SESOSTRIS DIAS MACIEL (MAJOR GOTE): FALECIMENTO − 2

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De todos os sentimentos e altruisticos, que elevam e dignificam um determinado povo, é o da gratidão um dos que mais nos impressionam e nos confortam, quando sincera e espontaneamente exteriorizado, de vez que esta forma, consiste ele, e sempre, um dado imediato dos grandiosos ditames do coração daquele mesmo povo.

Assim é que, para conforto nosso, nós, povo de Patos, temos nos manifestado por várias vezes, e agora tambem pelas colunas dêste semanário, novamente manifestamos em exteriorização dos nossos sentimentos profundamente gratos, às inumeras iniciativas e realizações, encetadas e não raro levadas ao seu término com grandes êxitos, por Sesostris Dias Maciel − o nosso inesquecivel Major Gote, a quem, há pouco, a morte nô-lo roubara, deixando-nos, deveras, sobremaneira contristados¹.

Após longa jornada, por sobre caminhos que ora se nos apresentavam á semelhança de um mar de rosas, e que tambem, por outro lado, que ora se nos apresentavam com um sem numero de obstaculos, á primeira vista como que instransponivel e insanaveis, foi que conseguimos alcançar uma evolução, que bem patenteia a nosso organização segura e uniforme, e nunca falha ou incoerente, consoante o que há acontecido com sociedades outras, por vezes edificadas, em meio de séries e perenes convulsões impeditivas de uma evolução que se rumaria ao progresso, porque de construção extremamente lenta, senão decadente, carcomida e corrupta.

Durante lustros e décadas que já bem longe vão, a nossa SOCIEDADE, sempre ávida de maiores conquistas, jamais aguardára a ocasião para o Major Gote por em prova todo o seu valor pessoal, em meio aos elementos já preparados numa entrozagem sublime, para a conquista grandiosa que no momento atual lhe singe a fronte augusta.

E’ que com o seu senso atilado pelo comércio em geral, o Major gote, á nossa SOCIEDADE, emprestará sempre o sopro ardente da reforma e da transformação, despendendo assim, tão generosamente; dádivas insignes à nossa prosperidade, ao nosso conforto e a nossa existência.

E com que metodos, de indagação e aquisições práticas o fazia? Nada melhor que a imaginação dos que o conheceram no labor infrene de realizações prodigiosas, para, hoje em dia, num movimento introspectivo e silencioso, aquilatar das magnanimas qualidades espirituais e morais que o caracterizavam, e, porconseguinte, donde se lhe surgiam, em portentosas legiões que entoavam hinos ao progresso de nossa terra, aqueles metodos, aqueles processos e aquelas aquisições práticas, que só faltavam perscrutar os arcanos da natureza em nosso vasto município, no afan de desvenda-los, pelo menos, até à sua luz verde, a luz da esperança!…

Da esperança, que nos aproxima de tudo quanto almejamos; da esperança, que nos faz alheios a tudo quanto tememos!…

Mas às lagrimas do povo extremamente reconhecido e saudoso, e à vista da cruciante certeza, de que não mais vêmo-lo ao nosso lado, para nele bebermos o néctar do ímpeto vertiginoso dos grandes empreendimentos, a tudo caros leitores, a tudo isto, agora, se cegam os nossos olhos e se ensurdecem os nossos ouvidos, porque, o seu chamamento, à vida de além túmulo, fizera-o o SENHOR, AQUELE que, “ao divinal influxo de dois monossilabos, FIAT LUX, surgira a luz com todos os seus esplendores!…”

Mas, não obstante a perda irreparavel, ficaram-nos ao lado dos grandes feitos do Major Gote, as doces recordações dos nobilitantes idéais individuais e sociais, e bem assim o edificante exemplo das suas incomparaveis aspirações.

Aspirações  que de minuto, em minuto, de hora em hora, e de tempo em tempo, como que se congregavam e se fundiam, formando uma força tanto inexplicavel quanto bemfazeja, na pessoa de nosso benemérito Major Gote, que a aproveitava com a precisão matemática dos barometros, e, em aproveitando-o ele o fazia, por meio de ações, que, para nós, ainda mais o dignificam em sua memória verdadeiramente imperecivel, no presente e para o futuro.

Somos, pois, nos dias que atualmente se escoam, uma SOCIEDADE que de há muito já se compenetrára da sua alta missão, no sentido da grandeza de Minas Gerais, e no sentido da glorificação do Brasil.

Certo, porém, é que colunas mettas, construidas por cidadãos da envergadura do Major Gote, nos sustentaram e hão de nos manter sempre firmes e inabalaveis através dos tempos, porque somente assim, teremos cumprido com o dever sagrado da EXISTENCIA!…

* 1: 18/05/1864 − 11/04/1942.

* Fonte: Texto de Geraldo Magalhães publico com o título “Major Sesostris Dias Maciel” na edição de 10 de maio de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.

* Foto: Do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, batida pouco antes do embarque do Major e família com destino a Paris. Como o livro foi publicado em 1974, está registrado que a viagem aconteceu “no final do século passado”, que era o final dos anos 1800. Está bem caracterizado o costume da época em fotos de família: o “chefe” da casa e o filho (futuro chefe) sentados e esposa e filhas em pé ao lado.

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