WILSON JOSÉ DE SOUZA

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DSC02702Em 16 de fevereiro de 1942, no município de Carmo do Paranaíba, Waldemiro Pinto Coelho e Maria Assunção receberam de braços abertos mais um filho: Wilson José de Souza. O pai era trabalhador rural numa fazenda na localidade de São Bento, uma vida dura cuja labuta começava de madrugada. Quando Wilson completou oito anos de idade mudaram-se todos para a Sede em busca de maiores oportunidades. Na cidade, o pai montou um pequeno comércio tipo secos e molhados. “Não tinha muita coisa, mas até que vendia bem. Regularmente meu pai matava um capado e lá ia eu entregar as peças nas casas que encomendavam. Eu ajeitava a carne na cabeça e ia carregando aquilo”.

Mesmo melhorando um pouco a condição de vida, Waldemiro considerou que precisava de mais para dar conta de criar os filhos, principalmente depois de ter recebido a notícia, em janeiro de 1959, da inauguração de um “enorme Mercado” em Patos de Minas. Era o que precisava, pensou imediatamente. Foram dez meses de preparativos, até que em novembro daquele ano chegou de mala, cuia e família já com um boxe alugado no novo “centro comercial” de Patos¹.

Após completar 17 anos de idade e o 3.º ano do primário, Wilson resolveu largar os estudos para se concentrar no trabalho de auxiliar o pai no negócio, um bar/café bem simplório que atraia boa freguesia. “Estava muito melhor pra gente do que lá no Carmo. Um dia meu pai fez uma doideira e comprou 200 abacaxis, fiado. E não é que deu certo? Assim o negócio foi se arrumando e até conseguimos comprar um fogão de 4 bocas na Casa das Representações para pagar em 60 meses”

Após cinco anos de trabalho duro, Wilson resolveu se casar com a namorada Maria Luciana de Oliveira, da Mata dos Fernandes, fato consolidado em 05 de setembro de 1964. “Não esqueço que me casei num sábado e no domingo de manhã trabalhei no Mercado até meio-dia e de tarde tinha jogo do Mamoré, então fui pra lá com uma boa quantidade de abacaxi. Todo domingo eu ia pra porta do campo, ou do Mamoré ou do URT e vendia muito abacaxi”.

Cinco anos após, já com dois filhos, Wilson foi incentivado pelo pai a ter o seu próprio negócio no intuito de melhorar a renda da família. A primeira iniciativa foi comprar um caminhão de abacaxis. “Foi muito trabalhoso, pois o caminhão ficava parado ao lado do Mercado. Então eu tinha que dormir nele para vigiar e no outro dia negociar. Cansava, mas eu vendia bem e consegui comprar uma TV preto e branco em 60 prestações numa época que poucas pessoas tinham TV, e ainda deu também para juntar um dinheirinho”. E foi com esse “dinheirinho” que Wilson, em sociedade com um tio, comprou um boxe no Mercado e montou um negócio de hortigranjeiros.

Em 1980, Wilson decidiu seguir sozinho. Vendeu ao tio sua parte no negócio e comprou de Mário Garcia o boxe n.º 16: nascia o Mercadinho do Wilson. Ao lado, era seu vizinho o renomado agrônomo Moacir Viana de Novais, que tanto contribuiu para a introdução do cultivo de trigo no município, onde o doutor vendia seus hortigranjeiros produzidos em sua propriedade rural. No outro lado, três boxes compunham o comércio de frangos da Granja Marques. Um fator primordial ajudou a deslanchar o comércio de Wilson. “Logo que iniciei na nova loja, comecei a fornecer produtos para o restaurante da Fosfértil. Foi uma fase boa demais, tão boa que o Dr. Moacir quis vender a loja dele e eu consegui comprar. Então aumentei o espaço do meu comércio”. Trabalhando de segunda a domingo, Wilson prosperou ano após ano. Quando a Granja Marques desocupou os três boxes ele alugou os três e hoje o Mercadinho do Wilson é o maior comércio do Mercado.

Wilson José de Souza é mais um dos inúmeros exemplos que começaram a trabalhar cedo e que se tornaram homens probos e contribuintes para o progresso da cidade, provando que o trabalho não faz mal a ninguém independente da idade do cidadão. Após 56 anos de Mercado Municipal (é o mais antigo comerciante), 51 anos de casamento com Maria Luciana, três filhos (Sidney, Paulo Sérgio e Adriana) e três netos, ele considera que o comércio já não é tão bom como antigamente. “Na época não tinha Ceasa, não tinha sacolão e feira-livre, os caminhões descarregavam aqui, todo produtor trazia direto pro mercado, a rodoviária era ali pertinho e o pessoal da roça sempre passava aqui antes de pegar o ônibus pra voltar”.

De todos os planos econômicos produzidos pelo governo, Wilson conta que apenas no tempo do Collor, com o confisco da poupança, foi que teve algum prejuízo. Uma clientela fiel é a marca principal de seu comércio. Considera-se um autêntico patense e não esconde de ninguém o seu amor pelo Mercado Municipal. “O Mercado é minha vida, todo dia estou aqui. Quando não abre fico inquieto, não consigo ficar muito tempo em casa. Então vou pra porta do Mercado, pois sei que lá encontrarei muitos amigos para um bate-papo saudável”.

* 1: Leia o texto “Mercado Municipal de Patos de Minas: Histórico da Origem”.

* Texto e foto (15/12/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

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