A decisão do escritório regional do Inamps de limitar o número de cotas para internações hospitalares, pegou de surpresa os hospitais de Patos de Minas, deixando-os extremamente preocupados, diante do pequeno número para este tipo de atendimento médico.
Com a fusão do INAMPS, agora incorporado pela Secretaria de Estado da Saúde, que a nível de Minas Gerais estará delineando o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, o Estado é quem determinará a necessidade da contratação de leitos hospitalares, para complementar sua rede que, diga-se de passagem, é extremamente reduzida.
Para Patos de Minas foi autorizado um total de 971 cotas, assim distribuídas: 199 cotas para o Hospital Nossa Senhora de Fátima, 254 para o Vera Cruz, 256 para o Hospital Imaculada Conceição e 262 para o Hospital São Lucas.
Segundo o chefe de medicina social do INAMPS em Patos de Minas, Ademar Antônio Caixeta, este número é bastante reduzido e não atende a necessidade da realidade de Patos de Minas, que é no mínimo 50% maior do que estes números autorizados.
Além do mais, ressalta o médico, diante desta circular, não é possível aumentar, pelo menos por enquanto, o número de internações pelo INAMPS. Ele espera que a Superintendência possa de maneira urgente, reavaliar esta decisão. Até lá, Ademar aconselha que os pacientes que necessitem de internamento e não possam pagar, que procurem o Hospital Regional.
O diretor do Hospital São Lucas, Antônio Vieira Caixeta, afirma que este é um problema muito difícil, pois quando chega um paciente em estado grave, não é possível negar atendimento a esta pessoa.
Indignado com a publicidade veiculada pelo governo afirmando que “Saúde é direito de todos – Tudo pelo social”, Antônio Vieira Caixeta salienta o contraste, quando se toma uma decisão de forma verticalizada, sem conhecimento pleno da realidade regional, como é o caso de Patos de Minas.
No Hospital São Lucas, dono de 262 vagas para internamento por mês, este número na verdade é preenchido em cerca de 15 dias. A necessidade, portanto, é de que houvesse pelo menos mais 100% de cotas para internações hospitalares.
Para Vieira Caixeta, é muito “fácil ditar as normas do Rio de Janeiro e de Brasília, mas sem conhecer a realidade, sem viver esta realidade” enfatiza o diretor do São Lucas. Para ele, o Hospital Regional não suportará o número expressivo de doentes que será encaminhado para internamento naquele nosocômio. O diretor aconselha que os pacientes devem então procurar o médico, ao sintoma de qualquer doença, para evitar o internamento.
O diretor do Hospital Vera Cruz, Dr. Alirio Martins, destacou que a Associação dos Hospitais de Minas Gerais está tentando mudar este quadro, mas que há uma informação de que o governador Newton Cardoso teria recomendado o cumprimento irrestrito destas novas orientações.
A Memo-Circular de n.º 512-000.0/193, estabelece que os hospitais que mantivessem convênio com aquele órgão para internações hospitalares deveriam obedecer o critério estipulado em termos de números de cotas. A cota do Vera Cruz é atualmente de 254 internações/mês, que são preenchidas nos primeiros 15 ou 20 dias de cada mês.
Alirio Martins informou que os diretores de hospitais fizeram uma reunião para avaliar o quadro, que afeta não só os hospitais, mas principalmente a população beneficiária do INAMPS.
Para o diretor do Vera Cruz, três aspectos devem ser observados: o beneficiário que contribui para a Previdência, para evidentemente ter direito a um atendimento médico-hospitalar digno, a empresa hospitalar e o governo, através do INAMPS. Para ele, a intenção de um médico e de um hospital é de prestar um bom atendimento, mas como “vivemos num país capitalista, é claro que visamos a remuneração condigna”, enfatiza.
Martins ressaltou que a Associação de Hospitais de Minas Gerais está tentando junto ao INAMPS reverter este quadro, mas se acaso não conseguir, a população será uma vez mais lesada em seus direitos, e o que é pior, num de seus mais básicos, que é o direito à saúde, concluiu.
* Fonte: Texto publicado na edição de 30 de julho de 1988 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Tributoaocordel.blogspot.com