PÁSSAROS EM GAIOLAS: ÉTICO OU NÃO?

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PASSARO 1O assunto é muito complexo e suscita uma infinidade de discussões porque nesta área é 8 ou 80, não tem meio termo, isto é, tem os ferrenhos defensores e os ferrenhos combatentes. A blogueira Carolina Mourão opina:

Estou convicta de que, assim como as touradas na Espanha, a cultura da gaiola no Brasil já devia ter acabado. Confesso que gosto de soltar passarinhos dos outros, sem que ninguém me veja. Um delito irresistível. Desde a infância, seguramente, já libertei bem uns 80. Cheguei a comprá-los para soltar, sem saber, ainda criança, que estava alimentando esse mercado cruel. Para isso gastava todo o meu dinheirinho.

É certo que muita gente já foi apaixonada por prender passarinhos em gaiola. Eis o discurso de um:

Eu tinha doze anos de idade, morava na roça. De manhã eu ia pra escola. Depois do almoço, mamãe me obrigava a fazer as lições primeiro, pra depois eu poder brincar. Aí, o que eu mais gostava era pegar a minha gaiola com o Pintassilgo, o alçapão, e ir pro mato. Eu dependurava a gaiola no galho de uma árvore e o alçapão ficava em cima da gaiola com quirela de milho. De longe eu ficava na espreita ouvindo o lindo canto do Pintassilgo e, de repente, pousou um Canarinho na borda do alçapão. Olhou pros lados e entrou. Vupt, o alçapão fechou e lá estava o Canarinho preso. Que alegria, que alegria, corri pra casa e mostrei pra mamãe. Ela então falava que eu era muito esperto e que eu deveria fazer outra gaiola. É, eu sabia fabricar gaiolas. Então eu fiz a gaiola pro Canarinho. Agora eu tinha um Pintassilgo e um Canarinho e gostava de ficar apreciando eles cantarem nas gaiolas. E assim fiz várias vezes e já cheguei a ter sete gaiolas. Aí o tempo passou, eu cresci e agora as gaiolas só vivem nas minhas lembranças. Atualmente o que mais gosto é de ver revoadas de passarinhos nos céus em suas sagradas liberdades e, pasmem, agora morando na cidade, gosto até de ouvir os piados irritantes dos Pardais, que em priscas eras eu adorava matar.

E também é certo que muita gente tem este “divertimento” como prazer. Eis outra opinião:

Desde criança adoro apreciar um passarinho cantando na gaiola. Hoje estou com 70 anos, aposentado, e meu prazer diário é cedinho colocar as minhas cinco gaiolas no pé de Ipê da praça pra tomarem o sol da manhã. Isso é muito bom pra saúde deles. Tenho três Curiós, um Canário da Terra e um Sabiá. Aí fico lá admirando eles pulando de alegria de poleiro em poleiro, pois sabem que cuido muito bem deles. É tipo um agradecimento por isso. Deixo eles lá, se vangloriando por terem um dono bom como eu. Olha, não poupo, ração e comida é de primeira e a água é mineral, de garrafa mesmo. Se eu te contar você não vai acreditar… vou te contar assim mesmo… eles adoram água mineral com gás. Bão demais, num é?

O mercado de criadores de pássaros, fiscalizado pelo IBAMA, é muito grande no país. São inúmeros os que defendem a opinião de que, criando-os em gaiolas, estão contribuindo para preservarem as várias espécies já em risco de extinção. Por exemplo, eis o que diz Rafael Cardoso dos Santos, criador de pássaros nativos brasileiros, Registro IBAMA 237521:

Presenciar um Canário daqueles bem amarelos soltando seu belo canto num galho de árvore é salutar para a alma humana. Livres e soltos na natureza com suas necessidades de se defenderem para sobreviver, os pássaros colorem o dia a dia do mundo. Assim como o Canário, ou Canarinho na intimidade, são inúmeras as espécies brasileiras de pequenas aves canoras ou não.

Em contrapartida, ele declara:

Os pássaros australianos estão a salvo da extinção graças à criação. Periquitos, Calopsitas, Cacatuas… todos salvos graças à criação em domesticidade. Bicudos já quase não existem mais na natureza. Curiós já são raros. E da forma como caminhamos com lavouras destruidoras, caça predatória, tráfico… Só existe uma forma de termos no nosso convívio os alados: A Criação. Tenho lutado para que a cada dia mais pessoas estejam criando nossos pássaros. Não importa qual espécie. Se você gosta de pássaros, crie. Mas crie pássaros nativos do Brasil.

a1Rafael afirma que o moralmente correto ou ético para uma sociedade não é para outra. E até mesmo entre classes sociais de uma mesma sociedade:

Não é nosso objetivo fazer um tratado filosófico sobre a ética, porém na criação de aves nativas algumas questões éticas são latentes. No Brasil existem leis, rigorosas e burocráticas que regem nossa atividade. Por isso é preciso que os amantes dos pássaros se conscientizem que não é permitido capturar pássaros nativos na natureza, pois é crime. Não existe forma legal de regularizar a situação de um pássaro que não nasceu em ambiente doméstico. Não vale a pena comprar pássaros sem comprovação de origem e toda a documentação exigida. Muitas pessoas têm deixado de lado a preservação de nossas espécies para criar pássaros exóticos, que não são de nossa fauna. É mais um fato triste. Existem diversas comunidades na Internet de pessoas ignorantes que atacam a criação de pássaros. Chamam de crueldade prender pássaros em gaiolas. Seria a criação de pássaros em ambiente doméstico uma postura antiética? Porém, basta olharmos para nosso passado. Os Perus que enfeitam as mesas e enchem nossas barrigas no natal eram caçados na selva. Hoje são criados confinados. O mesmo para galinhas, vacas, javalis, jacaré, búfalos e etc. Já pensaram na criação de codornas? Viram o tamanho das gaiolas das codornas? Hoje estes são animais domésticos. Na Bélgica uma das primeiras atividades econômicas é a ornitologia. A indústria de suprimentos, gaiolas e medicamentos geram milhões. Lembre-se que no quinto dia Deus criou as aves do céu e nós temos o dever de preservá-los!

Maria Christina Napolitano, do site Sítio do Curió, segue esta linha de pensamento quando afirma:

Atualmente, existem muitos grupos de criadores de pássaros, aficionados na criação de bicudos, canários-da-terra, curiós, coleiros, pintassilgos, azulões, sabiás, trinca-ferros e assim por diante. O lema que foi concebido pelo ornitólogo Paulo Rui de Camargo, “criar para não extinguir”, por si só, parece ser, em princípio, um resultado positivo para não se criticar a criação destas aves fora de seus habitats de origem – os ambientes silvestres – até porque, a maioria das aves criadas em gaiola já nasceram em cativeiro e, assim, têm condições de desenvolver suas propriedades características. Embora estas aves canoras brasileiras, capturadas para o comércio, não estejam, exatamente, sendo mortas nem sacrificadas, porque, felizmente, o que atrai nestas espécies é a beleza de seu canto e de sua plumagem, elas poderão ser levadas à extinção, se não forem criadas em gaiolas por ornitófilos conscientes. É louvável que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA estabeleça regras para proteção da fauna, mas é lamentável observar que este órgão venha trazer embaraços para aqueles que pretendem criar aves em regime de domesticidade.

Uma opinião totalmente contrária vem do blog Minha Proposta:

Se não o maior, voar é um dos maiores sonhos do homem, e a respeito disso, ninguém pode dizer o contrário. Talvez seja por esse tão desejado sonho que os humanos têm inveja dos pássaros, e talvez é essa inveja que faz dele cometer tantas maldades com os pobres bichinhos (ou melhor, ricos bichinhos, porque eles têm algo que nós humanos não temos – asas!). Me parece que ao prender um passarinho numa gaiola, a infeliz pessoa que faz isso pensa algo do tipo: “aham.. te peguei.. agora voa bem alto e vá pra bem longe que eu quero ver, vai!” Bem dizia o cantor Wando em uma de suas mais famosas canções: “(…) chora coração, passarinho na gaiola, feito gente na prisão (…)”. Prender um passarinho numa gaiola não é o mesmo que ter um cachorro em casa. Os cães são animais domésticos e precisam do aconchego do lar e de todo o amor e atenção que seu dono tem e precisa lhe oferecer. Prender um pássaro é covardia. Os bichinhos precisam viver a sua vida, no seu habitat natural, fazendo o que lhe é proposto para um animal voador. Eles não cometeram nenhum crime. Não estão às margens das leis humanas. Não têm que obedecer às leis humanas. Não precisam, não têm e não devem ficar presos.

Como dito no início,  o assunto é muito complexo e suscita uma infinidade de discussões porque nesta área é 8 ou 80, não tem meio termo, isto é, tem os ferrenhos defensores e os ferrenhos combatentes.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto 1: Viverepensar.woedpress.com.

* Foto 2: Cacambablog.blogspot.com.

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