TEXTO: EITEL TEIXEIRA DANNEMANN (2020)
Com a abertura da picada de Goiás, em 1737, iniciou-se o povoamento da região onde surgiria a cidade de Patos de Minas. Inúmeros fatores foram preponderantes para que os primeiros forasteiros se ajuntassem para a formação de um arraial¹. Em 1834, esse arraial contava com 806 habitantes: 411 brancos, 260 pardos livres, 29 pardos escravos, 6 pretos livres e 100 pretos escravos².
Com o passar dos anos e o crescimento populacional do arraial, aos poucos foi encrustando nos habitantes uma nobre aspiração: a liberdade. Para tanto, alguns homens idealistas puseram-se à frente e se destacaram como baluartes da emancipação, numa rusga intensa contra aqueles que se opunham ao desmembramento³. O primeiro ato oficial do desejo de emancipação do povo do então Arraial de Santo Antônio dos Patos, já contando com quase 4000 habitantes, ocorreu em 25 de dezembro de 18564. As resistências foram inúmeras, incluindo até o Bispado de Pernambuco5.
Para júbilo de todos e substancialmente para aqueles que tomaram a frente do processo, a Província de Minas Gerais, através da Lei n.º 1291 de 30 de outubro de 1866, elevou o arraial à categoria de Vila e como consequência a emancipação. Mas houve uma condição expressa para que a Lei se oficializasse: a construção da casa de Cadeia e Câmara. Para tanto, os patenses enviaram à Província uma carta se comprometendo a, num período máximo de dois anos, cumprir com a exigência. Sendo assim, a Província se considerou satisfeita e o município de Santo Antônio dos Patos foi oficializado6.
29 de fevereiro de 1868 é a data de emancipação da então Vila de Santo Antônio dos Patos. É lógico se afirmar que houve muita euforia do povo, principalmente dos mais envolvidos diretamente. Quem sabe essa euforia tenha ofuscado a mente dos patenses, pois as autoridades deram bobeira e confessaram que não tinham como terminar a casa de cadeia e Câmara dentro do prazo estipulado. Então, o governo ameaçou, incontinenti, suprimir o Município. Felizmente a casa de cadeia e Câmara foi construída a tempo e o Município seguiu em frente, mas os primeiros meses de “liberdade” não foram nada fáceis7.
Com as dificuldades iniciais sanadas, a Vila de Santo Antônio dos Patos seguiu a vida na sua autonomia. Vinte e quatro anos após, a Vila foi elevada à categoria de Cidade8. Através dos tempos, não se sabe como o patense comemorava a independência. Até que, na sessão da Câmara Municipal de 18 de maio de 1956, procedente do Executivo, é feita a leitura do projeto de lei que declara feriado municipal o dia 24 de maio. Zama Maciel discordou veementemente: O dia que deveria ser comemorado é aquele em que se instalou o município, 29 de fevereiro. Nas escolas, erradamente, se ensina que o município data de 24 de maio de 1892, quando a efeméride exata é 29 de fevereiro de 1868, quando foi criada a Vila de Patos e bem assim o município. 24 de maio é uma data que diz respeito tão somente à cidade, pois foi neste dia que a Vila, sede do município, recebeu os forais de cidade. Zama Maciel foi voto vencido, e as nossas autoridades houveram por mal comemorar a data aniversária da elevação da Vila à categoria de Cidade e não a elevação do Distrito à categoria de Município.
29 DE FEVEREIRO
Essa é a real, a verdadeira, a oficial data de aniversário de Patos de Minas. E para a real, a verdadeira, a oficial data de aniversário de Patos de Minas não há nenhuma festa, nenhum traque é estourado. Em detrimento de todos os Distritos, em detrimento de todas as povoações, em detrimento de toda a extensão territorial do Município, comemora-se única e exclusivamente um dia em que uma Vila foi elevada à categoria de Cidade. Glórias à Sede. Repúdio ao restante do Município. Eis um erro político e injusto a ser reparado.
* 1: Leia “Primeiros Forasteiros”, “A Questão dos Índios”, “A Questão dos Quilombos”, “Afonso Manoel Pereira de Araújo: O Nosso 1.º Dono”, “Carta de Sesmaria de Afonso Manoel Pereira de Araújo”, “Povoação Os Patos”, “Escritura de Doação Feita Por Silva Guerra” e “A Vida dos Pioneiros”.
* 2: Leia “Da Doação do Patrimônio à Criação do Distrito”.
* 3: Leia “Tropeiros e Cometas”, “O Carro-de-boi”, “Rebelião Contra a Vila de Araxá na Década de 1830”, “A Revolta do Formiguinha” e “Antônio José dos Santos e Formiguinha: O Patriarca da Emancipação”.
* 4: Leia “Pedido Para a Elevação de Santo Antônio dos Patos à Vila”.
* 5: Leia “Patrocínio Apoia a Emancipação Patense”, “Distrito dos Alegres se Rebela Contra a Emancipação Patense e Pede Socorro a Paracatu” e “Instalação da Vila: Reações Adversas”.
* 6: Leia “Lei que Eleva o Arraial à Categoria de Vila”, “Carta Sobre a Construção da Casa de Cadeia e Câmara” e “Instalação da Vila: A Emancipação”.
* 7: Leia “Instalação da Vila: Governo Ameaça Suprimir o Município” e “Instalação da Vila: Dificuldades Após a Oficialização do Município”.
* 8: Leia “De Vila a Cidade”.
* Foto: Br.depositphotos.com, meramente ilustrativa.