A divergência entre os partidos políticos UDN e PSD tinha uma projeção nacional e uma longa história de crises e embates políticos. Essa briga marcou fortemente a política de Patos de Minas e região.
Para compreender o que ocorreu no Distrito de Bom Sucesso no ano de 1958 entre os partidários da UDN e do PSD, procurou-se conversar com pessoas que vivenciaram o acontecimento. O que se sabe por “alto” é que em Bom Sucesso a maioria da população era partidária da UDN e que o PSD comandado por um grande fazendeiro da região, convocou a polícia para promover uma revista aos moradores do local.
Segundo fontes que não quiseram se identificar um dos motivos que levaram ao conflito poderia ser o apoio dos moradores do local a um partido político que lançaria candidatos a prefeito nas cidades vizinhas (UDN), como seria o caso de Patos de Minas, embora a política do Distrito estivesse mais relacionada com a política de Tiros.
As pessoas aceitaram conversar sobre o assunto, permitiram que fossem tomadas notas, mas que os nomes permanecessem ocultos em virtude das famílias daqueles que promoveram o acontecimento serem pessoas influentes na região de Bom Sucesso, como é o caso dos Mesquita.
Uma das famílias tradicionais envolvidas no conflito era os Maciel, que comandou os destinos da cidade por várias décadas (o primeiro Agente Executivo, o Prefeito da época, foi Jerônimo Dias Maciel em 1868). Sabe-se que Olegário Mesquita, um dos envolvidos no confronto, era partidário da UDN. O episódio mostra que nestes distritos menores as pessoas utilizavam o uso da força para coagir indivíduos e o poder político local, apontando mais uma vez para o antagonismo entre UDN e PSD, que acabou culminando em mortes e prisões. O episódio acontecido em Bom Sucesso teria sido apenas mais um embate político entre a família dos Mesquita representando por Olegário e partidários da oposição (PSD).
UDN e PSD, Maciel e Borges, respectivamente, faziam seus comícios no centro da cidade. Os da UDN se realizavam na esquina da Rua Major Gote com a Rua Olegário Maciel, onde os mesmos tinham um clube (que funcionava no 2.º andar do Edifício São Bento) e um cinema (Cine Tupã). Os comícios do PSD eram realizados na Sociedade Recreativa Patense. Ou seja, um quarteirão do outro. Muitas vezes realizavam-se comícios de ambos partidos em um mesmo dia. Nestes casos, alguns eleitores mais “afoitos”, de ambos os partidos procuravam ouvir o que saia da boca de cada candidato. Tal fato gerava muitas brigas e até tiroteios, inclusive José Maria Vaz Borges, ex-vereador do PSD e ex-deputado estadual, por diversas vezes descarregou sua “bereta” no sentido do comício dos Maciel, conforme foi presenciado por algumas testemunhas.
A rivalidade entre Borges e Maciel começou após o apossamento do Cartório do Primeiro Ofício de Notas das mãos de Olympio Borges, a mando de Olegário Maciel, sobrevindo à separação política destas duas famílias e a criação do partido dos Borges: Partido Popular, que demorou muitos anos para ser registrado por causa da oposição dos Maciel. Mesmo assim, os Borges conseguiram o registro, depois de muita luta, em 5 de outubro de 1924, e partem com o Partido Popular para o confronto com o Partido dos Maciel.
As provocações eram diretas e indiretas. Uma publicação do Jornal dos Municípios, página 3, do dia 15/04/1962, conta o caso do Sr. João Custódio, que não estava obtendo apoio dentro do diretório do PSD para ser candidato a Deputado Estadual. A UDN ofereceu uma vaga a ele, que logo aceitou. A rivalidade dessas duas famílias iniciadas na primeira geração, se fortaleceu na segunda e, ainda existem lembranças na terceira geração, que não podem deixar de acreditar nos fatos do passado deixados por seus antepassados.
Segundo relato de um depoente, que não quis se identificar, os fatos em Bom Sucesso teriam transcorrido da seguinte maneira, em 28/10/1958:
O policial chegou a Bom Sucesso, começou a dar revista nos bares da vila, queriam dar revista em Olegário Mesquita, mas esse não aceitou ser revistado. Então a família de Olegário, seu primo João Olegário revidou e o soldado deu uma “cacetada” em João e sua irmã que ali estava deu outra cacetada no soldado. Com isso começaram os tiros. João começou a atirar nos policiais, sendo que um faleceu na hora e o outro foi levado para Patos de Minas e nunca mais andou. Na noite do mesmo dia chegou um caminhão de policial em Bom Sucesso e chegou à casa do farmacêutico para pegar informação das casas dos Olegários e como ele estava envolvido já os recebeu a tiros, só que o farmacêutico acabou sendo atingido e foi levado para Patos de Minas. O irmão do farmacêutico, Valter e o botequeiro foram amarrados com uma corda e apanharam de cacete dos policiais. Um senhor chamado João Inácio que já havia sido delegado de Bom Sucesso pediu aos policiais para parar de bater e eles pararam e mandaram os dois que apanhavam detidos para Patos. No outro dia chegaram mais policiais e foram para a fazenda dos Olegários, mas lá não encontraram ninguém, fizeram tiroteio na fazenda. Depois de alguns dias os Olegários se apresentaram, Geraldo Olegário ficou preso no lugar de João Olegário até que ele apareceu e foi levado a Júri.
Há quem acrescente que antes da ida dos policiais ao distrito o “tal fazendeiro local” que chamara a polícia desarmou toda a população e quando os policiais chegaram não havia pessoas armadas. O que seria contraditório com o relato apresentado acima.
É natural que os depoentes moradores do Distrito falem com uma certa “amargura” dos representantes do PDS (policiais e o fazendeiro), porque para eles são estas pessoas que foram invadir seu “território”, visto que a grande maioria dos moradores era da UDN e, é claro que deporiam a favor destes. Outra questão é que os moradores ficaram assustados com a presença da polícia dando revista nas pessoas, não era comum para eles que policiais fossem chegando e sem muita explicação fossem promovendo revistas e buscas nas pessoas. Estes se sentiram ameaçados e coagidos pelo uso da força interferindo em questões políticas locais.
Cabe ressaltar que o depoente aponta que os tiros foram iniciados pelos Mesquitas, o que poderia ser em legítima defesa, uma vez que os moradores eram livres para escolher quem apoiariam nas eleições e não seria necessária a presença da polícia naquela localidade. Há de se considerar que como já foi apontado e ocorria na região, era comum o uso da força para coagir as pessoas, observando mais uma vez o exemplo dos Borges e Maciel.
Nestas condições fica impertinente apontar se houveram culpados no episódio, pois os envolvidos apresentavam cada um a seu modo, motivos para iniciar mais um embate, do qual os moradores de Bom Sucesso presenciaram e vão transmitindo de geração à geração.
* Fonte: Conflitos Entre UDN e PSD – O Caso do Distrito de Bom Sucesso no Município de Patos de Minas (1958), de Flávia Lemos da Silva (Artigo apresentado em outubro de 2006 como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação em História pelo Centro Universitário de Patos de Minas, sob orientação da Professora Ms. Rosa Maria Ferreira), arquivado no Laboratório de História do Unipam.
* Foto: Portal.metodista.br, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.