PELA CRIAÇÃO DO PARQUE DO JUCA SANTANA

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

A derrubada da mata do Juca Santana¹, em passado recente, foi a coisa mais lamentável já acontecida à cidade, em termos ecológicos, pois nos privou de uma esplêndida floresta natural, banhada por um curso d’água e com uma pequena lagoa em seu interior. Além de árvores de porte, inclusive numerosas madeiras de lei, a mata dispunha de rica vegetação de sub-bosque, como acontece com as florestas naturais da região.

Numa época em que o lazer estava longe de atingir a dimensão de hoje, muita gente a usava para pic-nics nos fins-de-semana. O acesso ao seu interior era bastante facilitado por um caminho que terminava numa espécie de praça, dentro da mata, ao lado da qual ficava o ponto inicial do serviço de captação d’água para a cidade e que reforçava a captação do Limoeiro. Nas caminhadas pelo interior da mata muitas vezes podiam-se ver bandos de micos brincando no alto das árvores.

Para os meninos e adolescentes, havia uma atração extra: longos cipós, nos quais todos adoravam balançar-se à maneira de Tarzã – popularíssimo à época. Eu mesmo fiz isso várias vezes, com um grupo de companheiros. (Essa prática era fortemente estimulada pelos filmes de Tarzã. Por isso, quando nossos cinemas exibiam um seriado desse herói, nossas ruas também mostravam um número maior de braços gessados).

Colada à cidade, que hoje invade o seu outrora verde recinto, a mata tinha tudo para ser o nosso Parque Municipal. Um Parque que, certamente, daria mais verde, beleza e lazer à cidade, além de contribuir para melhorar o seu micro-clima, e que hoje poderíamos exibir, orgulhosamente, aos visitantes.

Infelizmente, a mata foi derrubada, ante a assustadora indiferença da população, inconsciente do magnífico patrimônio que perdia. Agora não adiante chorar sobre o leite derramado – exceto para avivar a consciência de todos, visando evitar a repetição de fato tão lamentável.

Refazer a mata é impossível, pois sua área original está quase toda loteada e uma parte já edificada. Mas ainda é possível criar-se um Parque ali, juntando-se o último pedaço da mata primitiva e o Clube Mocambo². A primeira área, com quase 16 hectares, pertencente ao Município, foi reservada justamente para a criação de um Parque, creio que à época da elaboração do Plano Diretor da Cidade, no governo Waldemar Rocha Filho. A segunda, correspondente ao Clube Mocambo, com 30 hectares, pode ser facilmente incorporada ao Parque, por compra, troca de terrenos e, em grande parte, através de doações de cotas, por parte dos atuais cotistas que, assim, teriam oportunidade de contribuir para dotar a cidade de uma bela área pública de laser. A começar por mim, que doarei, com muito prazer, minha cota à Prefeitura para a formação desse Parque.

Afinal, com isso a cidade ficará mais rica e ninguém ficará mais pobre. (Falo, evidentemente, dos que possuem apenas uma cota e não dos poucos que possuem partes maiores do Clube, com os quais a Prefeitura terá de negociar).

A junção dessas duas áreas – ainda que separadas por uma rua – certamente permitirá a implantação de um belo parque, que contará – de início – com um trecho de mata natural e um lago artificial, e onde poderá ser gradativamente construída uma série de equipamentos de lazer, como campos de esportes e “play ground”, com balanço, escorregadores, gangorras etc. para a diversão da garotada.

O lago, de água corrente, poderá ser usado para a prática de natação como acontecia no Clube antes de sua paralização – desde que resolvidos os problemas de segurança. De qualquer forma, ali poderiam ser usados pedalinhos.

Junto ao mato remanescente, que poderá ser enriquecido com o plantio de variadas essências nativas, incluindo frutíferas silvestres, para a atração das aves, poderão ser colocados mesas e bancos rústicos para os frequentadores.

Na mesma área poderia ser criado um pequeno Jardim Zoológico, com bichos e aves da região – a começar pelos herbívoros, sempre mais fáceis de tratar. Além da atração representada para o público em geral e do valor instrutivo para os estudantes, esse Zoo constituiria um meio de preservar nossa fauna, a cada dia mais devastada.

Nesse sentido, o primeiro passo seria inventariar nossa fauna – inclusive alada –, para determinar-se o que ainda temos e o que já não temos. Depois de implantado o Zoo, sob a orientação de especialistas no ramo, certamente poderíamos resgatar vários espécimes desaparecidos na região com a ajuda de outros Zoológicos. Uma série de viveiros de aves seria fundamental, para maior encanto do Zoo – inclusive pelo variado colorido e o gostoso alarido das aves.

O Zoo, naturalmente, poderia ser continuadamente enriquecido com o passar do tempo, através de doações de fazendeiros e de outros Zoológicos. E até mesmo ser mais tarde deslocado para um Parque maior, também a ser criado.

No momento, entretanto, o que está em causa é a criação do Parque focalizado, juntando-se, para este fim, o último trecho da antiga Mata do Juca Santana e o Clube Mocambo. Sem dúvida, sua criação será festivamente recebida pela cidade, tão carente de áreas públicas de lazer.

* Fonte: Texto publicado na coluna “Política” da edição n.º 80 de 15 de novembro de 1983 do revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Mata do Parque do Mocambo, de Patos1.com (06/11/2013).

* 1: José de Santana, o Juca Santana, foi fazendeiro, juiz de direito substituto, promotor público, vereador e delegado. Filho mais novo de Joaquim José de Santana e Amélia Augusta de Santana, possuiu boa parte da área urbana de Patos de Minas. Morava com sua esposa Mariana Augusta da Silva (Sinhá) numa imensa chácara vizinha à Praça Santana (do Mercado Municipal), atrás onde hoje se localiza uma distribuidora de bebidas, que os amigos chamavam carinhosamente de Chácara do Seu Juca. Uma imensa mata naquelas imediações fazia parte de seu patrimônio. Tinha tanto que doou, por exemplo, as áreas para as construções do Hospital Regional, Matadouro Municipal (na Rua Major Gote aproximadamente onde hoje está o Banco do Brasil) e Grupo Escolar Marcolino de Barros.

* 2: Leia “Parque do Mocambo e Sua Eterna Luta Pela Sobrevivência”.

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