JERÔNIMO DIAS MACIEL: FALECIMENTO

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Ante-hontem [13/08/1906], ás cinco horas da tarde, falleceu nesta cidade, victima de pertinax enfermidade que zombou de todos os recursos medicos, o nosso illustre agente executivo municipal, Major Jeronymo Dias Maciel.

O finado nasceu a 3 de fevereiro de 1831, no Arraial de Bom Despacho. Em 1857 mudou-se para esta cidade, que era ainda então Arraial de Santo Antonio de Patos. Aqui militou sempre em politica, filiado ao partido liberal, e sendo um dos braços fortes em que sempre se apoiou o seu digno irmão Cel. Antonio Dias Maciel. Como recompensa á sua dedicação pelo seu partido, foi eleito camarista, tomando assento como tal perante a Camara do Patrocinio, a cujo municipio pertencia o então arraial de Santo Antonio de Patos.

Amante deste logar, desejando-lhe o progresso, não só na ordem material como na intellectual, envidou esforços, conjuntamente com seu mano Cel. Antonio Dias Maciel para que este logar fosse elevado á villa, o que obtiveram por lei mineira de 30 de outubro de 1865. Uma vez obtida a creação em villa, realisou-se, ainda devido os seus esforços, a posse em 1868, a qual foi dada pelo Dr. Elias Pinto de Carvalho, então vice-presidente da província. Eleita a primeira Camara Municipal, foi-lhe dado o logar de seu presidente, o qual occupou com dignidade, prestando muitos e reaes serviços.

O partido liberal, ao qual sempre servia com lealdade e dedicação, não podia desconhecer-lhe os serviços, tanto assim que sempre exigiu-lhe novos sacrificios, designando-lhe cargos publicos de eleição popular, os quaes sempre desempenhava com correcção e hombridade, até ao advento da Republica. Proclamada esta, esteve afastado da politica até o primeiro triennio da vida normal das camaras municipaes, indo tira-lo deste afastamento os seus amigos, elegendo-o Presidente e agente executivo municipal, cargo que occupou até a ultima reforma municipal. No domínio desta, foi eleito vereador geral, sendo escolhido pelos seus pares para Presidente e agente executivo municipal, cargo em que se conservou até o seu fallecimento.

Alem dos cargos de eleição popular, foi tambem collector nesta cidade alguns annos, mostrando-se como tal um escrupuloso zelador do fisco. Como recompensa aos seus inolvidaveis serviços, foi nomeado Capitão da Guarda Nacional e suscessivamente  Major da mesma milicia. Entre os que militavam nas mesmas fileiras que o finado, era costume saber delle as opiniões que, alem de prudentes e ponderadas, eram ouvidas e acatadas com todo o respeito.

Si como homem publico tanto é digna de respeito a sua vida, não o é menos como homem particular e chefe de familia. Cavalheiro de fino tracto, sincero na estima, bem avisando e aconselhando seus amigos, tornava-se sempre credor da amizade e estima de todos que o procuravam. Como chefe de familia, foi o seu procedimento exemplarissimo, mostrando-se sempre bonissimo esposo, pae extremoso, cuidando com desvelo e carinho da educação de sua prole.

Deixa o finado viuva e 13 filhos, dos quaes destacamos os nossos amigos Drs. Agenor e Jacques Dias Maciel, este promotor de justiça de Leopoldina, e Jayme e Olyntho Dias Maciel, aos quaes apresentamos os nossos sinceros pezames e pedimos ser os interpretes delles deante de sua desolada familia.

O enterro realisou-se hontem com toda a solemnidade e grande acompanhamento, officiando no mesmo diversos sacerdotes.

NOTA – Há menos de um mês do falecimento, a edição de 25 de julho de 1906 do jornal O Trabalho publicou o seguinte comunicado: Acha-se enfermo soffrendo de paralysia peripherica do nervo facial o Snr. Major Jeronymo Dias Maciel. Acha-se em tratamento electrico. Fazemos sinceros votos para que o benemerito cidadão se restabeleça de tão grave encommodo.

* Fonte: Texto publicado com o título “Major Jeronymo Dias Maciel” na edição de 15 de agosto de 1906 do jornal O Trabalho, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Do livro Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

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