COLÉGIO MARISTA – HISTÓRICO DA ORIGEM

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MARISTA 1Na década de 1940 faltavam escolas particulares para atender a parcela da sociedade detentora de recursos financeiros, obrigando os pais a encaminhar seus filhos para outros centros urbanos como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Patrocínio, Araxá e Uberaba. Em 1948, as Irmãs Sacramentinas assumiram o antigo Ginásio Municipal de Patos de Minas¹ e a cidade passou a contar com um importante educandário para orientar as moças. O local passou a se chamar Escola Normal e Ginásio Nossa Senhora das Graças. Assim, a educação para os moços permanecia com o mesmo problema. De acordo com o CEM (Centro de Estudos Maristas), vários jovens de Patos de Minas foram matriculados no Juvenato São José de Mendes-RJ, como forma de suprir a educação que faltava na cidade.

Tentando suprir a deficiência, vários membros da sociedade patense se empenharam pela construção de um bom e grandioso educandário masculino para evitar o envio dos jovens a outras cidades. Vivia-se a década de 1950 do Governo JK e seu lema “50 anos em 5”. Foi quando começou a participação do Monsenhor Manuel Fleury Curado² na empreitada. Monsenhor Fleury chegou a Patos em 28 de agosto de 1952 fazendo a seguinte promessa: “… construção da nova matriz, a fundação do ginásio do sexo masculino, bem assim trabalhar para que seja criado quanto antes o tão falado bispado de Patos”. A nova Matriz ficou pronta em abril de 1955 e no mesmo ano Patos recebeu seu primeiro Bispo, Dom José André Coimbra. Faltava o ginásio.

Usando de seus conhecimentos e de sua vasta rede social, Monsenhor Fleury contou com o apoio de vários cidadãos patenses. Foram várias cartas e encontros entre pessoas envolvidas em questões educacionais de Patos e da região. Mas a batalha não era fácil, pois dependiam de todo um processo e apoio institucional da Congregação Marista, já que o valor do investimento era bastante expressivo e a manutenção de um colégio na cidade era algo bastante dispendioso para a realidade de Patos de Minas.

O Médico João Borges (pai de dois irmãos Maristas e cunhado de outros dois irmãos, já mantinha contatos com a Congregação do Padre Champagnat), recém-eleito Vereador, passou a ter participação ativa na luta pela vinda do Colégio Marista ao lado do Monsenhor Fleury. Em carta do Irmão Exuperâncio (Mendes-RJ, 19/03/1951) direcionada ao Dr. João Borges, ele reafirma a futura presença de um colégio Marista em Patos de Minas, mas com algumas ressalvas: O Colégio Marista em Patos de Minas entra em nossos planos, talvez não seja fácil de modo imediato, porque já temos compromissos imediatos em 5 cidades, onde estão se construindo colégios para os Irmãos, devendo estar prontos dentro de 2 ou 3 anos. Nós fornecemos as plantas, de acordo com o que julgamos oportuno para a cidade e também atendendo ao lugar ou configuração do terreno. Na correspondência há uma grande preocupação por parte do Irmão com a estrutura do terreno: O primeiro negócio é a escolha do local, tendo superfície suficiente para instalar o colégio, construção de pátios, dependências com horta, galinheiro, etc., e que esse terreno não fique muito distante do centro da cidade para que os externos possam facilmente chegar ao colégio.

Como bem enfatizou o Irmão Exuperâncio, “o primeiro negócio é a escolha do local”. Na tentativa de resolver o problema, Dr. João trouxe a Patos de Minas, em outubro de 1951, o Provincial Superior Irmão Mário Cristovão para escolher um local propício. Ao longo de sua permanência na cidade, o Irmão e as pessoas envolvidas no projeto enfrentaram dificuldades para encontrar um terreno adequado. Para complicar, esbarraram em questões políticas das várias facções existentes. Havia um verdadeiro jogo de interesses entre a presença ou não de um colégio Marista em Patos de Minas. Sobre este imbróglio da escolha do terreno, o Médico e Vereador escreveu uma carta ao Exmo. Pe. Antônio Rezende, datada de 18/03/1952: Em outubro de 1951 aqui esteve, a meu convite, e de acordo com os demais vereadores, o Revmo. Provincial dos Irmãos Maristas, Ir. Mario Cristovão, para se estudar e resolver o problema de um colégio em nossa cidade. Aqui chegando, corremos a cidade toda e, depois de examinados diversos pontos, tivemos uma reunião com o prefeito e vários vereadores. Surgiu a primeira dificuldade: o terreno para os Irmãos deve ser muito grande e em zona acessível ao externato, não constituindo a prefeitura a fusões de quarteirões, na zona urbana, que apenas medem de 10 a 12 mil metros quadrados. O vereador Zama Maciel propôs, que se aproveitasse o terreno comprado para colégio, e que hoje está em nome da paróquia, fazendo a prefeitura doação, à igreja, de igual área na mesma fazenda, que é terreno em comum.

MARISTA 2Sobre a questão do terreno comprado para o citado colégio, numa carta direcionada ao Irmão Roberto, datada de 05/05/1976, Monsenhor Fleury escreveu: O terreno para o dito colégio foi adquirido por mim, mediante compra que fiz do Sr. Aurélio Caixeta de Mello e sua Senhora D. Henriqueta, pela importância de quarenta contos de réis, quantia esta que consegui da tesouraria da Matriz Nova, em construção, de maneira emprestada, que depois foi paga com rendas de festas religiosas. O terreno para o colégio, que havia sido adquirido para esse fim, durante a minha ausência de Patos (1948-1952), sendo vigário o Padre Alaor, foi por ele anexado ao patrimônio do futuro bispado de Patos. Depois que voltei a Patos, após a morte do Padre Alaor, tendo sido resolvido a vinda dos Irmãos Maristas, juntamente com o Irmão Júlio Batista fomos a D. Alexandre (Bispo de Uberaba) pedir lhe fazer voltar à fundação do Colégio o dito terreno, o que se deu lá pelo ano de 1953. Então foi passada outra escritura de doação à congregação dos Irmãos Maristas.

Em carta do Irmão Mario Cristovão para o Dr. João Borges, datada de 10/12/1952, ele ressalta: A escritura de doação deverá ser dada à União Brasileira de Educação e Ensino (nossa sociedade civil), registrada em Mendes. Uma vez de posse do terreno providenciaremos para uma demarcação e cerca de modo a afastar possíveis interesses.

Malgrado os vários diálogos e promessas entre os Irmãos Maristas e o Dr. João Borges, o mesmo não estava completamente satisfeito, pois ele sabia que era extremamente importante aliar a construção de um colégio em Patos de Minas a alguma agenda política. Para tanto, em 12 de dezembro de 1951 encaminhou uma carta ao Dr. Murilo Eugênio Rubião (Advogado e Chefe de Gabinete do então Governador de Minas Juscelino Kubitschek), onde expôs a grande necessidade de investimento educacional na cidade enfatizando que “a falta de uma estrutura adequada da educação patense irá refletir no futuro de muitos rapazes aproveitáveis”. Dr. João escreveu: Está escolhido o terreno, a Câmara já aprovou uma lei dando isenção de taxas e impostos municipais. Mas como o orçamento da obra projetada deverá alçar a mais de 5 mil contos, não serão iniciados os serviços sem um auxílio pecuniário, que a Câmara não poderá dar. E destacou a necessidade da urgência na resolução do caso pela presença de outros pretendentes: O Revmo. Provincial Irmão Mário Cristovão, já esteve em Patos, escolheu o terreno, e está esperando a palavra do governo para resolver entre Patos ou Goiânia, que está oferecendo vultosas doações. São Paulo, Paraná e agora Goiás, não poupa sacrifícios para conquistar um colégio Marista.

Apesar de toda argumentação e articulação política presente na correspondência, o respectivo edil não poderia dar como certo que o Governador de Minas Gerais atenderia o seu pedido. Justamente por isso o mesmo intima o Governador a tomar uma providência, pois o que “desejam os patenses, agora, apenas uma promessa do Exmo. Governador sobre a modalidade do auxílio, a um entendimento direto com o Revmo. Irmão Provincial, para que seja providenciado o levantamento da planta”.

Em meio a todas as questões políticas e ideológicas que permeava a construção de um colégio Marista em Patos de Minas, Dr. João Borges publicou em 1954 um artigo intitulado “Um Colégio em Patos de Minas”, onde expressa e reafirma que o colégio virá e em grande estilo para Patos, independentemente da existência de grupos contrários. O artigo funcionou como uma carta-manifesto onde ele optou inicialmente por enfatizar que uma cidade sem um colégio que ensine com qualidade está fadada ao fracasso, pois o conhecimento é tudo. Afirma ainda que não poderia ser somente um colégio, mas um bom e católico que pudesse dar direcionamento e preparar a juventude patense para uma vida de bastante virtude e entusiasmo.

Voltando à questão do terreno, Monsenhor Fleury já havia adquirido uma área. Numa reunião da Câmara, o Vereador Zama Maciel propôs que a Prefeitura doasse outra área contígua de dimensão igual. Sobre as dificuldades enfrentadas e essa doação comenta o Dr. João Borges em sua carta: Há mais de dois anos vimos anunciando e dando conta do povo, através do legislativo municipal, dos passos para a consecução de um colégio Marista em nossa terra. Conseguimos trazer, até aqui, o Revmo. Superior Provincial, por duas vezes. Dificuldades diversas, como terreno apropriado, falta de irmãos em número suficiente e, ultimamente, o encarecimento da mão-de-obra, tudo isto tem concorrido para se protelar o início das obras. Conseguimos, na Câmara, a doação de um terreno que se pode considerar inexistente, porquanto dependente da divisão da fazenda Limoeiro, cousa considerada impraticável.

A carta-manifesto do Dr. João Borges surgiu efeito. Já era possível visualizar as primeiras movimentações para a construção do colégio. Era comum encontrar cotidianamente os irmãos Maristas na cidade, principalmente o Irmão Júlio Batista (Economista e Construtor). Após a adequada análise do terreno, o Irmão Júlio começou a elaborar a planta da construção e em pouco tempo a mesma estava pronta e preparada para dar início à construção. Tudo caminhava bem, apenas alguns ajustes e detalhes para adequar e aproveitar todo o terreno do colégio, pois era uma preocupação dos Irmãos Maristas construírem um colégio que pudesse ser utilizado por várias e várias gerações de Patos de Minas e região. Assim, no dia 03 de março de 1957 teve início a construção do Colégio Marista em Patos de Minas, tendo como engenheiro responsável Theofredo Borges, como empreiteiro o Sr. João Batista dos Santos³ e como Supervisor o Irmão Júlio Batista.

Em dezembro de 1958 já era possível visualizar o colégio no final da Rua Major Gote (que terminava na hoje Praça Champagnat). Era definitivamente a concretização de vários anos de luta e espera por esse momento. Em correspondência do Irmão Júlio Batista ao Dr. João Borges, de 19/12/1958, ele relata o nome do primeiro diretor e o nome do colégio: Tenho o prazer de comunicar-lhe que já foi escolhido o 1.º Diretor do Ginásio Nossa Senhora de Fátima. É o Ir. Paulo Egídio, que serviu em Colatina seis anos. Está de parabéns o nosso ginásio, pois o irmão, além de ser excessivamente trabalhador é ótimo religioso.

No início de 1959, a estrutura prestes a ser inaugurada era de impressionar, o grande destaque naquele espaço da cidade pouco povoado. As simetrias do traçado da cidade apontavam em direção ao colégio, como que lhe saudasse com boas vindas. No outro lado, direcionando o traçado da Avenida Getúlio Vargas, a Catedral de Santo Antônio, local de grandes homens religiosos, responsáveis pela construção do colégio.

Já quase pronto para a tão esperada inauguração, no dia 06 de janeiro de 1959 toma posse o primeiro Diretor, Irmão Paulo Egídio (Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo). Tudo caminhava muito bem. O prédio, os pátios, os móveis e as salas de aulas estavam quase adequados para o funcionamento. Cabia no momento cuidar da estrutura legal dos cursos. O projeto inicial contava com somente o curso primário e ano preparatório para o exame de admissão ao curso ginasial. No entanto, a procura pela comunidade patense de novas vagas e turmas superou as expectativas dos Irmãos, o que os obrigaram a mudar essa proposta inicial. Um requerimento datado de 21 de janeiro de 1959 do Prefeito Genésio Garcia Roza e do Irmão Egídio ao Sr. Cristiano Barsante (Diretor Seccional do Ensino Secundário – Uberaba), solicitou mudanças significativas para o primeiro ano de funcionamento. As respectivas mudanças solicitadas vinham de encontro com a proposta do projeto educacional dos Irmãos Maristas para a cidade de Patos de Minas, que era de equipar e estruturar um ensino ginasial masculino na cidade. Com a finalidade de acompanhar o processo de autorização e funcionamento dos cursos, o Irmão Diretor Paulo Egídio viajou para Uberaba a fim de obter resposta de seu requerimento sobre a possibilidade de funcionamento do curso ginasial. O sucesso foi tanto que em 12 de fevereiro foi realizado o primeiro exame de admissão, contando com 50 meninos.

MARISTA 3Internamente os preparativos para o início do ano letivo estavam a todo vapor com a instalação das respectivas carteiras destinadas aos alunos, num total de 200. O altar da capela, a via sacra, os bancos e a nomeação do Pe. José Bento Guimarães como Capelão do Ginásio Nossa Senhora de Fátima completava a estrutura religiosa, o que permitiu a realização da primeira missa no nobre recinto no dia 18 de fevereiro de 1959. Nesse mesmo momento era possível observar o terreno interno do ginásio todo arado e preparado para o cultivo, pois como era de costume dos Irmãos Maristas, todos os espaços em suas unidades vocacionais deveriam ser aproveitados para poderem cultivar produtos utilizados em seus cotidianos.

No final de fevereiro a comunidade fundadora do novo colégio já havia assumido os seus respectivos postos de trabalho. Para a administração, ficaram responsáveis: Irmão Paulo Egídio de Azevedo (Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo), Diretor; Irmão Boaventura Maria (José Henrique Pereira), Vice-Diretor; Irmãos Cláudio Francisco (Claudino Falchetto) e Pedro Jorge (Pedro Zandonaide). Para o pré-juvenato, Irmãos Maurício Xavier (Anésio Pereira Mendonça), Gabriel Dell’Adolorata (Walter de Biase da Silva Filho) e Rômulo Vital (Astrogildo de Oliveira Dutra). Foi nomeado Zama Dias Maciel como 1.º Inspetor.

O Corpo Docente – Português: Maria de Lourdes Caliman, José Henrique Pereira e Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo; Francês: José Henrique Pereira e Paulo Correia da Silva Loureiro; Inglês: Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo; Latim: Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo e José Henrique Pereira; Geografia Geral: Paulo Correia da Silva Loureiro e Astrogildo de Oliveira Dutra; Geografia do Brasil: Astrogildo de Oliveira Dutra; História do Brasil: Astrogildo de Oliveira Dutra; História Geral: Astrogildo de Oliveira Dutra e Octaviano Evangelista de Araújo Azevedo; Matemática: Paulo Correia da Silva Loureiro e Maria de Lourdes Caliman; Ciências: Astrogildo de Oliveira Dutra; Desenho: Dagmar de Oliveira; Trabalhos Manuais: Dagmar de Oliveira; Canto: Irmã Maria da Natividade Araújo Monteiro; Educação Física: 1.º Sargento Instrutor do Tiro de Guerra Haroldo Batista.

Enfim, em 02 de março de 1959, ocorreu a inauguração do Colégio Marista de Patos de Minas, sob a denominação de Ginásio Nossa Senhora de Fátima. Tudo ocorreu de forma tranquila e sem alarde, como afirmou o Monsenhor Fleury: … foi iniciada a construção sem barulho algum… outrossim, o colégio foi instalado sem festa, modestamente, como as obras de cunho cristão.

* 1: Leia “Grupo Escolar de Patos” e “Ginásio Municipal de Patos”.

* 2: Leia “Monsenhor Fleury”.

* 3: Com apenas o segundo ano primário, o empreiteiro João Batista dos Santos iniciou cedo sua carreira no ramo da construção civil. Ele aprendeu a ler e a escrever depois de adulto, tomando aulas particulares com a falecida professora Ordalina Vieira, uma das responsáveis pela criação da Fenamilho. Trabalhou como servente de pedreiro na construção do prédio da Sociedade Recreativa Patense, nas obras do Hospital Regional Antônio Dias, Edifico Ponto Chic e Hotel Magnífico, entre outras. Foi o construtor responsável pelas obras do Mercado Municipal, Colégio Estadual, pelo antigo Colégio da Penha (atual Tiradentes) e pelo Colégio Sílvio de Marcos. Tem ainda no seu currículo a construção do Edifício Paranaíba e do edifício do Cine Tupã. E ainda foi o responsável pela abertura da Rua Maranhão, onde construiu toda infra-estrutura urbana, como meio-fio, rede de escoamento pluvial e instalou os postes de iluminação de energia elétrica.

* Fontes: Colégio Marista – Patos de Minas/1958-2008; Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca;

* Fotos: Arquivo Colégio Marista, numa gentileza de Edson Alves (Vice-Diretor Administrativo)

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