Patos, este ninho abençoado, sito em zona de uma fertilidade exuberante, a pouco e pouco evolue, como innumeras outras cidades mineiras, muito embora não disponha ainda de melhoramentos importantes, mas que fatalmente hão de vir, quaes sejam estradas de ferro e de rodagem, telegrapho, etc. pois, a comarca (jà me não refiro só ao municipio) possue riquezas inestimaveis, elementos de real valor.
E desde que esta evolução jà se faz sentir, desde que esse progresso jà constitue uma doce realidade entre nós, forçoso è convir que a cidade se resente de alguns senões, defeitos que devem desapparecer à bem de sua civilisação.
É o caso por exemplo que está dando logar à estas linhas.
Ouve-se diariamente nas ruas e praças da cidade um infrene ladrar de cães, quando não o seu uivar tetrico e pavoroso, produzindo em nossos nervos choques tremendos, dolorosa electricidade…
Se o bondoso e respeitavel ancião que exerce o espinhoso cargo de fiscal da cidade, procurasse ouvir, escutando especialmente à noite, esse gritante concerto de dezenas de cães, talvez se abalançasse a, dahi por diante, prender e exportar para outras plagas, esses molestantes músicos…
N’esta cidade se os vê em todos os seus cantos e recantos. Realmente, se se vai á Egreja fazer penitencia para desconto dos nossos peccados, os nossos joêlhos já não padeceriam de callos se se quizesse fazer travesseiros dos cães que lá se encontram; vai-se ao cinema para se não perder de todo a noção do bom e do bello, procurando-se na projeção das bôas fitas, as sensações que se experimentam nas grandes cidades, lá estão os cães a passar pelas pernas da gente por sob os duros bancos (consta que o nosso presado amigo coronel Arthur pretende em breve remontar essa cassa de diversões), presenteando-nos com pulgas e outras immundicies; procura-se uma outra distração qualquer, no bilhar, no vispora, etc, a mesma canzenza! Já parece reinar, n’isso, a influencia … hermectica da Urucubaca!…
Se pelo menos tivessemos lindos cães, á semelhança dos terra nova setter inglez e outros que são o orgulho de seus donos que os trazem sempre com mimo e o maior asseio, vá! Esses seriam dignos de receber por occasião de sua morte uma sepultura em cemiterio proprio ou mesmo mausoleo, como jà os tem Pariz e Montevidéo…
E quem que, possuindo um desses animaesinhos, companheiro tão fiel, amigo tão caro, e vendo-o morrer, não se anoja, não lhe faz um monumento que lhe alimente as saudades?!…
Mas os cães desta cidade?!…
Estes só servem para guardar chacaras e quintaes, conservando-se presos para não disputarem presas humanas e não emvergonharem as familias…
* Fonte: Texto publicado na coluna “Pela Cidade” (assinado por Pimpim) da edição de 17 de abril de 1915 do jornal O Riso, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Fotos.noticias.bol.uol.com.