FARINHA DE OSSO – UM PROBLEMA SEM SOLUÇÃO
No último dia 20 (março/1986), aconteceu na sede da Câmara Municipal de Patos de Minas, uma importante reunião, numa tentativa de solucionar o angustiante problema da poluição causada pela Fábrica de Farinha de Osso instalada no alto do Bairro do Rosário¹.
O Prefeito Arlindo Porto Neto coordenou a reunião, que não contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal, vereador Adalto Antônio Gonçalves, em que pese a importância do assunto ali discutido.
Vários oradores se manifestaram sobre o tema proposto, explanando a preocupação da população patense sobre a poluição causada pela fábrica de farinha de osso.
Tanto o Prefeito quanto o Diretor do Centro Regional de Saúde, Dr. Carlos Martins Neto, manifestaram-se contrários ao funcionamento ilegal daquela indústria, mas deixaram claro que o problema deve ser solucionado com apoio decisivo da comunidade interessada, pois um ato de imposição administrativa poderia ser contestado pelo proprietário da mesma, o que a atual administração quer evitar.
Como já era esperado, nenhuma solução adveio da reunião, e mais uma vez o assunto, apesar de relevante, ficou pendente de solução, deixando adiada para depois a solução de um problema já considerado angustiante.
Acreditamos que o assunto deverá ser enfocado com a profundidade que o mesmo exige, e cremos que na próxima reunião, a Câmara Municipal esteja devidamente representada na pessoa de seu Presidente, pois os Poderes Executivo e Legislativo devem estar unidos para solucionar um problema que vem afligindo toda a população patense, e, de modo especial, a população do Bairro do Rosário.
Antônio Laércio da Rocha
OSSO DURO DE CHEIRAR
É preciso nariz de aço para aguentar esta farinha de osso, cujo odor fétido se abate diariamente sobre a cidade como uma maldição. Sobretudo nos bairros mais próximos, como Nossa Senhora das Graças, Lagoinha, Rosário, Sobradinho, mas que chega ainda forte, também ao Alto Caiçaras, Alto Maristas, Abner Afonso, Jardim Alvorada e o centro da cidade. Às vezes, dependendo do capricho dos ventos, até os bairros distantes, como o Cristo Redentor.
Em benefício da comunidade patense, impõe-se uma pronta solução para o problema, cada vez mais sério, considerando-se que o mau cheiro aumenta com a ampliação da própria fábrica, cuja produção só tende a crescer. E só há duas saídas: a transferência da fábrica, para local adequado, ou a instalação de equipamentos anti-poluentes.
Pessoalmente, confio mais na primeira, pois além de certo ceticismo quanto à eficácia daqueles equipamentos, tenho em mente a possibilidade de seu enguiço. Para facilitá-la, a propósito, o Prefeito Arlindo Porto, segundo soube, ofereceu um terreno à beira do rio, a jusante as cidade, e a construção de toda a infra-estrutura necessária, inclusive estrada de acesso.
O apoio da Prefeitura para a transferência é válido por duas boas razões: primeiro pela urgente necessidade de livrar a população do terrível mau cheiro que inferniza diariamente sua vida; segundo, pela justiça de se ajudar uma fábrica que produz uma ração de alta qualidade nutritiva e um adubo de primeira qualidade e que, além de tudo, criou uma série de empregos diretos e indiretos na cidade e que gera recursos para o Município.
Mas ninguém pense que as vantagens da fábrica compensam o insuportável mal-estar que ela provoca em grande parte da cidade. Seu custo social é excessivamente pesado em relação às suas vantagens econômicas.
Tal como está, seus malefícios são infinitamente maiores que seus benefícios.
Oswaldo Amorim.
* 1: Leia “Fábrica do Quiabo em 1994: Bode Expiatório ou Não?”.
* Fonte 1: Texto publicado na edição n.º 136 de 31 de março de 1986 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Fonte 2: Texto publicado na edição n.º 137 de 15 de abril de 1986 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Sergioaperon.com.br.