SAULO ALVES

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SAULOPALAVRAS DE MARIALDA COURY

Neste mundo, certas pessoas passam um tempo muito curto entre nós. Deus as chama para que brilhem em outras moradas, mas elas deixam grandes marcas que precisam ser contadas e divulgadas.

Vou voltar ao tempo, ao ano de 1992, para descrever um episódio vivido nas minhas andanças como uma agente cultural – um episódio jamais esquecido! Para começar: 1º Centenário do Município de Patos de Minas em 1992 – Concurso de Fotografias. A foto premiada foi a Catedral de Santo Antônio iluminada. “Simplesmente Matriz” era o nome na ficha de inscrição. Autor: fotógrafo Saulo Alves.

Fiquei encantada com a foto. Precisava conhecer o seu autor, o moço artista. Daí por diante nos tornamos grandes amigos. Passei a divulgar o seu trabalho, convidando-o para participar de nossos eventos culturais. Quando dirigi a Unart pela segunda vez, no ano de 1997, no dia de nossa posse, ele foi convidado a mostrar a trajetória do grande fotógrafo Chilon Gonçalves, nosso homenageado, numa belíssima mostra de fotografias no espaço Cultural Yázigi.

O tempo passou e o destino indicava que ele seria o meu grande companheiro, quando, em 1997, cheguei ao Parque de Exposições, cheia de sonhos para tentar resgatar a história da nossa Festa Maior – a Festa Nacional do Milho –, e o trabalho de seus idealizadores, homens de grande visão.

Em 5 de novembro – Dia Nacional da Cultura –, foi lançada a pedra fundamental, e como sempre “ele” já com a máquina fotográfica nas mãos documentava a limpeza do terreno escolhido para a construção do Memorial do Milho. Foram cinco longos anos para terminar a obra e uma parte da nossa pesquisa. O presidente Romero Queiroz Pereira lançava, na sua gestão, um grande desafio: a construção de um prédio para abrigar a nossa História.

Passei a ser sua “dindinha”, gesto ou adjetivo carinhoso de que sempre gostei, ao ajudar ou divulgar um talento.  Esse gesto me confortava, e eu me sentia uma madrinha que dava sorte aos afilhados. Ganhei muitos e hoje eles se destacam. No artista Saulo Alves depositei toda a confiança.

Tarefa árdua de copiar e reproduzir todas as fotos possíveis, emprestadas, com muita confiança, pelas famílias patenses, rainhas e princesas do milho, e muitas outras pessoas amigas que sempre queriam nos ajudar. A sua companhia foi muito proveitosa, porque percorremos uma longa estrada cheia de muitas novidades. Quantas fotos ele reproduziu? Não consigo enumerar, mas sei que passaram de cinco mil. Foi um trabalho entremeado, em toda trajetória, de alegrias e de curiosidades, conquistando a cada momento mais uma vitória. Foram momentos muitos gratificantes.

Assim trabalhamos até o ano de 2002, quando já estava pronto para ser inaugurado o “nosso tão sonhado Museu”: o Memorial Romero Queiroz Pereira. Foi em 11 de maio de uma noite cultural. As pessoas chegavam alegres à espera do corte da fita. Na linda noite, ele registrou tudo: cada momento com o auditório lotado e o museu repleto de pessoas maravilhadas com tantos objetos para ver e recordar. São registros que o tempo não vai apagar!

E assim se passaram 14 anos.

Neste ano de 2016, o Projeto Artístico-literário presta uma homenagem a esse artista patense que, como diz Peter Urmenyi, fez da “fotografia a poesia da imobilidade”, e o resultado pode ser visto e apreciado na exposição no Memorial do Milho: Das águas ao milho: histórias que brotam das terras de Patos de Minas.

Pela exposição podemos voltar à nossa História e encantarmos com a natureza capturada por Saulo Alves, muitas vezes numa visão aérea, com seu olhar e seu coração. Hoje, o trabalho do irmão mais velho, Paulo Alves, completa a exposição, mostrando aos visitantes as nascentes de água ainda existentes em nossa cidade.

SAULO 1Sua sogra, Edite Gomes, assim o homenageou num discurso que não foi pronunciado quando da inauguração do Studio na Rua Tiradentes em 2002, mas que foi divulgado pelo Jornal Folha Patense:

“… Saulo, o sol brilha para todos. É uma verdade incontestável. Todo ser humano recebe esse brilho, com intensidade mais profunda quanto maior é a vida interior da criatura. Por que ele não brilharia justamente para você? Quantas vezes admirei sua luta para vencer, subir, com paciência, degrau por degrau, mas, sem parar seu  profissionalismo.  Seu  esforço  para  crescer  sem muitas mãos para ajudá-lo. Sua ética profissional respeitando os direitos e procurando servir seus colegas, sem atravessar no caminho de ninguém nem desviar oportunidades de os outros também crescerem”.

AGRADECIMENTO DA FAMÍLIA SAULO ALVES

Complicado é escrever sobre alguém que tinha extrema capacidade emocional. Eu e praticamente toda minha família não conseguimos transbordar sentimentos como meu pai os transbordava. Meu pai, Saulo Alves, era uma pessoa que apresentava uma vontade imensa de viver, de batalhar e de alcançar seus limites, sempre com carisma a todos.

Creio eu que pessoas como ele praticamente não existem mais. O mundo hoje é um jogo de disputas. Meu pai escreveu vários textos sensacionais, nos quais ele demonstrou como se comportava diante de tudo. Em seus poemas, ele descreveu situações contrárias, ruins, que, mesmo lhe fazendo mal, soube superá-las.

Às vezes pensamos sobre como será nosso futuro ou sobre como foi nosso passado. Saulo Alves só tinha em mente o que ensinar ou aprender no momento presente. O ser humano faz muitos planos, tem muitos desejos e reclama muito quando não os conquista. Meu pai não tinha planos, não confeccionava desejos e nunca o vi fazer questionamentos sobre as vontades que não realizou.

Sua sensata e simples frase: “Viva o presente!”.

Eu, Ângelo Borges, afirmo que meu pai já deixou faltar muitas coisas em sua vida. Mas felicidade, não só para ele mas também para qualquer outro que estivesse ao seu redor, seja esse terceiro um desconhecido ou um familiar, ele nunca deixou faltar, pois o significado de viver para meu pai era ser feliz.

O que eu, minha família, amigos ou qualquer outro podemos aprender com Saulo Alves: “Não deixe que o inoportuno lhe incomode, mas, caso ocorra, não permita que tal incômodo retire sua felicidade”. Saulo Alves juntamente com sua família cresceram com o pouco que tinham e conseguiram construir uma trajetória. Tornou-se fotógrafo mesmo sem saber o que era uma câmera fotográfica.

Creio que, para escrever sobre meu pai, um breve relato como este não seria suficiente, tão denso como a emoção que meu pai carregava com ele. Para os que leram tão breve homenagem, espero que ela lhes tenha concedido o verdadeiro sentido da vida: ser feliz. Que você, leitor, busque conhecimento, busque razão, busque riqueza, mas, caso não os ache, encontre a gigantesca emoção que nosso companheiro Saulo Alves pôde nos demonstrar.

Eu e minha família agradecemos a todos que puderam compartilhar com nosso querido Saulo Alves suas vidas. Mas, para os que infelizmente não puderam enxergar e apalpar a verdadeira emoção, busquem sempre conquistar seus desejos e, mesmo que haja no caminho obstáculos, nunca deixem de se desprender da felicidade, que pode fluir de suas mentes.

Família Saulo Alves – Miriam, Poliana e Ângelo Borges.

* Fonte: Texto e fotos publicados na edição de 21 de maio de 2016 do jornal Folha Patense.

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