam. São o símbolo da ineficiência administrativa que numa rua “investem” um centímetro de lama asfáltica sobre uma parca base e nenhum centímetro de rede pluvial. A cada chuva forte, por quinze minutos que seja, a cidade se transforma num caos. O resultado, ano após ano, é que as cachoeiras descem e levam das ruas as frágeis lamas asfálticas produzindo enormes crateras deixando à mostra o ignóbil restolho. Só não levam as consciências dos nossos políticos porque eles não têm consciência sobre o que significa gestão em prol daqueles que pagam seus salários. Tem exceção, é lógico. Mas lá está ela, a exceção,  vencida pelos asseclas do destempero político. A chuva nos apresenta como consequência uma demonstração cabal da incapacidade gerencial do poder público patense. Não se pode jogar a culpa de tudo o que está acontecendo hoje nesta administração. Ela é única e simplesmente uma continuidade do que nos governa há décadas: executivos ineficientes e legislativos e ministério público omissos.

A grande verdade é que a chuva é o líquido celeste que incrimina o poder público. Na zona rural, estradas que deveriam ser preparadas no tempo de seca para resistirem ao tempo das chuvas são deixadas de lado. O resultado, quando o líquido celeste chega com força, todo mundo sabe, principalmente eles, os eleitos pelo povo justamente para evitar tal despautério. Na cidade, como já foi dito, as lâminas milimétricas de asfalto que foram assentadas nas ruas sem a mínima base para recebê-las se transformam em enormes crateras. O custo dos sistemáticos reparos anuais é escandalosamente maior que o investido num trabalho padrão como faz o Exército Brasileiro. É inacreditável esta pergunta: Por que não se faz um trabalho duradouro ao custo “x” e se prefere fazer muito mais barato para depois gastar 10 vezes “x” com os reparos anuais?

Na época em que as águas celestes se precipitam sobre a cidade, outra característica se arvora nos terrenos, lotes e praças públicas: o mato! São verdadeiras reservas florestais, não importando se o lote, terreno ou praça pública se localize no Centro, num bairro nobre ou na periferia. Qualquer espaço desocupado, particular ou público, se transforma num matagal imenso.

Por que isso acontece? Teve um tempo, sabe-se lá quando, que uma rua foi calçada ou asfaltada para “alegrar o povo”, mas sem as devidas redes pluvial e de esgoto. O executivo tampou a boca, o legislativo fechou os olhos, o ministério público tapou os ouvidos e o pagador de impostos gostou. Então, como ninguém reclamou, outras ruas seguiram na mesma sina. Nas gestões públicas subsequentes, a nefasta metodologia administrativa seguiu de vento em popa com a característica de sempre: o executivo mudo, o legislativo cego, o ministério público surdo e o povo sorrindo em sua estupidez na crença do “tudo legal”,  elegendo sempre os mesmos profissionais do voto. Assim, as décadas se sucederam até chegarmos à atualidade. E nesta atualidade, inúmeros bairros nasceram e estão nascendo nas encostas da cidade. Como sempre, com 1 cm de asfalto e sem rede pluvial. É óbvio que todo o líquido celeste que se abater por lá vai descer em cachoeira pelas ruas. E o que os executivos fizeram para obrigar a construção de rede pluvial? Nada! O que fizeram os legislativos e o ministério público para evitar? Nada! Novos bairros vão surgir com o mesmo enredo.

O saudoso jornalista Oswaldo Amorim escreveu uma infinidade de artigos sobre os riscos da urbanização nas áreas alagáveis do Rio Paranaíba. Como sempre, o executivo se fez mudo, o legislativo se fez cego e o ministério público se fez surdo. O povo então foi para as áreas alagáveis do Rio Paranaíba. A História está aí para contar o que aconteceu. Hoje, a maioria do volume d’água que cai sobre a parte alta da cidade é absorvida pelo chão ainda livre. O que cai nas ruas é que desce causando transtornos. Como todos os bairros que estão surgindo por lá não têm rede pluvial e o asfalto é uma “capinha”, quando toda aquela área estiver ocupada, não haverá mais chão para absorver a maioria do volume d’água das chuvas. Então, todo o volume d’água das chuvas cairá somente nas ruas. Aí, viveremos o tempo em que qualquer chuva forte de 15 minutos descerá levando enormes pedaços de asfalto, carros, gente e tudo que encontrar pela frente. Mas não importa o alerta: o executivo continuará mudo, o legislativo cego e o ministério público surdo!

Quando chegarem as próximas eleições, o que acontecerá? Lá estarão os mesmos políticos profissionais de sempre, que há anos e anos não conseguem transformar Patos de Minas numa cidade civilizada, e uma manada de pretendentes a vereador que não sabe nem o significado de “edil” se arvorando no direito de ser um “representante do povo”. Mas, afinal, não os culpo, pois quem não quer uma boca dessas: você não precisa abandonar a sua atividade profissional, não vão jamais e em tempo algum te exigir comprovação de produtividade (desde que simplesmente compareça às sessões) e durante quatro anos, se reunindo quatro horas por semana (com algumas extraordinárias), vai juntar uma poupança de no mínimo, sem correção, só com o salário atual, de quase meio milhão de reais!

Não há líderes, os dois grupos políticos que comandam a cidade desde os tempos dos Borges e Maciel continuam como sempre com a guerra pelo poder causando um prejuízo tremendo à cidade (vide a última eleição para deputado federal). Enfim, não há ninguém capaz de provocar uma revolução política, social e cultural na cidade para, pelo menos, fazer cumprir a legalidade do nosso Código de Posturas. E não havendo gente dessa extirpe, o nosso Código de Posturas vai continuar a sua sina de não servir nem como papel higiênico e vamos continuar sendo dominados pela mediocridade política. Que futuro nos aguarda? A nobre Patos de Minas ainda tem muito que padecer com suas ruas cachoeiras e alagamentos!

* Foto: Artperceptions.com: meramente representação do executivo mudo, do legislativo cego e do poder público surdo!

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