OPINIÃO DO DR. JOSÉ RIBEIRO SOBRE A FENAMILHO

Postado por e arquivado em FESTA DO MILHO.

A edição n.º 31 da revista A Debulha, de 31 de agosto de 1981, publicou uma entrevista realizada com o Dr. José Ribeiro de Carvalho¹, que acabara de assumir a presidência do Sindicato Rural de Patos de Minas. Ele comenta sobre o novo desafio e metas a serem cumpridas em favor dos ruralistas. Como não poderia deixar de ser, o assunto Festa Nacional do Milho foi abordado:

Apesar de seus esclarecimentos anteriores, não é possível falar em Sindicato Rural, sem pensar na Festa do Milho. Existe alguma idéia para a próxima Festa?

Só existe por enquanto, uma conversa inicial, sobre a possibilidade de realizarmos aqui, um Festival Nacional de Música Sertaneja. O Oswaldo Amorim, que está como Diretor da Empresa Brasileira de Notícias (EBN), está nos ajudando; ficou inclusive de trazer aqui, pessoas para tratar do assunto. Acho isso espetacular, pois se conseguirmos, liquidaremos de vez, com o problema de shows, que é o que mais onera a Festa. O povo verá isso, pois vou publicar brevemente, o balanço da última Festa, que sempre foi feito rigorosamente em dia. Não conheço ninguém mais organizado que o Pedro¹, neste aspecto; ele não tem publicado os balanços por “birra” e raiva dos comentários, já que não existe a obrigação dessa prestação de contas. Além disso o Festival chamará a atenção de todo o país e estaremos dando ao nosso povo o que ele gosta, pois temos de nos orgulhar de ser caipiras e viver como tal, o que é muito gostoso e é de nossa índole. A Festa do Milho é do caipira e quem não quizer ser caipira, que não participe dela. Meu pensamento inclusive, é de que os bailes da Festa do Milho, sejam no estilo caipira, o que é muito mais divertido e fica mais barato para todos, em termos de roupas e outras coisas. Posso até ser criticado pela sociedade, mas pouco me importo com isto. Temos também, um plano de construir lá no Parque, um galpão grande e fechado, com estrutura metálica, para realização de shows, bailes e outras coisas, em recinto fechado. Não sei se isso será possível para a próxima Festa, pois é uma coisa muito cara².

Tem se falado muito na possibilidade de realizar duas festas distintas, uma da cidade e outra do Parque. O que você acha da idéia?

Se voltarmos um pouco atrás, antes da existência do Parque, vamos ver que o que tinhamos na cidade eram os desfiles dos carros alegóricos e principalmente dos colégios. Tinhamos também, alguns shows que eram feitos na rua e nada mais. Depois as coisas foram ficando muito caras, os colégios deixaram de apoiar, alegando custos altos das alegorias e desinteresse dos alunos. Aliás, felizmente, neste ano, o desfile estudantil já melhorou demais. Acho que a festa da cidade pode ser feita na mesma semana com uma programação bem feita e com entrosamento entre as duas coisas. O Parque é a fonte de renda para pagar a festa. Antigamente nós conseguíamos verbas do Ministério, da Secretaria, do INCRA e outras, que davam para realizar a festa, juntando-se ao resultado do show da URT. A Prefeitura não dava verba nenhuma e hoje ela participa com verba bastante alta. Então, o Parque tem que fazer renda para custear a festa; há muitos erros que precisam ser corrigidos. Por exemplo, aquele problema de entrada de carros com permanentes, pelo portão do fundo, precisa acabar, porque aquilo além de “furar” demais a renda da festa, principalmente porque, só recebe cartão de permanente, quem tem condições de pagar, traz sérios problemas para quem está dirigindo a festa e é procurado para conceder cartões. Vamos acabar com aquilo definitivamente. Vamos verificar quantos carros podem estacionar naquela área e mandar fazer igual número de cartões de permanentes, que serão “vendidos” para quem quizer ter o conforto de entrar por lá com quantas pessoas quiser. É uma questão de justiça, pois volto a afirmar, entra por ali é quem pode pagar, enquanto que o de menores posses está pagando sempre. Podem estar certos de que aquilo vai acabar; doa a quem doer, porque sou o tipo do indivíduo que não me importo se falam bem ou mal de mim. Preocupo-me muito com minha consciência.

Como você veria a possibilidade de conciliar a festa na cidade e no parque, quando estando este funcionando o povo em geral se dirige para lá?

Depende muito da programação. Se houver na cidade, uma programação atraente, o povo vem. Não podemos é querer obrigar o público a ver aquilo que ele não quer. Há certas promoções que não atraem o grande público, nem que o parque esteja fechado. Há promoções para um público mais seleto. Já fui muito contrário à realização da festa anualmente, hoje já não penso assim, pois vejo que aquilo é a forma de se divertir de nosso povo, principalmente do homem do campo e do povo mais simples. É o carnaval do homem do campo. É um período em que o povão se desliga de tudo para divertir. Reclama-se que está tirando dinheiro do povo, mas é lógico que seja assim; aquele período de festa, corresponde às férias desse povo e nas férias tem-se que gastar. É por isso, que penso na construção do galpão no Parque, para que se possam levar para lá as boas promoções. Agora, o problema da cidade, é conseguir promoções que agradem ao povo, como desfiles e outras. Porque quando isto acontece, o parque pode estar aberto, que ele fica vazio e o povo desce para a cidade.

Que sugestão você daria para minorar o problema criado, principalmente para os bares e restaurantes, com o esvaziamento da cidade, durante a festa e com a exploração dos referidos ramos no parque, por pessoas alheias ao nosso comércio?

Alguns comerciantes daqueles ramos, já estão entendendo e fazendo suas barracas no parque e é o que eles precisam fazer e se quiserem, o Sindicato lhes dará preferência.

Seria possível, realizar por exemplo, aquele “Encontrão-Cantar na Praça” dentro da programação da festa, dentro do Parque?

Claro. É uma idéia excelente, para mostrarmos o que há de arte no meio de nossa gente. Valorizaremos nossa arte, nossa cultura e nosso folclore e juntamente com a realização do Festival Nacional de Música Sertaneja, resolveríamos o problema dos shows, com preços muito inferiores. Bastaria que trouxéssemos um grande artista, como Luiz Gonzaga, por exemplo, para o encerramento.

Não haveria possibilidade de se introduzir na festa, alguma prova de esporte especializado, como por exemplo, uma grande corrida pedestre, ou ciclística, alguma coisa que marcasse realmente e que viesse a se constituir em uma tradição?

É outra idéia muito boa, que estou pronto a acatar. Aguardarei sugestões e colaboração para isto.

* 1: Leia a entrevista na íntegra em “José Ribeiro de Carvalho e o Sindicato Rural”.

* Fonte: Revista A Debulha, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto: Arquivo do Sindicato Rural de Patos de Minas.

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