Uma das primeiras coisas que os forasteiros observam, ao tomarem pela primeira vez, contáto com Patos de Minas, é a ausência de árvores em suas ruas, praças e avenidas. Há alguns anos atraz, por circunstâncias várias, esta falta não era tão sentida. Hoje, porém, transformou-se numa premente e iniludível necessidade, dado o grande aumento da densidade demográfica por área e em geral da cidade.
O enorme surto de construções, em Patos de Minas, está acabando com os grandes e tradicionais quintais que eram verdadeiras chácaras, tal o número de árvores frutíferas e as dimensões de suas áreas. Êstes terrenos que antes eram ocupados por árvores, agora são ou estão sendo (ou ainda serão) ocupados por construções. E em consequência das causas já expostas e principalmente pelo advento do asfalto, o calor em Patos de Minas está se tornando verdadeiramente senegalesco.
O clima de nossa região é, normalmente, quente. Mas nos lugares onde há abundância de árvores e vegetação êle se torna temperado. Na cidade, todavia, pelo acúmulo de casas e edifícios, pela carência de árvores e pela grossa e pesada camada de asfalto que a recobre em grande parte, a temperatura – durante o verão – tornou-se extraordinariámente elevada. Nesta época, com o sol a pino, o calor na cidade fica pouco menos que insuportável. E não precisamos fazer literatura barata, falar em “disco rútilo do Sol”, no “Astro Rei dardejante suas incendiadas setas”, para tentar provar o que dissemos, ou melhor, para demonstrar que o calor aqui está ficando de doer, porque – como diria Gilberto Alencar – ao fim e ao cabo, isso está mesmo na cara.
É mister, pois, que a cidade seja arborizada. Serviço êste, que deve ser urgente e impostergávelmente realizado. Patos de Minas ressente-se excessivamente desta falta. O povo clama, pede, exige que essa enorme lacuna seja preenchida, que êsse grande mal seja sanado, que essa grave falta seja finalmente suprida, ou em outras palavras, que a arborização, sem delongas de nenhuma espécie, seja feita. É preciso que êsse mal que cada vez mais se agrava, ou seja, o calor cada ano mais forte e sufocante, seja combatido, seja atalhado, seja destruído, ou quando mais não seja – pelo menos – paralizado, detido, refreado.
Para impressionar e também para reforçar os nossos argumentos a favor da arborização da cidade, poderíamos parafrazear aquêle dito famoso com relação às saúvas e o Brasil, cometendo uma frase – de bombástico efeito – mais ou menos assim: OU PATOS ACABA COM O CALOR OU O CALOR ACABA COM PATOS. Mas isso ficaria “meio” exagerado e nós outros não gostamos disto. Assim preferimos falar sôbre a notável influência que a arborização teria na estética da cidade, posto que seria para ela um magnífico ornamento, um singular embelezamento.
Seria reunir o útil ao agradável e – como repetiria infalivelmente o meu amigo Dr. Mário da Fonseca Filho – o agradável ao útil. Enormemente útil e duplamente agradável, porque a arborização tanto nos servirá para dar-nos sombra boa e amiga e amenizar da cidade o clima, como para confortar e alegrar os nossos olhos com a visão das reverdescentes alamedas de floridas ou refolhadas árvores. Com o que termino mais um quase emocionante capítulo do meu cíclico e épico SERMÃO AOS PEIXES…
* Fonte: Texto publicado na edição de 1.º de janeiro de 1955 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Biologiahoje.wikispaces.com, meramente ilustrativa.