Lembro-me que aos domingos, após a sessão noturna de cinema nas três grandes salas da cidade, Cine Riviera, Cine Garza e Cine Tupã, havia o tradicional vaivém¹, na rua Major Gote, entre o bar Fla-Flu e a sede da Sociedade Recreativa Patense. Formavam-se duas alas masculinas nas bordas laterais desse logradouro. As moças, em grupos de 3 ou 4, sempre de braços dados, seguiam em direção à Recreativa pela ala da direita e voltavam pelo outro lado, em direção ao Fla-Flu. Os rapazes, postados nas laterais apreciavam aquelas formosuras, engalanadas, cheirosas e apetitosas. As moçoilas, por sua vez, circulavam afoitas, com seus trejeitos feminis e olhares timidamente sedutores; O footing durava cerca de quarenta minutos a uma hora. Depois disso, todos confluíam para a hora dançante na tradicional Recreativa, único point da juventude, naquela época. Os namoricos brotavam nos flertes do vaivém, floriam em rodopios na pista de dança e se sedimentavam no sofá da sala, diante de uma importuna “vela”, ou seja, alguém da família que não arredava pé da sala de visitas ou de qualquer outro lugar em que o casal de namorados estivesse, com o intuito de zelar pela integridade moral da donzela. Depois de algum tempo de namoro firme, era permitido aos pombinhos, ficar de mãos dadas sob os olhos atentos da “vela”. Após o noivado, era permitido ao noivo, passear com mão no ombro da noiva. Beijo na boca, nem pensar! Isso só acontecia em telas de cinema ou então em fogosos ultrajes ao pudor, às escondidas. Lembro-me que a orientação que recebíamos na catequese, pelas freiras, era de fechar os olhos para não pecar, se porventura deparássemos com alguma cena de beijo, no cinema. Bons tempos aqueles!
* 1: Leia “Vai-e-Vem”.
* Fonte: Texto de Jô Drumond (Josina Nunes Drumond Caixeta), escritora patense radicada em Vitória-ES, publicado na edição de 15 de novembro de 2014 do jornal Folha Patense.
* Foto: Vai-e-Vem dos tempos retratados pelo Jornal dos Municípios, arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.