EVARISTO ALVES RIBEIRO (GORILA)

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DSC02533Durante vinte anos, o Açougue do Gorila foi a casa de carnes mais frequentada de Patos de Minas. Não por causa de suntuosidade ou variedade de produtos, pois o comércio era até muito convencional. A explicação para tanto sucesso está no carisma do proprietário do apelido, o cidadão Evaristo Alves Ribeiro. Perguntado sobre como surgiu o apelido, ele relata: “Foi quando eu era garoto, coisa de cinco ou seis anos, por aí. Só me lembro que estava jogando bola com minha turma ali onde é hoje a Praça Antônio Dias e de repente um colega me chamou de gorila. Até hoje não sei porque ele me chamou de gorila. Então a turma começou a me chamar de gorila, e o nome pegou. Hoje, tenho um monte de amigos que não sabem o meu verdadeiro nome e só me conhecem por Gorila”.

Evaristo veio ao mundo na localidade de Mata dos Fernandes em 19 de novembro de 1935, um dos quatro filhos de João Antônio Alves e Joaquina Alexina Alves. O pai era gerente da Fazenda do Limão, propriedade de Andresina Piau, viúva de Severino Piau. Morou na roça até os sete anos, época em que a família se mudou para a cidade. Das várias atividades de meninos de sua idade, ele tem uma forte lembrança: “Um caminhão de mercadorias parava lá no alto, onde hoje tem o trevo. Aí a gente ia de carro de boi buscar as mercadorias. E eu era o candeeiro, adorava ser o candeeiro¹, e o carreiro¹ tinha muita confiança em mim, mesmo eu sendo tão novo. Eu era mesmo bom candeeiro”.

O jovem Gorila não frequentou escola quando morava na roça, mas completou o primário no Grupo Marcolino de Barros. Em seu tempo livre trabalhava em várias atividades para ganhar o seu dinheiro, como entregar jornal e vender revista. O que ele mais gostava era a sua caixa de engraxate. “Engraxei sapato de muita gente importante na época. Meu ponto era no Edifício Paranaíba onde funcionava o Hotel Rodovia, que era muito frequentado e eu tinha muitos clientes. Ganhava um dinheirinho bom, para minha idade era muito bom”.

Já com dez anos de idade, Gorila ingressou nas categorias de base da URT. “Comecei no infantil e depois passei pelo juvenil, sempre jogando nas laterais. Na época o técnico era o Waldomiro Pereira, que depois fundou o Mamoré. Ele me convidou para ir pro Mamoré. Fui, treinei só uma vez e voltei pro URT, onde fiquei até 1962, pouco tempo depois que me casei. Meu forte era a impulsão, eu era bom nas bolas altas. Bons tempos aqueles, fiz muitos amigos e até hoje guardo com muita saudade aqueles tempos, tempos em que havia amor pelo clube e não essa de ganhar dinheiro igual hoje. Para falar a verdade, a gente até ajudava o clube. Joguei um tempo no São Vicente por convite do Tião do Jaime, meu cliente no açougue. Joguei também no Marta Rocha em 1956²”.

Evaristo começou a sua vida profissional no ramo de venda de carnes no início da década de 1950, no Açougue do Povo, de propriedade de Antero Ferreira Guimarães, localizado à Praça Antônio Dias ao lado do Armazém Mendonça, de Manoel Caixeta de Mendonça. Desempenhou a função neste comércio durante onze anos. Foi neste período que conheceu Dalva de Fátima Ferreira. “Uma prima me convidou pra almoçar num domingo na casa dela na Mata dos Fernandes. Fui de lambreta. Ai fiquei conhecendo a Dalva lá. Demos uma volta na lambreta e assim começou o namoro. Um mês só de namoro e o pai dela já perguntou quais eram minhas intenções. Ela morava na Mata dos Fernandes e eu ia lá todo domingo, numa estrada ruim de doer, principalmente quando chovia, era lama demais. Mais quatro meses e o sogro marcou o casamento. Então, casamos em 11 de maio de 1961”.

2A fase de vinte anos do Açougue do Gorila teve início em 1964 quando o irmão Alves Evaristo comprou uma loja no Edifício São Pedro, na Rua Padre Caldeira, entre as praças Desembargador Frederico e do Mercado. Lá foi montado o comércio. Pela experiência de Gorila no ramo e, principalmente por ser muito conhecido na cidade como açougueiro competente, Alves usou o apelido do irmão para nomear o estabelecimento comercial. Poucos meses depois, Alves vendeu o açougue para José Lima com a condição do Gorila continuar trabalhando. Mais adiante, José vendeu o comércio para Rafael Gomes de Almeida. “Em 1965 o Rafael não queria mais mexer com açougue e perguntou se eu queria comprar. Fizemos o negócio bom pra nós dois e eu então passei a ser dono do açougue. Foi um começo duro, eu chegava a trabalhar 15 horas por dia. Vendia muita carne para Belo Horizonte e também para Rio de Janeiro e São Paulo”. O Açougue do Gorila era tão conhecido que virou ponto de referência na cidade. Se alguém não conhecia ou não se lembrava onde ficava a Rua Padre Caldeira era só falar na “rua do Açougue do Gorila” e estava resolvida a questão.

O tempo passou e chegou o ano de 1985, período em que o país passava por instabilidade político-econômica por causa da transição ditadura-democracia. Concomitantemente, Gorila já demonstrava um início de estafa pelo exaustivo ritmo de trabalho que o comércio lhe exigia diariamente. Associado a perda de um neto ele resolveu encerrar as atividades do Açougue do Gorila após vinte anos de sucesso. Mas, com um filho estudando Medicina em Belo Horizonte, ele teve que se arranjar. “Eu criava um gado de leite que até dava uma renda boa. Em 1990 fui trabalhar como responsável pelo restaurante do Posto Veredas em São Gonçalo do Abaeté. Fiquei lá dois anos. E para complementar os estudos do menino ainda vendi umas terras. No fim deu tudo certo e hoje é muito bom vê-lo como médico formado”.

Evaristo Alves Ribeiro se aposentou em 2003 aos 68 anos de idade. No próximo mês de novembro vai completar 80 primaveras. Sente-se completamente realizado e feliz pela vida ter lhe ofertado muito mais alegrias do que decepções. “Trabalhei muito na vida, desde os sete anos. Não fiquei rico, muito pelo contrário, mas sinto orgulho de ter conseguido criar a família com dignidade e ter feito muitos amigos. Digo sinceramente que me considero um homem feliz”. E ele faz questão de enfatizar que as decepções foram mínimas, como a perda do neto. O que ele mais gosta é receber a visita dos quatro filhos (Silene, Iris, Gláucia e Juliano), seis netos e dois bisnetos.

* 1: Conduzir um carro de boi é tarefa para uma dupla. Na frente vai o candeeiro, conduzindo os bois guias e imprimindo a velocidade e o rumo ao carro. Junto ao veículo fica o carreiro, que evita percalços e observa os bois de cabeçalho. Ele é uma espécie de condutor principal, vigiando toda a junta de bois e cuidando do caminho do carro.

* 2: Leia o texto “Marta Rocha Futebol Clube”.

* Texto e foto 1 (09/10/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto 2: Excerto do Gorila nos tempos da URT, publicada em 24 de maio de 2013 com o título “URT 3 x 0 Araxá – 28/03/1960”, do arquivo de José Miguel Barbosa.

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