TEXTO: JORNAL MUTIRÃO (1977)
Andando pela mais bela e florida avenida da cidade, a Getúlio Vargas, com seus belos jardins e casas, encontramos ali, bem em frente a antiga Escola Normal, o busto do Presidente Olegário Maciel, homenagem a um político mineiro, Presidente de Minas e, defensor da Revolução de 30 que levou Getúlio Vargas (o nome da avenida) ao poder.
Andando mais alguns quarteirões encontramos com uma figura muito conhecida bem em frente a escola Dr. Marcolino de Barros. É o Pato Donald, herói dos quadrinhos do Walt Disney. Antigamente estava de pé e pescando num pequeno tanque; agora o tanque secou e o Pato sentou. Mas porque estaria ele bem em frente à escola? Seria uma homenagem aos escolares Patenses? Por que ele está ali, não sabemos, mas não deve ser uma homenagem aos escolares, por que afinal de contas este pato vestido de marinheiro não é ao menos um cara inteligente (?). Além do mais o Donald representa muito bem o que é a influência da cultura americana (invasão cultural), como se já não bastasse de tanta música, tanto filme, tantas palavras no nosso dia a dia, a condicionar as nossas cabeças e que contribui efetivamente para a alienação das crianças e adolescentes cá da nossa terra.
Mas seja qual for o propósito ou o despropósito da presença do Donald na praça, muito mais justo seria colocar no seu lugar um personagem da nossa literatura infantil, e ninguém mais representativo do que o Visconde de Sabugosa, personagem de Monteiro Lobato, um dos grandes escritores de literatura infantil do Brasil, além de ser um ardoroso defensor de nossa cultura e dos interesses nacionais.
Viria muito a propósito, para despertar o interesse nas nossas crianças para lerem Monteiro Lobato e conhecerem um pouco da nossa terra, das nossas lendas, da nossa gente, em fim da nossa realidade. Além do mais o Visconde combinaria muito com um dos produtos mais ricos da região, o milho. O Visconde é o próprio milho. E o Donald, o que é? É o que ele representa, um comedor de milho, um comedor das nossas riquezas.
Pois é, não podemos deixar esse Pato intruso comer o nosso milho, não podemos deixar ninguém levar as nossas riquezas, que ele, aquele lavrador do quarteirão seguinte, dá um duro para lavrar a terra, plantar, capinar, colher e fazer a razão de ser de muita gente boa que vive às suas custas ou nas suas costas.
* Fonte: Edição de maio de 1977 do jornal Mutirão, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Waltdisneystudios.com.
