SESOSTRIS DIAS MACIEL (MAJOR GOTE): FIGURA IMPRESSIVA

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AQuando nossa terra se arregimenta para comemorar condignamente cincoenta anos de vida autônoma, no cumprimento exato e conciencioso de seu programa, “Folha de Patos”, vem lembrar aos moços a figura expressiva de nosso maior e mais hábil comerciante – o Major Sesostris Dias Maciel – o homem que sonhou, idealizou e realizou a ligação da cidade aos centros civilizados, construindo a Rodovia, que, por tantos anos, foi a estrada modelo em Minas Gerais.

Um dia, já la se vão cerca de trinta anos, alguem aqui chegou, trazendo na mesa de um carro de bois, um Ford primitivo e bastante usado, com intuito de auferir lucros, alugando-o, simplesmente para corridas nas ruas largas da cidade.

O Major Gotte, cofiou a sua barba, adquiriu o auto e, eminentemente prático, começou logo a construção da estrada em direção à Lagoa Formosa. Antes mesmo de terminar o trecho iniciado, rumava para Catiara.

O céticos daquela Patos pequenina de pouco mais de 2.000 habitantes, consideravam uma loucura a tentativa arrojada.

Dizia-se do automovel mais do que hoje se fala do avião. Quem haveria de deixar de fazer a viagem a cavalo até à estação, para gastar tanto dinheiro, queimando gasolina tão cara de 12 e 14$000 a caixa? Pelo menos, os roceiros não irão – era o último argumento dos pessimistas, esta casta que infelizmenteainda tem seus representantes em nosso meio. O Major Gotte, no entretanto indiferente às vozes desalentadoras dos incapazes até de aplaudir os grandes arremessos, continuou sua obra até que fez a ligação Patos-Catiara e Patos-Carmo do Paranaíba. E a cidade longinqua, encravada nas fraldas da Mata da Corda, principiou a crescer e a ser conhecida, porque as rodas encurtavam as distâncias.

E a população entusiasmou-se pelos veículos motorizados de tal maneira que, pouco tempo depois, o Sr. J. Rangel, tambem empreendedor e progressista, alcançava o primeiro logar entre os vendedores de automoveis Ford entre todos os agentes do interior do Brasil. Agora, quando o avião da Panair deslisa, ferindo o azul puro dos nossos céos, cismo comigo mesmo, no que acontecerá para o futuro? Talvez, um enxame, volitando como abelhas, ruflando as azas e ronronando motores, ha de sulcar os ares que purificam as nossas encostas.

O Major Sesostris, afastado, ha anos de suas atividades comerciais em nossa terra, ainda é o símbolo do negociante ativo e de longa visão, ainda é o exemplo, lembrado a todo instante, para edificação da mocidade, como homem do trabalho incomparavel, como realizador das grandes madrugadas.

Em 1907 iniciou êle o comércio de borracha, exportação que atingia a 6.000 quilos anuais, diretamente de Patos para o Havre, pôrto ímportantíssimo, agora, desmantelado pelas bombas da R.A.F.

Volvamos um olhar para o passado e pensemos no que de iniciativa e arrojo continha o fato de um produto nosso ser mandado diretamente à Europa, quando o transporte se fazia pelos carros de bois, que iam meses a dentro zangarreando monotonia e cruciando as almas saudosas até à estação de Abadia tão distante de nós? Por aquele tempo chegou uma estatistica curiosa do comissário naquele ponto terminal da via férrea. O Major Gotte, só, pagava mais impostos do que todos os negociantes de nossa terra, distritos e João Pinheiro reunidos. O sr. Júlio Bruno, então, incipiente e hoje abalizado comerciante, observou, com argúcia, mais tarde, que, sem ouvir de quem quer que seja, sabia da chegada do Major em Patos, pelas oscilações, altas e baixas, que se verificavam na balança comercial da cidade. A observação era justa, pois, as atividades dele se ramificavam, (…), por todos os ramos de nossos produtos, pela introdução de novos artigos e constantes melhoramentos para sua terra natal.

Seria um erro lamentável enumerar as qualidades excepcionais daquele patense de rara têmpera, sem recordar o zelo que sempre teve pela manutenção da ordem no município, o amor que devotava à instrução pública e o desinterêsse pessoal com que trabalhava pelo desenvolvimento do nosso município.

Agora que se aproxima a passagem do cincoentenário da elevação de Patos à categoria de cidade, é dever precípuo lembrar o nome de um dos que concorreram com tanta energia e desprendimento pela fundação e crescimento da cidade encantada, de casario branco, cravejada na encosta azul escura da serra adormecida.

* Fonte: Texto publicado com o título “Major Gotte: Figura Impressiva” na edição de 12 de abril de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Extraída do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca, batida pouco antes do embarque do Major e família com destino a Paris. Como o livro foi publicado em 1974, está registrado que a viagem aconteceu “no final do século passado”, que era o final dos anos 1800. Está bem caracterizado o costume da época em fotos de família: o “chefe” da casa e o filho (futuro chefe) sentados e esposa e filhas em pé ao lado.

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